fbpx

Se Bolsonaro fosse de direita, sua plataforma não seria ‘Brasil acima de tudo’

Compartilhe

*Juliana Oliveira

O lema “Brasil acima de tudo e Deus acima de todos”, exaustivamente repetido pelo aspirante a presidente Jair Bolsonaro, deixa claro o DNA coletivista de sua plataforma de campanha. Nada tão distante do que um verdadeiro candidato de direita defenderia: o individualismo radical. Por isso, acreditar que Bolsonaro é de direita é, corretamente, acreditar em um mito – criado, repetido, eventualmente útil e sem um pingo de verdade.

Um leitor desavisado pode, claro, tentar criar uma correlação do lema de Bolsonaro ao “American First”, utilizado pelo presidente Donald Trump em 2016. O slogan de Trump, no entanto, não evoca de modo algum o coletivismo. No contexto eleitoral daquela ocasião, o “American First” indicava que seu governo, uma vez eleito, colocaria os Estados Unidos em primeiro lugar, em vez do bem-estar global. Mais razoável. Afinal, quem paga a orquestra, escolhe a música.

Ao dizer que o Brasil está acima de tudo, Bolsonaro repete o mantra militar que certamente influenciou sua formação – e que ainda permanece no inconsciente coletivo de uma república forjada pelo positivismo.

Explico: as forças armadas são provavelmente, e em qualquer país do mundo, o mais doutrinado grupo humano. É preciso cultivar uma adoração à pátria doentia, que beira à psicose coletiva, para que homens, se necessário, sacrifiquem suas próprias vidas em prol do coletivo. Esse modelo de adoração à pátria tem se mostrado extremamente eficaz. Não é à toa, portanto, que regimes socialistas sempre beberam tanto da doutrina militar para controlarem a sociedade. Só que essa lógica de manipulação coletiva, obviamente, tem que terminar na caserna. Do lado de fora do quartel, a mentalidade tem que ser outra, por não combinar com um regime de liberdades individuais.

É isso o que assusta em Bolsonaro. Afinal, mesmo não sendo mais militar, parece querer aplicar na sociedade civil o autoritarismo e o conjunto de crenças que, naquele contexto específico, até pode ser útil. Bolsonaro agora é um civil que quer comandar a república – e é como tal que deve ser cobrado e deve agir. Ao dizer que o Brasil está acima de tudo, ele diz claramente que o coletivo (Brasil) está acima até mesmo dos indivíduos (brasileiros). A mais pura contradição com o ideal de uma sociedade aberta de livre mercado que caracteriza a direita moderna. Lembra o detestável lema “Brasil, ame-o ou deixe-o”, utilizado pelo Governo Médici, que dava a entender que os brasileiros deveriam ter a obrigação de amar o seu país. Nada tão autoritário.

Aqui, cabe lembrar: os brasileiros não são um meio para o Brasil prosperar. Os indivíduos não são um meio para qualquer finalidade. São fins em si próprios. O Brasil é que sim, enquanto entidade coletiva, é um meio para que os brasileiros – que gozam em comum uma cultura e um território – possam explorar suas potencialidades e liberdades. Não estamos, portanto, à serviço do Brasil: é o contrário!

A verdadeira direita do Brasil, que entende que seu lugar no mundo não é simplesmente protestar contra o PT e a esquerda, mas sim cultuar o individualismo e a liberdade, não pode se deixar enganar com o discurso fácil de Jair Bolsonaro. Sua conotação coletivista está no próprio slogan. Enquanto mantiver esse “Brasil acima de tudo”, deixa claro que é tudo, menos de direita.

*Escrito pela assinante Juliana Oliveira. Não necessariamente reproduz a visão dos editores do Boletim da Liberdade.

Aviso

As opiniões contidas nos artigos nem sempre representam as posições editoriais do Boletim da Liberdade, tampouco de seus editores.

plugins premium WordPress
Social Media Auto Publish Powered By : XYZScripts.com
Are you sure want to unlock this post?
Unlock left : 0
Are you sure want to cancel subscription?