Novas práticas para as redes sociais de políticos eleitos - Coluna

Novas práticas para as redes sociais de políticos eleitos

05.05.2022 07:48

A comunicação entre os mandatários e seus eleitores mudou com o desenvolvimento das redes sociais, elas aumentaram, sem dúvida, a capacidade dos políticos de cumprir seus deveres de representação proporcionando-lhes maiores oportunidades de compartilhar informações do mandato e avaliar as preferências do cidadão em tempo real. Maioria dos eleitos pelo povo agora usa YouTube, Twitter, Facebook, Instagram e outras plataformas de mídia social para se relacionar e comunicar as conquistas dos mandatos.

Inicialmente, a comunicação digital reduziu o custo marginal das comunicações feita pelos gabinetes. Ao contrário das antigas cartas, as mídias sociais permitem que o aumento do alcance de eleitores seja feito com um custo unitário menor. Hoje em dia, contudo, as redes sociais se tornaram muito caras. Não se mantém mais uma rede social relevante sem uma comunicação profissional e constante, e para isso se investe muito dinheiro. Aquele tempo autoral que o político aparece super autêntico sem edição, sem câmeras profissionais e sem roteiro acabou. Cada post tem por traz uma megaestrutura de designer, roteirista, editor de vídeo etc.

O ponto que trago para reflexão neste artigo não é sobre a importância da comunicação com eleitor por meio de canais virtuais; pelo contrário, a relevância dessas plataformas para a construção da cidadania na contemporaneidade é obvia. O que precisamos pensar diante do crescimento do uso das redes sociais como ferramenta de trabalho dos políticos é como o dinheiro público está sendo aplicado. Horas de trabalho da equipe de mandato são despendidas na gestão das redes sociais pessoais dos políticos, assim como, impulsionamento de posts e perfis; gastos que trazem incremento da rede de seguidores e se tornam um bem do político e não da população. Temos verdadeiros políticos-blogueiros que quando acabarem seus mandatos terão criado uma rede de influência toda bancada por dinheiro do cidadão.

O fato é que existe uma clara confusão entre a esfera pública e privada que tem que ser resolvida pois a cada ano que passa o volume de dinheiro que é investido em perfis pessoais aumenta. O Estadão em 26 de abril de 2022 notificou que desde o início do mandato, só os parlamentares brasileiros eleitos em 2018, usaram R$ 179 milhões com a divulgação de seus mandatos e autopromoção. Imaginem quanto não ficaria esse valor se somássemos os valores gastos por vereadores, deputados estaduais e membros do executivo de todo país?

O ideal é construamos, como sociedade, um arcabouço de boas práticas para organizar esse novo ambiente de comunicação política dos nossos políticos eleitos. O ponto de partida deve ser a separação da rede pessoal do político da rede do seu mandato. O mandatário manterá a rede pessoal com recursos próprios, já a rede que representa seu mandato será mantida com o dinheiro público e apenas conterá informações oficiais relacionadas às atividades do mandatário enquanto agente político eleito. Nos Estados Unidos essa prática é normal. O Instagram pessoal da congressista americana Alexandria Ocasio-Cortez, por exemplo, orienta seus seguidores a conhecerem a página do mandato; mas o contrário não acontece, ou seja, no seu perfil de mandato não há qualquer menção da sua página pessoal.

A decisão sobre como gastar com pessoal e outros recursos reflete as prioridades de cada mandatário e é justamente na especificidade de cada mandato que se encontra a melhor representatividade. Por outro lado, todo político eleito tem o dever de colocar os recursos públicos por ele gerenciado de forma eficiente, ética e impessoal. Em uma sociedade como a brasileira, onde é usual verificarmos a confusão entre o que pertence ao público e ao privado, é fundamental que suas lideranças sejam as primeiras pautar suas escolhas no completo entendimento do que é uma construção coletiva e particular.

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