Energia verde contra a corrupção - Coluna

Energia verde contra a corrupção

06.04.2022 12:09

O Brasil tem potencial para liderar a transformação global energética para uma sociedade sustentável. Entretanto, para que isso aconteça, é imprescindível que façamos a mudança política necessária para que nosso país alcance patamares mais elevados de desenvolvimento sustentável, no qual o desenvolvimento socioeconômico seja pautado por um marco institucional de transparência; que equalize as relações de poder e as desigualdades sociais.

O sistema nacional de produção de energia elétrica, baseado em uma matriz hídrica, posiciona o Brasil como destaque na produção energética limpa e renovável. Contudo, a exaustão dos potenciais hidrelétricos, associada à falta de chuvas, ocasionada pela emergência climática, expõem as vulnerabilidades de um país excessivamente dependente da energia de hidrelétrica. Assim, o avanço da produção de energia renovável de outras fontes, como fotovoltaica – que aproveita da abundante incidência solar no nosso país – é um marco fundamental da chamada energia verde renovável.

Traduzindo em dados, no ano de 2019 o mercado de energia solar no Brasil cresceu 212%. Segundo a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), foram instalados mais de 110 mil sistemas fotovoltaicos de mini e microgeração, correspondendo a R$ 4,8 bilhões em investimentos e quinze mil profissionais trabalhando na área, um grande avanço para o país!

Da mesma maneira, por ser um país no qual nunca falta vento, o Brasil também se sobressai na geração eólica de energia. De acordo com a Aneel, essa é hoje a segunda fonte de matriz elétrica brasileira, atrás apenas da hidrelétrica. A capacidade instalada é de 16 GW, segundo dados divulgados em junho de 2020, pela Associação Brasileira de Energia Eólica (ABEEólica), que também estima que teremos cerca de 24,2 GW de capacidade instalada até 2024, considerando leilões já realizados e contratos firmados no mercado livre.

De forma não menos relevante, a produção nacional de biogás tem crescido substancialmente. O volume de biogás produzido para fins energéticos aumentou expressivamente nos últimos anos. De 2015 e 2020 o crescimento médio foi superior a 20% ao ano, e cálculos da ABiogás, mostram o enorme potencial de crescimento, considerando os setores sucroenergético, saneamento, proteína animal e produção agrícola, pois hoje aproveitamos somente 2% do potencial da produção de biogás.

Com todas essas opções, nos capacitamos para a geração do chamado hidrogênio verde, termo utilizado para se referir ao hidrogênio obtido a partir de fontes renováveis, em um processo no qual não haja a emissão de carbono. O aproveitamento energético do hidrogênio por meio de uma transformação eletroquímica, realizada em células conhecidas como “células a combustível” tem impacto muito menor no meio ambiente.

A AproBio, Associação dos Produtores de Biocombustível do Brasil, aponta que o hidrogênio deverá responder, em 2050, por 20% de toda a demanda de energia global. Como o Brasil tem cerca de 80% da sua matriz elétrica renovável, pode se tornar um dos grandes protagonistas desse mercado. Isso vem aliado ao fato de termos um dos menores custos marginais para geração de energias renováveis, fundamental para barateamento das células a combustível.

Logicamente que essas potencialidades só vão se concretizar no nosso país se tivermos um marco institucional impessoal, transparente e eficiente, em que o combate e a prevenção à corrupção gozem de estabilidade e segurança. Quem não se lembra, por exemplo, das bravatas de ex-governantes que projetavam transformar o Brasil numa “Arábia Saudita verde”? Iniciativa perdida em meio a graves esquemas de corrupção e tráfico de influências surgidos no bojo das descobertas do pré-sal.

O Brasil clama por sustentabilidade, mas essa só se concretizará com a certeza de que a corrupção será efetivamente combatida. Não à toa esses foram os dois eixos de melhora exigidos pela OCDE para que o Brasil seja admitido como membro. As condições existem, basta ter vontade política!

*Texto desenvolvido em parceria com André Naves, defensor público federal, professor e escritor.

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