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Não faz diferença ser Paulo ou ser Fernando

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Emil Ludwig é autor de uma das biografias de Abraham Lincoln. Uma biografia romanceada, assim como as demais que ele escreveu. Romanceada e bela. Lincoln foi eleito presidente dos Estados Unidos, sem um voto sequer do povo do sul. E. Ludwig conta que antes da posse do presidente, nove estados do sul, reunidos em Montgomery, declararam-se confederados e regidos por uma constituição quase análoga à que observavam. Para não ter Lincoln como presidente, o povo do sul elegeu um senador do Mississippi, Jefferson Davis para a Presidência. No meio desse conflito, Lincoln iniciou a escolha dos ministros para o governo dele e travou com um amigo o seguinte diálogo:

– Eu poderia formar um ministério capaz de evitar a guerra.
– Mas todos que você quer são democratas!
– Bem sei. Entretanto preferiria para meus colaboradores os democratas que conheço no lugar dos republicanos que nunca vi.

Lincoln não queria a guerra. Não foi nada fácil o tempo dele na Presidência. Ele enfrentou a guerra de americanos contra americanos em razão de uma questão absurda: a escravidão. Lincoln conseguiu encerrar a guerra, mas foi assassinado. O cinema onde ele morreu é hoje um museu, que conta o fato com detalhes e imagens. Eu estive lá. Nas paredes de um dos lados dos corredores está registrado o dia do presidente do café da manhã até o momento em que ele levou o tiro no camarote. Nas paredes do outro lado, está o dia inteiro do assassino. A exposição é para que ninguém esqueça que se tratou de um ato frio e bem planejado. John Kennedy pode ter morrido pelo mesmo motivo, o ódio de uma parte do povo por outra parte, por coisas sem sentido.

Por aqui, tivemos eleição para presidente e hoje é tempo de escolha de novos ministros. Isso acontece em meio a uma guerra entre brasileiros, mas não me parece que isso incomoda o presidente que sai e o presidente que entra. A discussão posta neste momento é sobre a distribuição dos cargos. Então, volto ao livro de Ludwig: “Porém, quando o juiz Davis exige para si e para os seus, determinados cargos, Lincoln, exasperado, declara-se farto dessas insistências.” Os nossos presidentes até gostam.

A Constituição Brasileira, remendada e remexida em quase todos os pontos, conserva como competência privativa do Presidente da República nomear e exonerar os Ministros de Estado e exercer, com o auxílio deles, a administração federal. E dá aos ministros a obrigação de praticar os atos pertinentes às atribuições que lhe são conferidas pelo Presidente da República. Ou seja: obediência cega. Discordou? Cai fora!

Então, sejam quais forem os escolhidos por Lula para o ministério, ele é quem manda e será dele a responsabilidade sobre o que fizerem ou deixarem de fazer. Por isso, frustraram-se os eleitores que votaram no Jair Bolsonaro em 2018, por ele ter escolhido Paulo Guedes para o Ministério da Economia. O que Paulo quis, Jair não pretendeu fazer. Fez-se a vontade do Jair e não do Paulo. Jair perdeu a eleição e Paulo, o péssimo emprego que ainda tem.

Agora, após Jair Bolsonaro, está mais do que provado que desde Fernando Collor e Itamar Franco os presidentes pensam administração pública do mesmo modo. Onde Collor e Bolsonaro colocaram uma interrogação, Itamar, Fernando Henrique, Lula, Dilma e Temer colocaram uma exclamação. Nenhum deles colocou um ponto final no desrespeito que os agentes do Estado Brasileiro têm pelo contribuinte.

Os presidentes e os ministros gastam como se não houvesse amanhã e justificam a irresponsabilidade com o argumento da necessidade de aplacar a fome de quem não tem o que comer. Entretanto, essa turma que eles dizem ter fome, com fome continua e ela cresce na mesma velocidade que a arrecadação e o desrespeito com os impostos.

Com Lula e Haddad, o povo brasileiro permanecerá onde sempre esteve, porque vota sem saber exatamente o que quer, critica os insucessos sem saber a razão deles e se divide numa briga onde de um lado está quem não quer ter um presidente que, na essência, é igualzinho ao presidente que gostaria de ter.

A nossa sorte é existir um ambiente chamado mercado, porque ele tem o poder de multiplicar as migalhas que caem da mesa do poder para transformá-las em novas riquezas, que não deixam a economia morrer de vez. Por isso ainda estamos de pé e respirando.

Foto: José Cruz/Agência Brasil

Aviso

As opiniões contidas nos artigos nem sempre representam as posições editoriais do Boletim da Liberdade, tampouco de seus editores.

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