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Decifrando o código do Progressistas

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*Por Marcus Vinicius Dias

Um dos grandes desafios práticos de um médico, especialmente dos recém formados, é transmitir, numa linguagem compreensível para o seu paciente, uma hipótese diagnóstica, uma proposta terapêutica, uma ideia de prognóstico ou orientações e restrições pós tratamento. Há um indefectível distanciamento entre o linguajar apreendido nos livros e nas aulas da Faculdade de Medicina, e o inteligível pelo paciente no dia-a-dia da prática clínica. Há, portanto, uma necessidade de se encontrar palavras que atuem como mediadoras entre o jargão técnico-científico da academia e o português falado, e compreendido, pelo conjunto de pacientes. Sem essa mediação, que o tempo e a prática nos fornece, o objetivo final do ofício médico fica prejudicado.

Uma das técnicas utilizadas para se alcançar essa perfeita comunicação é lançar mão, por exemplo, de ilustrações concretas e acessíveis ao nosso paciente, do tipo: para explicar uma fratura de um osso longo, como o fêmur, a comparamos com a ruptura de um encanamento; para se explicar um quadro de insuficiência cardíaca, se exemplifica a fadiga de um motor; para tornar um surto epilético tangível, se faz a analogia com um curto-circuito de uma rede elétrica, e por aí vai… Outra técnica muito útil, especialmente no que diz respeito a orientação de dieta alimentar, carga pós operatória, restrição de atividades laborais etc, é recomendar ao paciente: “pode andar, mas não correr”; “pode tomar café, mas com adoçante”; “pode isso e não aquilo”.

Assim como na Medicina, na prática Política, muitas vezes, se faz necessário o discurso mediador entre o que é dito pelo líder político para os seus liderados, opositores e apoiadores e o que se deseja de fato transmitir. A mensagem, por mais clara que seja, uma vez que se utiliza de linguajar mais técnico e corriqueiro do metiê, necessita ser, na maioria das vezes, transposto para uma linguagem mais acessível aos não iniciados, de modo a não deixar que o “diagnóstico” não seja absorvido por quem o recebe e, pior, que o “tratamento” não seja seguido por quem a ele foi prescrito.

Num intuito de tentar mediar a recente propositura do Progressistas de 11 pontos, ditos pétreos, de sua agenda política central (vejam vocês que ousadia da minha parte), lançando mão de técnicas que aprendi ao longo das últimas 3 décadas na prática diária da assistência, vou procurar traduzir, numa linguagem exemplificativa, o que o senador Ciro Nogueira, presidente do partido, quis abarcar em cada um destes pontos sintéticos apresentados num relatório votado e aprovado por unanimidade pela Executiva da legenda.

1 – Respeito à Constituição Federal e Segurança Jurídica: dito de outro modo, obediência ao regramento maior da legislação brasileira, sem espaço, por óbvio, ao descumprimento explícito da normativa e tampouco interpretá-la, a cada momento, a partir de uma visão casuística e conveniente da ocasião; pode-se mudar a regra, por meio do legislativo, de acordo com o devido processo; não vale se alterar, a depender do vento, a regra por meio de um poder outro não competente, ou pelo poder competente fora do devido processo legislativo.

2 – Políticas Fiscais Equilibradas e Contra o Aumento de Impostos: não vale gastar mais do que se arrecada, meus caros. Mas também não vale aumentar o preço da consulta para ganhar mais. Tem que fazer o bolo crescer atendendo mais gente e de modo melhor, sem aumentar o valor de quanto se cobra pela unidade de serviço prestado.

3 – Investimento e Valorização dos Profissionais da Saúde e da Educação: não basta construir escolas e hospitais. O foco principal não é parede, é capital humano. Não é equipamento, é gente.

4 – Liberdade Econômica e Direito de Propriedade: não é o governo que dita o quê e por quanto você vai vender seu produto. Não cabe ao Estado dirigir o empreendedor. Corra risco, e assuma a responsabilidade por isso. Não é o país que vai te impedir de crescer. Mas também não cabe ao contribuinte, caso você planeje mal e algo dê errado, vir te socorrer. Não cabe ao governo ser seu sócio majoritário. Não cabe ao Estado os louros do seu dividendo; mas também não venha depois querer ratear o seu eventual prejuízo. Importante: o que é seu, é seu e ninguém tasca! É o programa “sua propriedade, sua vida”.

5 – Eficiência no Gasto Público e Gestão Profissional das Estatais: esse tópico é consequência imediata do tópico 2. É indissociável. O que é público, ao contrário de não ser de ninguém, é de todos e, portanto, os acionistas desta conta não são voluntários, uma vez que o imposto não é facultativo. Deve-se, então, ter uma diligência ainda maior do que na iniciativa privada, onde os sócios tem a opção de “vender suas posições” e sair do rateio.

