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Perfil: Em entrevista, Paulo Ganime fala sobre por que entrou para a política

Eleito com mais de 50 mil votos pelo Partido Novo do Rio de Janeiro, Paulo Ganime voltou de um emprego no exterior apenas para ser candidato e é o novo entrevistado da série Perfil do Boletim da Liberdade
O deputado federal Paulo Ganime (Foto: Pablo Valadares/Câmara dos Deputados)

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Deputado Federal Paulo Ganime NOVO/RJ (Foto: Pedro Rafael/Boletim da Liberdade)

Ele se filiou ao Partido Novo morando no exterior, sem conhecer ninguém da sigla e logo no início da agremiação. Atualmente com 36 anos, pensava entrar na política aos 60, mas percebeu um movimento de renovação política e antecipou o projeto: pediu demissão da multinacional que trabalhava, fez as malas e voltou ao Brasil com o propósito de se candidatar.

Graduado em economia e engenharia, Paulo Ganime é um dos oito primeiros deputados federais da sigla liberal liderada por João Amoêdo.  Eleito pelo Rio de Janeiro com 52.983 votos, Ganime foi entrevistado pelo repórter do Boletim da Liberdade em seu gabinete em Brasília. Ao longo da conversa, que faz parte da série “Perfil” com diversos parlamentares e personalidades de Brasília, contou o que motivou a ser candidato, avalia o governo Jair Bolsonaro e faz sugestões ao presidente, fala de segurança pública e outros temas. Confira:

Boletim da Liberdade: Qual foi sua grande motivação para voltar ao Brasil e ser candidato?

Paulo Ganime: Eu sempre gostei de política, mas nunca tive nenhum envolvimento – nem nunca participei, por exemplo, de grêmio e diretório acadêmico. Sempre achei que iria entrar um dia para a política, é verdade, mas [apenas] quando me aposentasse, ou seja, mais ao longo-prazo. Aí eu comecei minha carreira e fui trabalhar: comecei minha faculdade e, depois, trabalhei em empresas como a Shell, a Michelin. Estando fora do Brasil, na França, expatriado pela Michelin, um amigo que conversava muito comigo, o Diogo, me apresentou ao Partido Novo. Ele me mandava materiais e aí comecei a acompanhar mesmo estando no exterior. Tinha tudo a ver com o que eu acreditava, desde os valores à governança do partido, aquilo tudo que a sigla prezava e pregava. Aí resolvi apoiar.

Naquela época, ainda não havia registro do partido e eu acompanhava e seguia apenas nas redes. No dia que o NOVO teve seu registro homologado pelo TSE, me filiei pensando muito que, se eu quero ajudar o Brasil e estava longe do país, havia pelo menos como apoiar um projeto bacana que fazia sentido. Não conhecia ninguém do NOVO, nunca tinha ouvido falar em João Amoêdo e nem tinha encontrado ninguém do NOVO. Resolvi apoiar, participar, pagar a mensalidade.

Em 2016, eu já tinha me mudado para os Estados Unidos, também pela Michelin, e pensei em me candidatar para vereador. Ponderei, porém, e achei que seria muito precipitado: tinha acabado de chegar nos Estados Unidos e não tinha recursos para sair, largar tudo, voltar (para o Brasil) e pedir demissão. Assim, segurei até o final do ano e então pedi demissão no final de 2016 para voltar ao Brasil, voltando em abril de 2017 já com o objetivo de ser candidato.

Considero que, se a gente quer mudar o Brasil, as pessoas que têm uma formação melhor e financeiramente uma condição de parar de trabalhar por um período para se dedicar a alguma causa, como a política, devem participar. Elas precisam pegar a liderança e tomar os rumos do país pois a política foi ocupada nos últimos anos por pessoas que queriam apenas se beneficiar e não ajudar a sociedade. Achava que precisava fazer alguma coisa e eu vi o NOVO como ferramenta ideal para isso.

Considero que, se a gente quer mudar o Brasil, as pessoas que têm uma formação melhor e financeiramente uma condição de parar de trabalhar por um período para se dedicar a alguma causa, como a política, devem participar. 

