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Ex-deputada lacerdista Sandra Cavalcanti morre no Rio de Janeiro

Liderança da antiga União Democrática Nacional defendia a liberdade de ensino e o fortalecimento da presença da iniciativa privada
Sandra Cavalcanti (Foto: Arquivo Nacional)

Faleceu nesta sexta-feira (11), vítima de uma parada cardíaca, aos 96 anos, a ex-parlamentar Sandra Cavalcanti. Liderança da antiga União Democrática Nacional (UDN) que atuou ao lado de Carlos Lacerda, figura mais conhecida do partido, ela era conhecida por sua defesa da fé católica e suas teses geralmente favoráveis à iniciativa privada.

Quem foi

Formada em Letras pela Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-Rio), Sandra Cavalcanti foi professora do Instituto de Educação, vereadora do Distrito Federal entre 1955 e 1959, secretária de Serviços Sociais do antigo estado da Guanabara no governo Carlos Lacerda e deputada estadual no mesmo estado entre 1960 e 1963.

Ela também foi presidente do Banco Nacional de Habitação (BNH) no governo Castelo Branco, deputada estadual entre 1975 e 1979 e deputada federal entre 1987 e 1995, sempre pelo Rio de Janeiro. Sua primeira eleição foi com 15.513 votos, com apoio da escritora Rachel de Queiroz. [1]

Sandra Cavalcanti foi convidada pelo presidente Jânio Quadros para ser embaixatriz do Brasil na UNESCO, mas declinou, defendendo o fim dos carros oficiais e o direito de os homens serem professores primários. Sua atuação na secretaria de Serviços Sociais envolveu a remoção de favelas que viraram conjuntos habitacionais, o que sempre foi motivo de críticas de seus detratores. Foi incentivadora, na presidência do BNH, das cooperativas habitacionais.

Em 1974, elegeu-se como a mais votada do seu partido, a Arena, com 34.516 votos, à Assembleia Constituinte Estadual na nova unidade da Federação. Foi deputada federal constituinte em 1988 e, em 1995, assumiu a Secretaria Extraordinária de Projetos Especiais da Prefeitura do Rio de Janeiro, tendo coordenado, dois anos depois, a visita do Papa João Paulo II à cidade.

Foi ainda diretora de um jornal na TV Tupi, teve participação no corpo de jurados do programa de Flávio Cavalcanti e estrelou o programa Manchete Shopping Show, na TV Manchete. Torcedora do Botafogo, ela detinha os títulos de Comendadora da Ordem do Infante D. Henrique de Portugal e a Ordem do Mérito Militar no grau de Grande-Oficial especial.

Nas eleições de 1982, Sandra Cavalcanti disputou o governo do Rio. Ela dizia que derrotar Leonel Brizola seria um “dever cívico”, mas ficou em quarto lugar com cerca de 10% dos votos. Candidata à prefeitura do Rio de Janeiro pelo PDR em 1985, acabou apoiando Rubem Medina, que a convidou posteriormente a se filiar ao Partido da Frente Liberal.

 

Ideias

Sandra Cavalcanti acreditava, assim como Carlos Lacerda, que líderes carismáticos tinham importância, mesmo em um regime democrático, e não podiam ser associados exclusivamente ao autoritarismo. Ela defendeu a existência de bancos estaduais de caráter estatal, ainda que modestos, para fornecer créditos a pequenos empreendimentos.

Para ela, a participação popular e o espírito de associação deveriam ser incentivados. Era também uma grande defensora da energia nuclear. Dizia que era um desperdício de dinheiro criar organismos estatais para realizar tarefas que a iniciativa privada seria capaz de desempenhar.

Apontou, em seu livro Política nossa de cada dia (1982), que os regimes totalitários manipulam a educação: “Nos chamados países livres, onde as criaturas ainda são tratadas como seres racionais, dotados de vontade própria e inteligência, a educação é múltipla. As escolas seguem várias correntes de pensamento, de acordo com os segmentos diferenciados da sociedade.”

Afirmou ainda na mesma obra que “o atual modelo econômico do Brasil está muito mais perto do modelo socialista, preconizado pelas esquerdas caboclas, do que de um modelo que respeite a livre empresa. Ou seja: aqui, entre nós, o Estado é todo-poderoso de duas maneiras: pela imensa área que já ocupou e tomou para si e pela tirania que exerce impiedosamente sobre a iniciativa privada”.

Ela apoiava a legalização do jogo do bicho, a gestão do Carnaval carioca por grupos privados e a descentralização dos recursos do orçamento estatal, com uma reforma tributária e do pacto federativo. Preocupava-se com o meio ambiente e com o desenvolvimento do transporte ferroviário.

Depoimentos

A Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro emitiu nota dizendo que Sandra Cavalcanti foi “protagonista de uma importante trajetória política no país e teve uma marcante passagem pela Alerj como uma parlamentar extremamente atuante em prol do Estado do Rio e de sua população”. [2]

O presidente da Assembleia, André Ceciliano (PT-RJ), declarou que “a lembrança que fica da história da Sandra Cavalcanti é de uma parlamentar altiva, convicta das suas ideias, combativa e defensora das causas sociais. Certamente, ela deixou um relevante legado na política do nosso estado e do Brasil. Foi uma brilhante deputada no período em que exerceu mandato na Assembleia”.

O ex-presidente da Juventude da UDN entre 1963 e 1965, ex-assessor do governo Carlos Lacerda e presidente da Liga da Defesa Nacional, Pedro Ernesto Mariano de Azevedo, comentou ao Boletim: “Ela foi uma das pessoas que mais admirei em toda a minha vida. Inteligente, vibrante, excelente administradora, por onde passou deixou realizações de grande valor social e econômico. Sua correção e firmeza de convicções estavam baseadas em sólidos princípios e valores cristãos. Ela merece ser homenageada dando-se o seu nome a uma rua de nossa cidade”.

Já Mauro Magalhães, empresário, ex-deputado estadual e líder do governo Carlos Lacerda na Assembleia Legislativa, ressaltou que “Sandra, além de ter sido uma exemplar parlamentar, foi, como secretária no Governo Carlos Lacerda, responsável pela implantação das Vilas Kennedy, Aliança, Esperança, o que permitiu que os favelados passassem a viver em moradias dignas”.

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