O populismo na contramão da sustentabilidade - Coluna

O populismo na contramão da sustentabilidade

01.06.2022 10:58

O populismo é um conjunto de práticas e condutas políticas em que o líder da nação estabelece uma relação direta, imediata e paralela às instituições, com a população, em oposição à suposta elite. Em resumo, o líder populista aposta no conflito entre os incluídos (“nós”) versus os excluídos (“eles”), transformando esse atrito em um discurso que justifique políticas públicas exclusivistas.

O poder de sedução ligado ao populismo reside nesse fato. Como o líder se apresenta como alguém do povo, assume-se que ele compreende os problemas sociais e pode resolvê-los. Acontece que o próprio pensamento populista é imediatista, já que problemas estruturais e complexos são reduzidos a discussões simples e menores, que ainda padecem de solução, por exclusiva falta de vontade. Daí, surgem falsas saídas de curto prazo para os grandes problemas sociais.

Em contraposição ao charme sedutor do populismo, políticas públicas que efetivamente resolvam as questões da sociedade são aquelas racionalmente planejadas, que, geralmente, não dão frutos imediatos. Ao contrário, questões complexas são solucionadas por medidas igualmente complexas, que só produzem efeito com a continuidade, no longo prazo. Ou seja, são políticas que, ao invés de seduzir e apaixonar, deveriam convencer. Ao invés de apelar ao emocional, deveriam conectar com o racional.

Esse convencimento daquilo que efetivamente soluciona os problemas deve ser buscado pela ampliação do diálogo, por meio da pluralidade de ideias e da inclusão. Cada indivíduo, de acordo com suas características, experiências pessoais e relações com as diversas coletividades, deve participar do debate público no sentido de construir as políticas que, verdadeiramente, superem as deficiências sociais.

Só assim, por meio da razão e em oposição às trevas das paixões e do populismo, será possível caminhar para além de práticas superficiais que, ainda que perpetuem injustiças, são colocadas como soluções definitivas.

Governos de matiz populista não constroem políticas sustentáveis que atendam aos requisitos e aos valores dos eixos ESG, já abordados nesta coluna. Muitas vezes, para a construção de políticas sustentáveis, a inclusão, a pluralidade e o planejamento a longo prazo se fazem necessários.

A análise de diversos pontos de vista é fundamental para o desenvolvimento de atitudes sustentáveis. Dessa forma, a democracia, em sua multiplicidade de visões, é essencial à sustentabilidade. Por outro lado, o populismo, ao pregar uma série de benefícios breves e imediatos, é insustentável.

Seja pelo projeto do “Green New Deal”, nos Estados Unidos, que visa à retomada econômica, ao mesmo tempo em que opções produtivas ambientalmente sustentáveis são privilegiadas, seja pelo programa de transformar a França em uma Nação Ecológica proposto por Macron em seu recente discurso de vitória ou até mesmo pela transição energética anunciada por Japão e Alemanha, percebe-se que uma política que visa àconservação do patrimônio natural só pode ser construída por uma ação democrática e liberal que, entre outras práticas, favoreça uma construção internacional, buscando o fortalecimento da globalização.

Seguindo essa mesma linha de raciocínio, o governo do Reino Unido encomendou à Universidade de Cambridge um relatório sobre as potencialidades econômicas da sustentabilidade, em que foi concluído que a degradação ambiental, ao afetar o acesso à água, à alimentação e a serviços públicos de qualidade, aprisiona os seres humanos na armadilha da pobreza ambiental.

Resumindo: enquanto as alternativas populistas são ambientalmente nocivas, socialmente precarizantes e totalmente opacas, em termos de governança, as opções liberal-democráticas provam que desenvolver os valores ESG é, em última análise, cuidar das pessoas.

Foto: Andrii Yalanskyi

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