A América Latina conta com um forte crescimento de ativistas no movimento liberal. Uma das grandes instituições protagonistas deste avanço é o Ladies of Liberty Alliance (LOLA), que tem como presidente no país a cientista política Nathaly Mérida. O Boletim realizou uma entrevista com Nathaly sobre ativismo. Entre outras coisas, ela abordou principalmente sua atuação como coordenadora do programa María Oropeza Activism Fellowship.
Confira a entrevista completa:
Boletim: Nathaly, como coordenadora e presidente da LOLA na Guatemala, como você vê o papel das mulheres no ativismo latino-americano?
Nathaly: As mulheres frequentemente demonstram um forte interesse pelo ativismo, mas a falta de educação e divulgação sobre essas iniciativas dificulta que elas se identifiquem como ativistas. Na Guatemala, assim como em outros países da América Latina, o conceito de ativismo está fortemente associado a ideologias políticas de esquerda. Isso apresenta um desafio, pois muitas das iniciativas promovidas são influenciadas por esses ideais, deixando poucas oportunidades para as mulheres explorarem e desenvolverem um tipo diferente de ativismo. Isso destaca a importância de criar plataformas pró-liberdade para fomentar o ativismo em toda a região.
Boletim: Que tipo de apoio vocês oferecem aos participantes durante o programa, especialmente quando enfrentam desafios em seu trabalho de ativismo?
Nathaly: Nos esforçamos para oferecer um apoio abrangente aos nossos fellows. Isso inclui sessões de treinamento educacional e orientação personalizada adaptada às suas necessidades específicas. Cada fellow é acompanhado por um tutor que os guia ao longo do programa e por um mentor especializado na área que desejam desenvolver. Além disso, como parte da equipe María Oropeza Activism Fellows, estamos sempre disponíveis para apoiar os fellows em momentos difíceis, buscando ajuda externa, criando soluções conjuntas ou consultando especialistas. Nosso objetivo é garantir que eles se sintam apoiados e nunca sozinhos ao enfrentar os desafios de seu trabalho de ativismo.
Boletim: Você estudou ciência política. Como acredita que essa formação ajuda a entender e enfrentar os desafios na LOLA?
Nathaly: Minha formação em ciência política me ajudou a compreender melhor os riscos e desafios que os ativistas enfrentam, particularmente aqueles que defendem a liberdade, como nossas fellows. Muitas das iniciativas que elas desenvolvem desafiam diretamente as estruturas de poder, o que pode incomodar governos e, em alguns casos, representar riscos à segurança. Meus estudos me ensinaram a ser estratégica e a entender as dinâmicas de poder locais e nacionais, permitindo que eu oriente as ações de nossas ativistas de forma eficaz. Esse conhecimento também me permite equipá-las com ferramentas para se sustentarem e avançarem em seus projetos.
Boletim: O que mais te inspira no trabalho com o programa de ativismo e com os participantes?
Nathaly: Sem dúvida, o que mais me inspira é a paixão que cada fellow demonstra. Suas histórias de vida, o que as motiva a seguir em frente e a dedicação que trazem para seus projetos são verdadeiramente impressionantes. Todos os dias, sinto-me motivada a ajudá-los a alcançar seu pleno potencial. Vejo neles liderança, determinação e compromisso, e meu objetivo é ser alguém que promove esses princípios — não apenas neles, mas também em todas as mulheres que eles impactam por meio de seu ativismo. É um privilégio fazer parte desse crescimento.
Boletim: Quais habilidades específicas você espera que os participantes desenvolvam durante o programa?
Nathaly: Espero que os participantes desenvolvam a capacidade de visualizar seu futuro, estabelecer metas claras e criar um plano para alcançá-las. Por meio deste programa, quero que aprendam a se apresentar de forma eficaz à mídia, comunicar seus projetos com confiança em público e se tornarem líderes influentes. Além disso, buscamos capacitá-los com as habilidades necessárias para garantir financiamento e tornar suas iniciativas autossustentáveis ao longo do tempo. Essas competências não apenas permitirão um impacto imediato, mas também ajudarão a construir um legado em suas comunidades.
Boletim: Quais resultados já foram alcançados com o programa na América Latina e que diferença ele pode fazer em outras regiões?
Nathaly: Atualmente, estamos treinando 10 mulheres excepcionais na América Latina, incluindo cinco do Brasil. Cada uma delas está causando um impacto significativo em suas comunidades por meio dos projetos que estão desenvolvendo. Este é o primeiro fellowship no mundo especificamente projetado para ativistas libertárias, e ter uma representação tão ampla da América Latina é uma grande conquista. Esta região se destaca como uma das mais ativas em termos de ativismo, e ter essas mulheres como um farol de liberdade nesse contexto é, por si só, um feito substancial. Estou confiante de que este programa pode servir como modelo para outras regiões, demonstrando o valor de empoderar ativistas libertárias.
Boletim: Como você enxerga o futuro do ativismo na América Latina e na América do Norte, e como acredita que o programa LOLA pode influenciar esse futuro?
Nathaly: Eu imagino um futuro onde falar sobre ativismo focado na liberdade não seja mais um tabu, mas algo mais amplamente conhecido e menos estigmatizado. Espero que, no futuro, por toda a América Latina e em todo o continente, existam mais plataformas e espaços onde ativistas possam se reunir — não apenas em eventos, mas também em iniciativas que busquem desenvolver e fortalecer as ideias de liberdade em seus países. Acredito que o MO Activism Fellowship da LOLA já influencia esse futuro ideal. As fellows são exemplos vivos do que as mulheres podem alcançar. Por meio de seus esforços, estão construindo conexões que, em alguns anos, contribuirão para um ecossistema mais forte de ativismo alinhado aos princípios da liberdade.