Vi que o momento que poderia ser ideal para isso, talvez quando eu estivesse com uns 60 anos, acabou se antecipando com a criação de um partido que me dava a segurança de eu entrar na politica sem estar num grupo de pessoas que eu não acreditava e não tinha os valores alinhados com o meu. Então, pelo NOVO, acredito que estarei deixando um legado para o Brasil.

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Boletim da Liberdade: Com sua experiência na iniciativa privada no Brasil e no exterior, o que acha que podemos fazer para melhorar a gestão pública do governo?

Paulo Ganime: Tem muitas práticas da iniciativa privada que são facilmente aplicáveis na gestão pública pois já são perenes na iniciativa privada, como planejamento estratégico, análise de desempenho, meritocracia, indicadores de performance, entre outras. E, quando se usa isso na gestão pública, muitas vezes é de uma forma mais sútil ou em algumas áreas apenas. Por outro lado, tem muita coisa que é ligada à decisão política e não técnica.

Uma coisa que acredito que falte – e talvez falte técnica para isso – é  que, quando vamos fazer um projeto na iniciativa privada, você analisa o retorno desse investimento. Hoje, eu vejo algumas iniciativas surgindo e não há sequer análise do retorno do projeto, ou apenas pensando na economia que ele vai gerar, e não no impacto que vai gerar na sociedade. O correto seria analisar não apenas o impacto da iniciativa mas, também, o impacto que haveria se ela não fosse feita, o que talvez pudesse melhor que fazê-la. Então temos que tentar fazer mais análise de retorno de investimento.

O retorno de investimento da iniciativa privada é diferente da gestão pública, claro. Nós precisamos, por isso, de técnica e aprender a aplica-las com mais frequência e não de gerar soluções que muitas vezes são populares, populistas e não agregam nada à sociedade, a não ser mais gastos. A questão do orçamento, por exemplo, é algo que é muito ruim no Brasil. Falta compromisso com as finanças públicas, pois acham que o dinheiro público nasce em árvore e o papel-moeda pode ser emitido a qualquer custo. Não há uma preocupação [das forças políticas] em pensar que o cobertor é curto e [que] se eu fizer essa política pública nova, eu vou estar gerando isso de despesa e isso vai tirar dinheiro de outras coisas que muitas vezes podem ter mais valor para a sociedade.

Além disso tudo, há a importância de se pensar em um plano de carreira. Tanto para motivar aqueles que querem trabalhar, quanto para evitar que aqueles que não querem trabalhar fiquem se beneficiando em cima dos outros.

Dep. Paulo Ganime fala na tribuna da Câmara (Foto: Divulgação/Câmara dos Deputados)

Boletim da Liberdade: Como avalia os 9 meses do governador do Rio de Janeiro, Wilson Witzel?

Paulo Ganime: Acho que o governo Witzel tem secretarias boas, e técnicas, que tentam fazer um trabalho adequado. Posso ver alguns indicadores melhorando, por exemplo, ligados à segurança pública e, claro, fatores positivos ligados a isso e fatores não tão bons. Vejo um trabalho na área da saúde que me parece adequado. Agora, tudo isso que eu estou falando, lembrem que sou deputado federal e, por isso, não estou analisando o dia a dia do trabalho dele, que é um papel maior do deputado estadual. Então, dito isso, falo muito mais como cidadão fluminense que se preocupa um pouco mais com a política, do que como um parlamentar estadual que analisa no detalhe.

Uma grande preocupação que precisamos ter é com o ajuste fiscal: o Rio de Janeiro entrou no pacto de recuperação fiscal e parece que ele não está cumprindo com alguns pontos acordados no pacto. Isso não é uma crítica apenas ao Witzel, pois o pacto não estava sendo cumprido desde antes, mas continua agora. Não vejo uma preocupação tão grande quanto a isso. Temos algumas medidas como a privatização da CEDAE e controlar um pouco as contas públicas, mas precisamos dar um passo maior nesse sentido. Sobre ele, acho ainda que pode ser um pouco menos exagerado em algumas comunicações. Se, talvez, fosse um pouco menos exagerado e tendencioso, conseguiríamos convergir mais e criar um resultado melhor para o Rio.

