Como a eleição do Chile espelha o cenário brasileiro - Coluna

Como a eleição do Chile espelha o cenário brasileiro

20.10.2021 08:54

No próximo dia 21, o Chile passará por suas eleições presidenciais para escolher o sucessor do presidente Sebastián Piñera. Piñera, que já tinha ocupado o posto entre 2010 e 2014, foi reconduzido ao cargo prometendo enfrentar a esquerda e recuperar economicamente o país após o governo da socialista Michele Bachelet, derrotando o candidato oficialista, o deputado Alejandro Guiller. Porém, após realizar diversas concessões à esquerda após as depredações travestidas de manifestações democráticas realizadas entre o final de 2019 e o início de 2020, como a realização do plebiscito para a realização de uma nova Assembleia Nacional Constituinte, perdeu a sua base de apoio tradicional.

Nas prévias, a coalizão partidária Chile Vamos, a mesma a qual o atual presidente pertence, foi escolhido Sebastian Sichel, ex-ministro de Desenvolvimento Social e ex-presidente do Banco do Chile no segundo período presidencial de Piñera; entretanto, sua base política vem do Partido Democrata Cristão, legenda de centro que desde a redemocratização chilena após 1988 sempre integrou alianças com os Partidos Comunista e Socialista.

As concessões de Piñera à esquerda e o fato do eleitor tradicional dos partidos da coalizão Chile Vamos não se sentir representado na figura de Sichel, que tenta se afastar politicamente em sua campanha do governo ao qual é candidato oficialista em uma espécie de “terceira via não-oficial”, faz com que esteja atualmente em quarto nas pesquisas, atrás de Yasna Provoste (PDC), presidente do Senado apoiada por Michele Bachelet, José Antonio Kast (Partido Republicano) e Gabriel Boric (Convergência Social).

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Kast vem trazendo consigo o eleitorado tradicional da Chile Vamos para sua base. O ex-deputado obteve em sua candidatura como independente quase 8% dos votos, obtendo o quarto lugar no primeiro turno de 2017; conseguiu recolher assinaturas para fundar o Partido Republicano e sempre teve uma carreira política ligada à direita. Deixou seu antigo partido, a União Democrática Independente (UDI), por discordar dos rumos que a legenda tomava, de aproximação com setores da esquerda chilena. O candidato republicano tem em seu programa uma ênfase na redução do tamanho do Estado, programa de liberalização e desestatização econômica, combate à criminalidade e ao terrorismo, a defesa do armamento civil e do combate às drogas e ao aborto.

Kast é bastante próximo do presidente brasileiro Jair Bolsonaro, a quem visitou nas eleições de 2018 presenteando-o com uma camisa da seleção chilena de futebol e uma edição do livro “O Ladrilho”, publicação que explica as reformas econômicas realizadas durante a gestão do general Augusto Pinochet. Também esteve no Brasil em 2019, participando da primeira edição da CPAC Brasil realizada na cidade de São Paulo sendo um dos conferencistas do evento.

Se aqueles que ocupam tradicionalmente o espaço da direita no Chile estão vivendo uma crise de identidade, o mesmo se reflete na esquerda; Yasna Provoste, candidata apoiada pela ex-presidente Michele Bachelet e apoiada pela coalizão partidária que sempre deu sustentação a governos de centro e de esquerda desde a redemocratização chilena não consegue subir nas intenções de voto; assim como Sichel não encontra identificação à direita, provoste não consegue identificação à esquerda, devido o PDC ter saído do grupo de partidos em 2017 lançando a então Deputada Carolina Goic sem sucesso. Embora os Democratas Cristãos tenham retornado a sua gênese partidária identitária, a radicalização da esquerda no país faz com que um novo nome lidere a esquerda; este é o deputado Gabriel Boric, filiado à Convergência Social.

Boric atualmente é parlamentar no Congresso chileno, mas sua história vem do movimento estudantil; foi um dos líderes das manifestações estudantis realizadas no Chile em 2011 contra o sistema de vouchers na educação, tendo também ocupado o cargo de Presidente da Associação de Estudantes da Universidade do Chile, uma espécie de Diretório Central dos Estudantes (DCE) da instituição. Sua vida também tem polêmicas as quais já sofreu represálias dentro da própria Câmara dos Deputados chilena, como o caso da visita ao guerrilheiro Ricardo Palma Salamanca, hoje exilado na França. Salamanca assassinou em 1991 o senador conservador Jaime Guzmán e fugiu de sua prisão no Chile em 1996, conseguindo asilo político na Europa em 2018. Devido a esta visita, Boric teve parte do seu salário descontado pela Comissão de Ética da Câmara dos Deputados como punição.

Diferente do estilo centrista de Provoste, o eleitorado tradicional de esquerda, ainda insuflado pelos atos de 2019 e 2020 encontra identificação ideológica em Boric. A coalizão política a qual o candidato pertence, a Aprovo Dignidade é herdeira direta da antiga Frente Ampla, que levou a jornalista Beatriz Sanchez ao terceiro lugar nas eleições de 2017. Visando limpar-se da imagem de radical, Boric vem moderando seu discurso, pedindo desculpas públicas em relação a visita a Ricardo Palma Salamanca, a falar sobre liberdade de mercado e até mesmo coisas simples, como melhorar a aparência cortando os cabelos e a barba.

A eleição chilena mostra um espelho da realidade política atual vivida pelo Brasil: aqueles que escolhem um caminho de centro buscando uma “terceira via” entre a direita e a esquerda acabam espantando um eleitor tradicional com um viés mais conservador e liberal em busca de uma aceitação das esquerdas, que nunca vão votar e fazer campanha para um candidato com este perfil, buscando uma opção radical. Por outro lado, os radicais de esquerda também entendem que precisam limpar um pouco suas imagens frente à opinião pública, visando um eleitorado com viés mais à direita, em moldes parecidos com que Fernando Haddad (PT) tentou fazer no segundo turno de 2018 ou até mesmo Lula na sua primeira eleição em 2002.

O pleito no Chile, a menos de um ano para as eleições brasileiras vem ditando tendências que assistiremos durante 2022 na nossa eleição e que já podem ser vistas no cenário desenhado em 2021 na terra de Bernardo O’Higgins.

Foto: Reprodução/El Mostrador/Divulgação

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