Por Miguel Pretto*
Chegamos ao último mês do ano, e com ele, a reflexão e o tradicional balanço dos eventos e das atividades que realizamos durante os onze meses iniciais. Revisamos as metas estipuladas em janeiro, agradecemos pelo ano que passou e nos preparamos para o ano que está por vir. Tratando-se de agradecimentos, os habitantes do estado do Rio Grande do Sul poderiam não ter razões para agradecer. Nosso estado passou pela maior crise ambiental de sua história, uma enchente que devastou – ao longo do mês de maio – vidas, propriedades e até mesmo a liberdade de ir e vir dos residentes do Rio Grande do Sul.
No estado inteiro, foi colocada em xeque a capacidade do Estado brasileiro de mobilizar, de maneira eficiente, recursos para a reconstrução e a implementação dos resgates daqueles que ficaram impossibilitados de sair de suas casas. A ineficiência do Estado na atuação e remediação do ocorrido abriu espaço para que os indivíduos pudessem mostrar sua capacidade de adaptação e de resolver os problemas.
A famosa frase “o povo pelo povo”, que ecoou por todo o estado como um grito de liberdade de um povo que se viu sufocado pelas águas e abandonado pelo governo, refletia o sentimento de desamparo da sociedade gaúcha perante um Estado que muito prometeu mas pouco entregou. As promessas do governo ficaram em boa parte no papel, e mesmo as que foram efetivadas não atingiram a parte mais pobre da população, aqueles que mais necessitavam dessas medidas de auxílio.
Em âmbito nacional, o governo promete um corte de gastos profundo, porém entrega um ajuste fiscal com sérios problemas; promete isenção de Imposto de Renda para a população que ganha menos, porém não tem nenhuma solução para o controle da inflação, desvalorizando a moeda e destruindo o poder de compra dessa população mais frágil. Será que não está na hora de refletirmos sobre isso também?
Se as enchentes de maio nos comprovam alguma coisa, é que a capacidade do indivíduo, por meio da cooperação voluntária, pode superar qualquer desafio. A resiliência (conceito proveniente da Física que representa a capacidade de um corpo de acumular energia sem sofrer deformação permanente) é uma palavra que define não só os gaúchos, mas todo o povo brasileiro. Nossa capacidade de nos adaptarmos aos problemas e buscarmos soluções criativas é o que nos faz um povo tão interessante.
Chegado o fim do ano e refletindo sobre esses acontecimentos, será que devemos acreditar nas falsas promessas daqueles que, quando mais precisamos, não tiveram a capacidade de nos ajudar? Que no próximo ano que se avizinha, possamos nos perceber e não nos deixar enganar pelas falsas promessas daqueles que muito nos prometem mas pouco nos entregam.
Miguel Pretto é associado do Instituto de Estudos Empresariais