A grande ficção - Coluna Instituto de Estudos Empresariais

A grande ficção

08.07.2021 08:59

*André Marchesi

Caro leitor, se você chegou até aqui, acredito que já tenha passado da fase de ouvir contos infantis. O lobo mau e a chapeuzinho vermelho são um conto ou, no máximo, metáforas. Não existiram em carne e osso. Desculpe desapontá-lo. Não podemos acreditar em muito que nos falam, sem que nos mostrem evidências comprobatórias de que o que dizem é verdade.

Poderia eu, fazer um testemunho aqui: a força empreendedora capitalista foi e é a responsável pelo maior nível de bem-estar e menor nível de pobreza na história da humanidade. Poderia você achar que se trata de mais um conto. Explico: Em 1820, mais de 90% da população mundial vivia com menos de U$2 por dia. Já em 2015, menos de 10% das pesosoas viviam com U$ 1,90 por dia, que é o valor adotado pelo Banco Mundial para definir situação de extrema pobreza. Índices como mortalidade infantil, fome, analfabetismo e poluição alcançaram seus mínimos históricos.

Em seu livro “Progress: Ten Reasons to Look Forward to the Future”, Johan Norberg nos apresenta o gráfico comprovando o feito, como abaixo:

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Tudo isto foi alcançado, como bem colocado por Murray Rothbard em sua obra “A Anatomia do Estado”, através do único meio possível de produzir riqueza: o meio natural, ou seja, a produção. Os seres humanos, usando seu raciocínio e trabalho e aplicando-os sobre a natureza, e de lá extraindo recursos. Esta seria a única maneira possível de seres humanos adquirirem recursos. Através da troca destes recursos adquiridos, ou criados, pode-se trocar esta propriedade com outros indivíduos. Para Oppenheimer, este seria o “meio econômico”.

O segundo meio, seria o meio político, ou parasitário. Este meio não cria verdadeiramente riqueza. Apenas a transfere, retirando de forma coercitiva a riqueza de quem a produz. Esta forma não é natural, nem moral. Basicamente, o Estado é a organização dos meios políticos, que legaliza práticas de imposição e subtração da propriedade de terceiros.

O Estado não poderá operar sem tomar algo. E não poderá se manter e preservar, se não for ativa ou resignadamente aceito pelos cidadãos. Para conseguir tal aceitação, o Estado deverá travestir-se de bom, necessário, inevitável, ou ao menos, superior às demais possíveis alternativas. Como bem colocou Thomas Sowell, “o propósito da política não é solucionar problemas, mas encontrá-los para justificar a expansão do poder do governo e o aumento de impostos”.

São os intelectuais os meios de propagação e legitimação desta ideologia entre as massas, pois as massas não criam ideias, nem pensam e refletem sobre as mesmas, mas são fortemente influenciáveis e influenciadas pelos formadores de opinião. O Estado coloca, assim, seu gorro vermelho, para visitar a vovozinha. Assim, travestido com seu gorro vermelho, ele bate à porta da vovozinha e entra.

Outra excelente arma para propagar-se, utilizada pelo Estado, é a tradição. Através dela, as coisas são da forma que são pois sempre assim o foram. A maior ameaça ao Estado, seria pois, a crítica intelectual independente. Ora, se os intelectuais devem ser os maiores propagadores da ideologia Estatal para a manutenção da máquina, da mesma forma, intelectuais independentes que espalharem ideias deslegitimando o poder Estatal, e contrariando-o, podem ser também os maiores responsáveis por seu desprestígio e ocaso. O Estado tentará sempre, portanto, impressionar a sociedade com sua “legitimidade”, de forma a  tentar manter o apoio ideológico.

Como o Estado necessariamente vive do confisco compulsório do capital privado, e como a expansão dele necessariamente envolve violações cada vez piores ao indivíduo e à iniciativa privada, devemos dizer que o Estado é profunda e inerentemente anticapitalista. Isto seriam incentivos perversos para que continuemos elevando a condição capital e moral da população mundial. Esta elevação é inversamente proporcional ao crescimento do Estado: Quanto mais o Estado cresce, mais improvável é que o ser humano possa evoluir como um todo.

O que se verifica, atualmente, é que mesmo que se consigamos fazer com que o ente estatal se retraia, ele ainda tem seus “postos de comando” bem instaurados na sociedade, entre os quais o monopólio da violência, o monopólio do poder judicial , os canais de comunicação e transporte ( correios , estradas, rios) e a educação.

Penso que a saída, ou a solução para combater o amplo controle estatal que se verifica atualmente em nossa sociedade, é, primeiramente, privatizar tudo aquilo que foge ao cerne da obrigação estatal, o de preservar as liberdades individuais, para que a máquina Estatal seja mais eficiente e focada em seu dever fundamental.

Em segundo lugar, acredito que a presença de intelectuais libertários deve ser cada vez maior e atuante, em diversos sertames sociais, para que a ideia da liberdade individual e Estado realmente mínimo possa, progressivamente, ser posta em prática, verificada e que os benefícios possam ser experenciados pela população.

A tradição, apresentada como uma das armas estatais, acaba por tornar o progresso de ideias libertárias mais lento e resistente. Ora, somente uma transformação desta mentalidade incrustada não só na sociedade brasileira, como em diversas mais, de que se depende do Estado para agir pela população e provê-la, permitirá o florescimento de um ideal libertário que beneficie toda nossa população, da mesma forma que a todo o mundo. Talvez os contos infantis não sejam tão irreais assim. Sejamos, pois, como o caçador vigilante, que salva a vovozinha do perigo do lobo mau estatal. Afinal, como Thomas Jefferson uma vez disse, “o preço da liberdade é a eterna vigilância”.

*André Marchesi é empresário, associado do IEE e Mestrando em Economia com dupla titulação pela OMMA e pela Mackenzie.

Foto: Arquivo/Agência Brasil

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