6 – Investimento em Infraestrutura e Desenvolvimento Sustentável: não adianta ter o carro, se não tem onde usá-lo. Não basta o avião, se não tivermos aeroportos fora do eixo dos grandes centros para aterrisar; não é o suficiente ter a maior produção de alimentos do mundo, se não tivermos meios eficientes de se transportar o milho do centro-oeste até uma zona portuária litorânea. Mas também não adianta, de nada, se construir uma rodovia que tenha que destruir áreas nobres de biomas; de nada vale fazer uma ferrovia que em 2 anos já estará sem condição de uso; não adianta construir aeroporto onde ninguém quer pousar.

7 – Valorização do Turismo e Cultura Brasileira: de que vale a beleza do Cristo Redentor, se ninguém puder aproveitar sua vista?; de que adianta ter trocentos mil quilômetros de litoral se as águas não puderem ser utilizadas para banho?; quanto vale uma bela cachoeira num local em que não há como se hospedar? E como vamos nos afirmar como um país relevante no cenário mundial se nossa língua, nossa pintura, nosso teatro, nossa dança, em suma, nossa arte e brasilidade não for conhecida e reconhecida por nós brasileiros?

8 – Proteção Social e Inclusão: Valores Centrais para um Brasil Justo: “amar ao próximo como a ti mesmo”, dito há mais de 2 mil anos lá do outro lado do mundo, em 1789 criou um ambiente para se tornar universal os valores de “Igualdade, Liberdade e Fraternidade”. Não adianta dizer para o recenseador do IBGE que professa tal fé; não basta dizer no púlpito ou na tribuna que é preciso olhar pelos pobres. É necessário crescer, sim, mas sem deixar ninguém para trás.

9 – Inovação, Flexibilidade Laboral e Política Externa: Soluções novas para problemas antigos “insolúveis”, e para os desafios surgidos pelos tempos atuais. Sair fora da caixa e olhar sob novos ângulos as nossas mazelas como país. Valorizar o talento, a entrega, e não tanto o formalismo cartorial; permitir arranjos  que funcionem bem para quem contrata e para quem é contratado. Nos olhar e nos mostrar para fora. Levar para o mundo os nossos ativos; e trazer para dentro do país aquilo que lá fora tem se mostrado comprovadamente eficiente. Andar ao lado dos tubarões, e não ficar fazendo parte só da patota de sardinhas.

10 – Liberdade Religiosa, Valorização da Família e da Vida: cada um crê naquilo que lhe convier; ou não crer em nada. A ambos será assegurado o direito de crença, ou, se quiser também, de descrença. O fundamental, além desta segurança, é a garantia do respeito, igualmente conferido, a qualquer cidadão, independente daquilo que ele professa. No ensino fundamental se aprende que a família é a célula da sociedade. Como se pode defender o todo _ no casa a sociedade _ não se valorizando a parte? Não se pode defender o bairro, o município, o estado, a região, ou o país, sem a defesa intransigente de seus componentes individuais e de sua célula mater. E, por fim, de que vale diploma, dinheiro, sucesso etc para quem está morto? Assegurar o direito à vida é a premissa básica para que se busque a defesa dos direitos subsequentes. Quem não defende a vida humana, não é digno de ser defensor de nenhuma outra conquista civilizacional.

11 – Segurança Pública, Combate às Drogas e à Corrupção: Não se pode sair de casa para ir ao trabalho com a pulga atrás da orelha sem saber se volta vivo; não se pode deixar de ir ao cinema por se ter receio de que quando se retornar à casa, ela esteja saqueada; não se pode deixar uma criança sem escola porque naquela região uma bala pode acertar sua cabeça; não se pode tolerar como normal que a todo momento uma mãe enterre o seu filho que foi atingido por um tiro na cabeça; não se pode aliviar quem destrói uma vida ao viciá-la numa substância que a levará à ruína. Não se pode, tampouco, desviar dinheiro da fonte de custeio de todas as políticas públicas defendidas nestes 11 pontos. Portanto, “não roubarás”!

Subscrevendo esses postulados, em conjunto com a atual Executiva Nacional dos Progressistas, além de Vereadores, Deputados, Senadores, Prefeitos e Governadores do partido, seguramente há pelo menos mais 3 assinaturas que validam estas teses: Milton Campos, Roberto Campos e o inesquecível Francisco Dornelles. E com a chancela destes gigantes da História dos Progressistas, só há um caminho a ser seguido pelo partido: não só aprová-las em seu regimento, mas, sobretudo, seguí-las em sua integralidade em seu modo de fazer Política.

*Médico e gestor público, com MBA em Gestão em Saúde pela USP e Mestrado em Economia no IBMEC

Aviso

As opiniões contidas nos artigos nem sempre representam as posições editoriais do Boletim da Liberdade, tampouco de seus editores.

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