fbpx

O perigo da bolsoinflação

Compartilhe

O Brasil encontra-se em uma grande cilada. Armadilha parecida àquela enfrentada na década de 70 pelos EUA e outras grandes economias ocidentais quando o choque de petróleo (em menos de seis meses o preço global do barril de petróleo subiu quase 300%) ocasionou um aumento geral de preços. Além da inflação, o período também foi marcado pelo baixo crescimento e altas taxas de desemprego. Pela confluência atípica da inflação com a estagnação econômica esse quadro econômico passou a ser conhecido como estagflação e é um dos cenários mais desafiantes da política econômica.

Está claro que os efeitos da estagflação se aplicam perfeitamente ao panorama atual da economia brasileira, quando em dezembro de 2021 a inflação acumulada chegou ao patamar de 10,75%, o PIB recuou 0,1% e o desemprego chegou aos 14% da população. Contudo, ao analisarmos as causas desse cenário, percebemos que o contexto brasileiro diverge e, infelizmente, é mais preocupante que o da estagflação verificada na década de 70.

Enquanto na década de 70 a inflação tinha uma causa externa, o aumento expressivo do preço do petróleo em pouquíssimo tempo, no Brasil atual a inflação tem uma causa interna e advém, principalmente, da incerteza política e da incredibilidade técnica gerada pelo governo Bolsonaro. A evasão de divisas que originou uma desvalorização expressiva do Real e consequente impulsionamento da inflação foi ocasionada pela falta de confiança que os investidores têm no Brasil. A reversão deste quadro é muito difícil, dado que Bolsonaro continua no poder.

Pelo lado da política fiscal, que seria uma forma de balancear o estrago feito no cambio, tampouco Bolsonaro ajuda, pois mostra seu potencial populista, insensível ao momento delicado que o país se encontra, ao aprovar orçamentos secretos milionários e o calote nos precatórios.

Por este motivo o Brasil não vive apenas uma simples estagflação, vivemos a bolsoinflação, quando as taxas de inflação e desemprego não apenas apresentam uma relação direta de alta, mas também a causa deste cenário não recai apenas sobre um fator econômico, mas principalmente político. O gráfico abaixo mostra que a inflação brasileira se encontra duas vezes maior que a média mundial.

Fonte: Elaboração própria a partir de dados da Trading Economics, nov, 2021

Resta ao Brasil confiar na capacidade do Banco Central (BACEN) consertar as bobagens do atual governo. Nesta semana BACEN elevou a taxa de juros mais uma vez. Esse foi o sétimo reajuste consecutivo na taxa de juros básica, a Selic, depois de passar seis anos sem elevação. Por unanimidade, o Copom elevou a Selic de 7,75% para 9,25% ao ano.

A elevação da taxa de juros tem como efeito positivo o controle da inflação*, que é um dos principais entraves para uma economia estar equilibrada no longo prazo. Por outro lado, a elevação da taxa de juros traz efeitos negativos, pois além de sobrecarregar as contas públicas e transferir renda ao setor financeiro, ela compromete a recuperação econômica.

Com o atual patamar, passamos a ocupar a liderança mundial de taxa de juros real, conforme mostra o gráfico abaixo:

Fonte: Elaboração própria a partir de dados da Infinity Asset (27/10/2021)

Em um momento em que a maioria dos países do mundo trabalha com uma taxa de juros real negativa devido a necessidade de aquecer a economia diante da enorme crise sanitária que passamos, o Brasil segue o caminho totalmente oposto, pois precisa conter a bolsoinflação. A Bolsoinflação terá efeitos no longo prazo. Efeitos esses que bolsa família nenhum conseguirá reverter: desemprego, perda de riqueza das famílias e ampliação da desigualdade social.

Logicamente que a crise sanitária internacional trouxe desafios a todos os governos do mundo, mas quando analisamos a forma que esses governos superaram esses desafios, percebemos a instabilidade e a insensibilidade política do governo Bolsonaro, que trouxe obstáculos ainda maiores para serem vencidos. Bolsonaro não apenas não fez o seu dever de casa, como também matou aula, mentiu para professora e pixou o muro da escola. Agora todos nós pagaremos a conta da bolsoinflação que esse menino mimado e mal criado nos deixou.

[wp_ad_camp_1]

Aviso

As opiniões contidas nos artigos nem sempre representam as posições editoriais do Boletim da Liberdade, tampouco de seus editores.

plugins premium WordPress
Are you sure want to unlock this post?
Unlock left : 0
Are you sure want to cancel subscription?