Divergência no Novo x fechamento de questão no PP - Coluna Debate Aberto

Divergência no Novo x fechamento de questão no PP

02.09.2021 10:42

*Matheus Valadão

Nesta semana, alguns filiados do Partido Novo fizeram um manifesto defendendo “pluralidade” no partido e que deveria ser respeitada a posição diferente de mandatários, desde que os objetivos fossem comuns. Este manifesto foi feito para contrapor com outro manifesto de filiados anti-Bolsonaro que cobrava que candidatos que descumprissem a Diretriz Partidária 3/2021 e o Posicionamento de 05/07/2021 (que respectivamente definiu a posição oposicionista ao Jair Bolsonaro e a posição favorável do partido em relação ao Impeachment do Bolsonaro) não deveriam ter espaço para candidatura em 2022.

Alguns integrantes da Bancada Federal referendaram o novo manifesto. Entre eles, o deputado Marcel Van Hattem. Para ele, não haveria problema a existência de parlamentares com posições tão díspares e que deveria ser permitida a candidatura de quem fosse contrário ao Impeachment do Bolsonaro.

Engraçado que essa posição contrasta com a posição do próprio Marcel durante o Impeachment da Dilma Rousseff. Naquela época, dentro do Partido Progressista, ele defendia que deputados do PP contrários ao Impeachment da Dilma tinham que ser expulsos do partido e parabenizou o Ciro Nogueira (presidente do PP) por tomar essa atitude para gerar unidade em seu antigo partido.

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O esforço dele e de outras lideranças possibilitaram esse fechamento de questão, sendo importantíssimo para o Impeachment da Dilma e posse do Presidente Michel Temer. Posse em que o próprio Van Hattem participou.

Mas qual é a diferença entre pedir fechamento de questão no PP e liberdade para divergência no Partido Novo? Nenhuma. Deveria ser o contrário.

A divergência tem que ser proporcional ao tamanho do partido. O Partido Progressista na Câmara dos Deputados tem um tamanho 5 vezes maior que o Novo e possui alas a favor do Governo Bolsonaro (RS, SP, RJ, DF, AL e PI) convivendo com alas contrárias ao Bolsonaro (BA, MA, PE e PB). É legítimo que pelo tamanho nacional do PP e pela complexidade regional do Brasil, existam grupos tão diferentes dentro de um mesmo partido e nesse caso não faria sentido fazer um fechamento de questão para um partido tão complexo como o PP.

A situação é distinta no Partido Novo. O Partido Novo tem 8 deputados federais, 11 deputados estaduais/distritais, 32 vereadores, 1 prefeito e 1 governador. Mandatos concentrados apenas na região Centro-Sul (SP, MG, RJ, RS, SC, PR).

Pelo tamanho reduzido de sua bancada e seu perfil de eleitor com um nicho mais ideológico, a força do Partido Novo tem que estar na coesão de seus mandatários e na uniformidade de atuação.

Por isso, clamar pela existência de divergência em temas que não são pequenos como o Impeachment do Bolsonaro e a oposição ao seu governo significa o esfacelamento do Partido Novo como instituição.

Esse esfacelamento aconteceria por três motivos:
1) A existência de posições tão díspares afasta eleitorado ideológico do partido já que um eleitor bolsonarista não vai querer votar no Novo com risco de eleger um anti-bolsonarista como o Fábio Ostermann e um eleitor anti-bolsonarista não vai querer votar no Novo com risco de eleger alguém simpático ao Governo Bolsonaro como Lucas Gonzales.

2) Ficaria mais difícil encontrar pessoas para serem candidatas porque em uma derrota, seus votos poderiam ajudar a eleger alguém que não concordasse ideologicamente.

3) As mulheres são as que mais rejeitam o Governo Bolsonaro. Se o partido não for incisivo contra o bolsonarismo, teremos dificuldade para atrair mulheres para candidaturas dentro do Novo. E pela exigência eleitoral, é necessário ter um terço de candidaturas femininas em uma chapa proporcional. Dessa forma, uma chapa com poucas mulheres será uma chapa pequena e, ao mesmo tempo, elegerá um número menor ainda de pessoas.

Por isso, me causa um desconforto que esse manifesto endossado pelo Marcel Van Hattem, Lucas Gonzales, dentre outros mandatários não têm como objetivo acabar com brigas no partido. E sim, em manter o “status quo” dele. Fazendo com que o Novo não apoie oficialmente um candidato da terceira via, liberando mandatários que queiram fazer campanha abertamente para o Bolsonaro no primeiro turno.

Cabe ao Diretório Nacional cumprir a Diretriz Partidária 3/2021 e o Posicionamento de 05/07/2021, fazendo com que os mandatários tenham que ser oposição ao Bolsonaro e a favor do Impeachment do Presidente. Aqueles que não queiram cumprir a posição do Diretório, que tenham seus mandatos liberados para migrarem de partido.

Pluralidade é ter um conservador como o Fernando Holiday, uma liberal-democrata como a Cris Monteiro e um liberal como o Heni Ozi Cukier.

Pluralidade em um partido ideológico não é ter uma ala a favor do Governo Federal e uma ala contrária. Isso confunde o eleitor.

*Matheus Valadão é formado em Economia pela Unicamp e fundador do Unicamp Livre. Filiado ao Partido Novo desde 2018.

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