O mesmo vale para o anúncio dele como candidato a presidente da República. Temos exemplos recentes para isso, como o Cesar Maia que – quando foi reeleito – começou a perder todos os apoios por conta disso. Tenho medo que aconteça o mesmo o Witzel, tendo em vista o que aconteceu com o PSL, que é um partido com 12 deputados estaduais e que já declararam a saída da base do governo. Ainda estamos muito longe de uma eleição presidencial e já estão preocupados com isso, quando deveriam estar preocupados com temas para melhorar o Rio de Janeiro e não na eleição de 2022.

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Boletim da Liberdade: E qual é a sua avaliação sobre os nove meses do Bolsonaro?

Paulo Ganime: Acompanho de perto o trabalho dos ministros e temos ministros muito técnicos e bons, como o Paulo Guedes [Economia], Sérgio Moro [Justiça], o Bento Albuquerque [Minas e Energia], o Tarcísio Freitas [Infraestrutura]. Eles têm um trabalho técnico muito bom e representam de fato aquilo que acreditávamos e esperávamos do executivo federal. Por outro lado, há ministros que pecam pelo discurso, mas que tecnicamente acabam exercendo papeis adequados, e temos também ministros não tão próximos. Então se pegarmos a média dos ministros do presidente Jair Bolsonaro, o governo é bom. Acho que o maior problema, tanto do presidente quanto alguns ministros, está na comunicação. Ao invés da gente travar uma batalha no campo ideológico, que a eleição já acabou, estamos em momento de pensar o Brasil e o seu futuro. Por isso temos que unir forças e não desunir. Se ele focar numa comunicação correta, o governo teria muito mais a ganhar do que ficar dando munição para a oposição. Mas, tecnicamente, acho que estamos indo no caminho certo principalmente levando em consideração os principais ministros que temos.

Se pegarmos a média dos ministros do presidente Jair Bolsonaro, o governo é bom. Acho que o maior problema, tanto do presidente quanto alguns ministros, está na comunicação.

O deputado federal Paulo Ganime (Foto: Pablo Valadares/Câmara dos Deputados)

Boletim da Liberdade: Recentemente, o governador Wilson Witzel (RJ) declarou que o ideal seria fechar as fronteiras, para combater entrada de armas e drogas. Como avalia a política de segurança pública dele?

Paulo Ganime: Acho que ele tem razão quando diz que a segurança pública do Rio de Janeiro não é responsabilidade, apenas, do Governo do Estado. Outros estados tem responsabilidade também. Por exemplo: hoje, o Rio é o hub de abastecimento de drogas de São Paulo. Nós pagamos pela criminalidade do Rio pelo consumo que vai para São Paulo também. Se acabássemos com todos usuários de drogas do estado do Rio de Janeiro, nós continuaríamos tendo o tráfico de drogas no estado, pois iriamos abastecer outros. Seria importante que nós conseguíssemos uma força tarefa mais rigorosa não só nas fronteiras mas também nas rodovias.

Nós pagamos pela criminalidade do Rio pelo consumo que vai para São Paulo também. Se acabássemos com todos usuários de drogas do estado do Rio de Janeiro, nós continuaríamos tendo o tráfico de drogas no estado, pois iriamos abastecer outros.

A Polícia Rodoviária Federal faz um bom trabalho e tem um índice de aproveitamento muito bom, mas não tem efetivo condizente com o perímetro de atuação deles. Seria importante a gente ter uma preocupação maior da sociedade e também do governo não pensando apenas que a culpa é do Estado do Rio  apenas. Afinal, o governo federal tem suas responsabilidades, bem como outros estados em relação com a segurança pública. Cabe citar que o próprio Rio não faz fronteira com outros países e tudo que chega no Rio passa por outros estados, mesmo que fosse o consumidor final. Em relação à política de segurança do governador, eu concordo em ter mais rigidez no combate à violência e com criminosos. Mas acho o discurso dele um pouco exagerado e não concordo quando ele comemorou daquela maneira [se referindo ao fim do sequestro na ponte Rio-Niterói]. Acho que precisamos ter mais rigor com o criminoso e dosar mais o discurso.

