A 3ª via será liberal, ou não será nada - Coluna

A 3ª via será liberal, ou não será nada

08.02.2022 08:20

Meses atrás, quando estive com Felipe D’Ávila pela primeira vez, ele me disse que a terceira via tinha de ser um projeto liberal. Na ocasião, almoçávamos e falávamos, outros eleitos pelo NOVO em São Paulo e eu, de sua pré-candidatura à Presidência da República pelo nosso partido, algo que se concretizou semanas após o encontro.

Conhecia-o, anteriormente, como fundador do Centro de Liderança Pública e, também, a partir de alguns artigos ou menções em sites ou jornais. Pouca coisa, confesso. Menos do que eu deveria e do que – soube ali – ele mereceria. Em pouquíssimo tempo havia ficado claro que se tratava de um intelectual, mas ainda assim, conectado às necessidades mais frementes do brasileiro. Saí dali ainda mais convicto das escolhas que fiz ao entrar para a vida pública.

Mas não estou aqui para fazer ode ao meu partido ou ao nosso pré-candidato. Seja ele o nome ou não, a terceira via precisa propor, com coragem, uma agenda liberal para o país.

Uma agenda liberal, diga-se, que foi eleita e que foi traída. Abandonada por Bolsonaro e seu posto Ipiranga logo após o êxito eleitoral. O fatiamento e desestatização de pequenos nacos da Petrobrás e de outras tantas estatais, por fim, não passaram de mera ginástica administrativa, quando a promessa e o discurso eram outros, muito mais ousados e de convicção imperativa.

“Galeão, Cumbica ou o liberalismo”, eis as três “saídas para o Brasil”, enumeradas por Roberto Campos, a quem se dispensa apresentações. Desde então, nada mudou. O choque de capitalismo proposto pelo PSDB de Covas já em 89 se tornou um avanço envergonhado com FHC. Collor e Temer mal puseram a “cabecinha pra fora” e foram esmagados pela pátria trabalhista de Vargas, vitoriosa na Constituição Federal de 88. Sobra-nos pouco.

Por isso a terceira via será liberal, ou não será nada. Ciro, por exemplo, é a repetição de teses do passado, tão ultrapassadas como os fracassos de Dilma e de Jango. Se a principal agenda traída pelo bolsonarismo foi a das privatizações, da reforma administrativa e tributária, do combate à corrupção através da desburocratização e do empreendedorismo, nada mais legítimo que a reação a isto seja desta maioria silenciosa, traída e relegada, mais uma vez, ao populismo fiscal e demagógico.

Por isso Moro ainda me assombra.

Certa vez, em uma festa em que eu estava com uma ex-namorada, um outro casal nos perguntou: vocês são liberais? O contexto era outro, mas ela, no afã do liberalismo revelado, disparou: – Somos. O constrangimento foi enorme quando tive de explicar para eles que não íamos acompanhá-los para um after pouco convencional.

Fato é que, assim como confundiu-se o moderníssimo casal, passa-se o mesmo com muitos brasileiros diante do termo “liberal”. Moro, assim como Bolsonaro em 2018, apresenta-se como um liberal recente, capaz até mesmo de confusões semelhantes quando trata do tema de modo tão pueril durante suas mais recentes entrevistas.

A falta de traquejo é tanta, que o presidenciável sequer pensou no incômodo que geraria aos seus entusiastas liberais quando aceitasse receber o salário de 22 mil reais mensais do Podemos, a partir do Fundo Partidário. Sem o liberalismo escancarado, a terceira via é mais do mesmo. Não serve ao país, mas apenas à agenda de ressentidos e alpinistas políticos, algo que não interessa ao brasileiro.

Tempo, no entanto, não lhe falta. Medo eu tenho é que lhe falte convicção. E para isso não há remédio ou a fraude de um posto Ipiranga que convença. Não mais.

FALE COM O BOLETIM

Jornalismo: jornalismo@boletimdaliberdade.com.br

Comercial: comercial@boletimdaliberdade.com.br

Jurídico: juridico@boletimdaliberdade.com.br

Assinatura: assinatura@boletimdaliberdade.com.br