A Cedae é a bola da vez. A Geni. Quem tem espaço para se pronunciar sobre qualquer tema, nos últimos dias escolheu a Cedae. Eu também já fiz isso, num podcast, quando critiquei a comunicação do governo. No jornal O Globo deste domingo, Gustavo Franco deu ao assunto o sugestivo título de “Verão Chernobyl” e abriu o texto com um mal presságio: “O Rio de Janeiro está sofrendo mais um desastre, que pode não ter, até o momento, a gravidade de Brumadinho ou Chernobyl, mas não há dúvida que a dinâmica é parecida.”
Retorno ao tema agora sobre outro aspecto, o da administração pública e peço licença para um exemplo tirado da vida pessoal.
Ingressei no Banco do Brasil em 1985. Naquele tempo – não sei se a rotina permanece – quem assumia uma função de chefia, sentia-se obrigado a conversar com quem já estava no ambiente, para conhecer os problemas, o andamento dos projetos, as dificuldades e soluções já tentadas, porque, na empresa, quem chefiava não escolhia os chefiados. Eles eram selecionados num processo nacional de avaliação.
Então, sem diálogo com quem já estava no pedaço, um chefe não conseguiria trabalhar e, se tentasse, quebraria a cara.
Uma situação como a ocorrida com a Cedae pega um governador desprevenido, porque a rotina do serviço público não é a que conheci no Banco do Brasil. Quem assume uma função pública inicia a nova vida com duas prioridades: quem será nomeado para os cargos subordinados e que mirabolâncias deve fazer para ser visto e admirado, tudo isso vinculado diretamente ao objetivo fundamental: manter o poder e disputar novas funções.
Quem assume uma função pública inicia a nova vida com duas prioridades: quem será nomeado para os cargos subordinados e que mirabolâncias deve fazer para ser visto e admirado
Ora, o governador Wilson Witzel, inesperadamente, venceu a eleição para o Governo do Estado, que ele e todo mundo sabia ter vindo de administrações caóticas. Se tivesse, por um instante, parado para entender a importância e o peso da máquina que teria que governar, certamente, encontraria a Cedae, que fornece um bem essencial, fundamental, indispensável, à vida. Se Witzel e seus escolhidos tivessem sentado por algum tempo com a turma que estava lá na Cedae, certamente, teriam ouvido sobre os riscos da ocorrência que ele, meio assustado e um tanto apressado, tenta enfrentar agora, não para evitar prejuízos à população, mas para diminuí-los.
Fala-se muito em reforma administrativa, uma das agendas mais velhas do país. No centro está sempre o servidor público, para uns, um “folgação” irresponsável, para outros, um elemento desprezado, que precisa ser valorizado. Quando no centro de qualquer reforma do Estado Brasileiro estiver colocado o contribuinte, aquele que paga a conta, certamente, as reformas darão melhor resultado. E, uma das coisas que precisa mudar, com urgência, é a cultura de quem busca exercer a função pública, por voto ou por nomeação.
Quem chega precisa ouvir quem já estava no ambiente, antes de sair a espalhar demissões e encaixar apadrinhados e afilhados com base num projeto de poder que, com certeza, teria melhores resultados se a população fossem bem atendida.
A verdadeira reforma que o Brasil precisa, eu não duvido, é a da cultura, do modo como se deve tomar decisões.
Ouvir antes de agir é a melhor estratégia para sustentar um projeto político. Pode acreditar.