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Triste fim!

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Hoje, na série de análise sobre a eleição presidencial deste ano, eu comento a quarta derrota do Ciro Gomes. Ele acreditava que este ano conseguiria ter uma campanha diferente das demais, por ter contratado o mago João Santana, que apresentou a Dilma ao povo brasileiro como uma estadista, “mãe do PAC”, gestora eficiente, enfim, tudo o que ela nunca foi. Mas, nem João Santana, conseguiu vencer a única fragilidade que Ciro Gomes tem na imagem. Ciro é pedante. É um erudito num pagode.

Ciro disputou em 1998, 2002 e 2018 estacionado na faixa um pouco acima dos 10% dos votos válidos. O melhor resultado ele conseguiu em 2018, quando alcançou o percentual de 12,47%. Este ano, Ciro derreteu até chegar a 3,04% dos votos válidos, resultado que o Ceará ajudou a compor, quando lhe deu pouco mais de 6%. Lá, Ciro não contou sequer com o apoio dos irmãos. Ciro comentou que a decisão deles abriu-lhe uma ferida nas costas.

A causa de todas as derrotas do Ciro é a mesma. Ele é erudito quando se comunica com o eleitor e soa falso quando tenta não ser pretensioso. Em todas as oportunidades em que ele se apresenta ao público, nas entrevistas, nos debates, nas ruas e até ao carregar um santo padroeiro, uma novidade que trouxe para esta eleição, Ciro é pedante. Ele fala bem e manuseia os números com uma agilidade e arrogância que impressionam.

Ciro rebate as críticas com carteiradas: “Eu sou muito treinado. Eu sou uma pessoa muito séria. Eu conheço o povo brasileiro na intimidade. Eu conheço a História do Brasil como ninguém”, Frases que ele usa para encerrar o assunto com quem lhe pede melhores explicações. Para Ciro Gomes, se ele diz, o interlocutor tem a obrigação de acreditar e aceitar. Duvidar de Ciro Gomes é ato de ignorância.

O Pedantismo do Ciro trouxe para o discurso político os termos “Enciclopedismo raso”, “o paradigma pedagógico” e outras composições semânticas esquisitas. Ciro não explica. Não tem paciência para explicar. Ele, simplesmente, sabe e ponto final.

Quando fala, Ciro lembra o Major Quaresma, magnífico personagem de Lima Barreto: “Um dia era o petróleo que lera em qualquer parte, como sendo encontrado na Bahia; outra vez, era um novo exemplar de árvore de borracha que crescia no rio Pardo, em Mato Grosso; outra, era um sábio, uma notabilidade, cuja bisavó era brasileira; e quando não tinha descobertas a trazer, entrava pela corografia, contava o curso dos rios, a sua extensão navegável, os melhoramentos insignificantes de que careciam para se prestarem a um franco percurso da foz às nascentes. Ele amava sobremodo os rios; as montanhas lhe eram indiferentes. Pequenas talvez…”

E, para que ninguém, ninguém mesmo duvide da superioridade de Ciro Gomes, ele encerrou a campanha com duas declarações indiscutivelmente pedantes. A primeira, quando reconheceu a derrota: “Quero dizer a vocês que eu estou profundamente preocupado com o que estou assistindo acontecer no Brasil. Como vocês sabem eu vou inteirar 65 anos de vida e tenho 42 deles dedicados ao meu amor e à minha paixão pelo Brasil. Eu nunca vi uma situação tão complexa, tão desafiadora, tão potencialmente ameaçadora como Nação”. Ciro viu o que os mais de 100 milhões de eleitores não conseguiram ver e por isso, votaram em Bolsonaro e Lula.

Ciro não foi diferente, quando avisou que acompanhará o PDT no apoio ao Lula: “Meus amigos. Minhas amigas, acabamos de realizar uma reunião da Executiva Nacional ampliada do PDT, quando, por unanimidade, nós tomamos uma decisão. Eu gravei esse vídeo para dizer que acompanho a decisão do meu partido, o PDT. Frente às circunstâncias é a última saída…”. E mais não disse, nem esclareceu, porque se ele disse, está dito. É suficiente!

A campanha deste ano mostrou ao Ciro que ele não precisa de um publicitário e sim de alguém capaz de fazer com que ele seja simples no dizer, no prometer e no agir. Ciro precisa de alguém capaz de mostrar a ele que não são os livros que leu ou escreveu, nem a experiência dele com as coisas do Brasil, nem a erudição perfeita, os elementos que decidem as eleições. Elas são decididas pelos eleitores, que votam mais com o coração do que com a razão, mais com a esperança do que com o desespero.

Na próxima semana, trarei as minhas considerações sobre o que aconteceu com o Partido Novo. Até lá.

Foto: Marcello Casal Jr./Agência Brasil

Aviso

As opiniões contidas nos artigos nem sempre representam as posições editoriais do Boletim da Liberdade, tampouco de seus editores.

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