Começamos enfim uma CPI para buscar os culpados pela inoperância do governo federal durante a pandemia de Covid 19. Com Renan Calheiros como relator e um dos personagens principais de oposição, os governistas não terão colher de chá. Renan é um dos políticos mais experientes do Senado, uma raposa velha e astuta.
O início dos trabalhos buscou contar uma história cronológica do Ministério da Saúde, convidando a depor, os ministros de acordo com a linha temporal de suas gestões. O primeiro convocado foi Luiz Henrique Mandetta, primeiro ministro de Bolsonaro, que após atritos referentes à forma de lidar com a crise, foi mandado embora. Mandetta e o presidente entraram em rota de colisão no início da pandemia, referente aos protocolos de o governo deveria ou não indicar para a população, como distanciamento social, o uso de máscaras e cloroquina.
O depoimento de Mandetta foi seguro e tranquilo e não poderia ter sido diferente. Como bom político e ex-deputado federal, sabe muito bem o que falar e o que não falar em uma CPI, tendo um discurso ponderado e bem revisado, pensando muito bem antes de falar. Quem imaginou um ataque direto ao presidente, pode ter se surpreendido com a calma no discurso do ex-ministro. Porém quem pensa que isso significa que Jair não ficou em apuros se engana. O depoimento de Mandetta é cheio de pontos nevrálgicos e problemáticos para o presidente, escondidos debaixo de ponderação e tranquilidade. Principais pontos rondaram em torno de um possível decreto para mudar a bula da cloroquina e a confirmação de que os filhos do presidente e outros políticos aconselhavam Jair paralelamente.
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A calma e tranquilidade de Mandetta foram dispensadas quando se tratando de Paulo Guedes, que diferente do presidente que tinha a base governista para amenizar os ataques, apanhou sem defesa durante todo o discurso do ex-deputado.
O segundo ex-ministro a falar foi Nelson Teich, bem menos empolgante e com uma oratória não tão refinada quanto seu antecessor. No entanto, o médico foi preciso em suas declarações para definir que saiu do ministério por discordar do uso de cloroquina e descobrir que não teria a autonomia necessária que o trabalho exigia.
A surpresa veio na cereja do bolo. O general Eduardo Pazuello, que já trabalhava no ministério e teve uma gestão mais que desastrosa, agravando a crise sanitária em todo o país, não compareceu. O general apresentou uma declaração do alto comando as forças armadas que dizia que Pazuello teria entrado em contato com pessoas infectadas com o vírus e que por segurança deveria ser ouvido de forma remota e online ou ter seu depoimento adiado. Senadores de oposição se revoltaram e lembraram que o general tinha feito um passeio ao shopping sem máscaras dias antes.
Muita coisa ainda vai acontecer na CPI que com toda certeza ficará para a história política do país. O Brasil precisa de uma resposta sobre os descasos e atropelos no território nacional, em especial em Manaus, e essas respostas devem vir a público pelo trabalho da comissão. Enquanto isso, continuamos morrendo, sem remédios para intubação e vacinas e com sobras de cloroquina.
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