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O que faria a Anitta e o Neymar falarem sobre o fundão?

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*Patrícia Turmina

Em 2020, no Brasil, cerca de 80% dos “trending topics” do Twitter foram sobre entretenimento e esporte. Apenas 10% sobre política, sendo que nessa área, historicamente, predominam as discussões superficiais sobre esquerda e direita e ataques de cunho pessoal. Quase não sobra espaço para discussões objetivas sobre qual o papel do Estado e o uso do nosso dinheiro. Segundo estudo realizado pelo Ibope no mesmo ano, a corrupção era a terceira maior preocupação do brasileiro. Mas essa preocupação é questionável, uma vez que não se traduz em atitudes. Reelegemos frequentemente políticos corruptos e falamos mais sobre jogos e fofocas do que sobre a situação do país.

No estudo nem sequer é citada a preocupação com o uso adequado de verbas, como se o único erro do Estado fosse a corrupção. Quantas vidas poderiam ser salvas ou transformadas com o fundo eleitoral? Será que nos tornamos generalizadamente hipnotizados justamente porque a propaganda alimenta o entretenimento e o esporte (tão caros para nós)? Será que não percebemos que o nosso passatempo se torna uma onerosa despesa? O Estado toma quase 40% de tudo que produzimos, mas até quando o vizinho toma R$ 50 emprestados ou quando há um escândalo entre celebridades prestamos mais atenção.

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O poder de influência das celebridades, detentoras da nossa atenção, é subutilizado quando dancinhas no TikTok dão mais audiência e menos risco do que temas relevantes. Custo a acreditar que os famosos entreguem todo o seu potencial e inteligência em seus conteúdos – e sua cautela é compreensível. Mas instigo que talvez seja possível contribuir com o país e transcender as amenidades (e os cancelamentos) focando em temas prioritários que, quando evidenciados, se tornam quase unânimes – como os escandalosos abusos estatais com o dinheiro de seus fãs, com os quais ninguém há de concordar.

Enquanto acharmos que falar de amor e empatia nas redes sociais basta para mudar o mundo, o conhecimento prático continuará restrito, e decisões importantes seguirão ofuscadas. Isso só é bom para quem já detém o poder, seja na esquerda, seja na direita. Um Brasil em que os “trending topics” difundem temas produtivos é um país onde a retórica é uma forma de entretenimento e onde mudar de opinião é respeitável. Não sei o que faria Anitta e Neymar falarem sobre o fundão, mas sei o que faz eles não falarem: a mediocridade e a polarização violenta que amordaçam não só eles, mas também boa parte do país.

*Patrícia Turmina é associada ao IEE.

Foto: Reprodução/Nubank

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Aviso

As opiniões contidas nos artigos nem sempre representam as posições editoriais do Boletim da Liberdade, tampouco de seus editores.

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