Entre os liberais, há um consenso de que o investimento do estado em cultura deve ser diminuto, dada as causas prioritárias, e muitas vezes esquecidas, em que o dinheiro dos impostos deve ser usado. É um caso para se avaliar, se este é um consenso para a maioria da população brasileira ou não. Eu acredito que sim.
Recentemente, pipocaram nos portais de notícias e pelas redes sociais algumas informações de que famosos cantores, com posicionamentos políticos da esquerda à direita, receberam altas quantias de dinheiro público, em alguns casos a cifra chegava a milhão, para realizar um único show. Um dos casos mais marcantes foi o pagamento de R$800 mil por um show feito em uma cidade de apenas 8 mil habitantes.
A população se enfureceu e partiu ao ataque contra esses artistas, manifestaram seu descontentamento com cobranças nas redes sociais, críticas por tweets, correntes de whatsapp e até mesmo o unfollow. É possível perceber em alguns casos a indignação seletiva, reclamações voltadas ao sertanejo bolsonarista ou à cantora pop lulista. Mas a maioria das reclamações independe do posicionamento político do artista.
Há algo nobre nesta situação. A moral da população é diretamente atacada quando se depara com um gasto exorbitante, principalmente quando este não é direcionado para as principais necessidades das pessoas, enquanto filas em hospitais aumentam e as escolas se mostram cada vez mais precárias. Mas o erro está no alvo do ataque.
Revoltada com a situação, e com razão, a população escolheu apontar os artistas como alvo e direcionou toda sua artilharia para eles, talvez na tentativa de constrangê-los, de forma que evitem as propostas por esses shows. A verdade é que os artistas fazem parte de um ciclo vicioso de décadas, em que prefeitos, a maioria de pequenas cidades, contratam shows e artistas com intuito de obter ganhos eleitoreiros, promovendo uma grande festa que lhe garanta popularidade e até a reeleição.
O alvo, portanto, da revolta da população e das investigações deve ser voltado aos prefeitos, e aos políticos em geral, que promovem tais shows com dinheiro do povo para se beneficiar eleitoralmente. Ao mirarmos na fonte do problema, cortaremos o mal pela raiz e impediremos a perpetuação deste ciclo e, queira Deus, a reeleição de muitos deles.