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Boletim da Liberdade: Se pudesse dar uma dica ao presidente Jair Bolsonaro para que pudesse resolver parte dos problemas do país, qual seria?

Paulo Ganime: O primeiro é mudar o tom da comunicação. Ele poderia falar mais das realizações que eles está fazendo, mais aquilo que esta fazendo de bom, e, menos sobre essa batalha ideológica. O segundo problema seria a comunicação com o parlamento: acho que o governo está pecando aí, em coisas mais técnicas. Não me refiro à velha politicagem ou a questão de emendas parlamentares, mas sim sobre a condução nos temas com o Congresso, nas pautas, tudo isso poderia melhorar.

Para reduzir custos, Paulo Ganime optou por não ter escritório próprio no Rio, mas ganhou ‘canto próprio’ no gabinete de Alexandre Freitas, deputado estadual do NOVO no Rio. Na foto, o momento da inauguração (Foto: Reprodução/Facebook)

Boletim da Liberdade: Quais suas perspectivas para eleição em 2020, no Estado do Rio?

Paulo Ganime: O NOVO é bem provável que tenha candidato a prefeito tanto na cidade do Rio de Janeiro [N.E.: a entrevista foi feita antes de Fred Luz ser anunciado], como Niterói e Petrópolis, onde já abrimos o processo seletivo no estado. Provável que tenha, também, em Macaé e Cabo Frio, mas ainda não foram abertos.

Esperamos trabalhar para eleger prefeitos e não apenas para constar e quem acha que temos poucas chances. Basta lembrar do [Romeu] Zema, em Minas, que também tinha poucas chances, e foi eleito governador. No entanto, será difícil: por conta de não haver mais coligação [nas eleições proporcionais], acho que na eleição de 2020 é bem provável que quase todos os partidos lancem candidatos a prefeito visando dar visibilidade às legendas e puxar candidatos a vereador – inclusive nos debates.

O NOVO vai estar lá para participar e disputar para ganhar: espero, contudo, que não tenhamos o que aconteceu em 2016, em que houve uma pulverização dos votos e cada candidato teve poucos. Acabou que não eram os dois melhores que foram ao segundo turno [N.E.: Ganime faz referência ao segundo turno entre Marcelo Freixo, do PSOL, e Marcelo Crivella, do então PRB].  Minha maior preocupação é que isso ocorra de novo. Então espero que a gente consiga, mesmo que não seja do NOVO, algum outro candidato bom, concentrar um pouco mais de votos para evitar um segundo turno entre Crivella e Freixo, como foi em 2016.

Espero que a gente consiga, mesmo que não seja do NOVO, algum outro candidato bom, concentrar um pouco mais de votos para evitar um segundo turno entre Crivella e Freixo, como foi em 2016.

Boletim da Liberdade: Como você vê o Brasil daqui a 10 anos?

Paulo Ganime: Menos burocrático, menos corrupto, menos violento, com uma economia mais forte, menos dependente do petróleo e do agronegócio, o que não quer dizer que ambos vão diminuir e sim que os outros negócios vão aumentar. Acho que temos um potencial enorme na área de startup e inovação, em todas as áreas possíveis. E espero também, que é uma pauta minha, que estejamos forte na bioeconomia que eu acho que o Brasil tem o maior potencial na biodiversidade e ele tem que aproveitar e criar nisso oportunidades.

Boletim da Liberdade: Qual livro de cabeceira você recomenda para nossos leitores?

Paulo Ganime: Indico o livro Cisne Negro, do Nassim Nicholas Taleb, que não é do filme, que fala de eventos extraordinários, que as vezes tem um impacto muito maior para a sociedade, do que o efeito gradativo. Indico por causa do meu otimismo e acho que o Brasil estará muito melhor daqui a 10 anos. Acho que o país precisa de um cisne negro aqui para fazer com que isso aconteça e esse cisne pode ser de fato o grande catalizador de todo esse potencial que nós temos para transformar o Brasil num país que podemos ser.

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