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Lula terá o voto “liberal”

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Esses dias peguei um Uber para ir até Taubaté. – Posso antes parar para abastecer? – me perguntou o condutor – Pode, claro – respondi, sem pressa. Com o preço da gasolina nas alturas, quase todos os colaboradores da Uber têm optado por abastecer em postos com combustíveis GNV, mais baratos. Foi o que ele quis fazer. Desci do carro, como é recomendado pelo posto nestes casos, mas o frentista exigiu que o “kit gás” do carro tivesse o selo do Inmetro. Sem o tal selo, não poderia abastecê-lo. Partimos.

O motorista saiu em arrancada, procurando um outro posto GNV; sem bandeira, sem burocracia, para abastecer. No caminho, esbravejava:

– Era só o que me faltava, exigir agora o selo do Inmetro. Isso desvaloriza o carro na hora de vender!

À princípio fiquei confuso, confesso. Não sou familiarizado com essas coisas de carro. Pedi mais detalhes e ele me relatou que, além do custo de instalar o kit GNV com selo do Inmetro, o uso recorrente do gás pode estragar o motor, desvalorizando o veículo na hora de passá-lo adiante. Instalar o kit sem o selo, por sua vez, além de ser mais barato, permite que você retire o equipamento antes de revender o veículo, sem que o novo dono saiba e, portanto, mantendo o valor de tabela do veículo.

Pois é, o bom e velho cambalacho. Ou o “jeitinho brasileiro”, também conhecido como “Lei de Gerson”. Ao final, o motorista arrematou: – Por isso vou votar no Lula.

– Quando o Lula era presidente – ele continuou – não tinha essas coisas… essa fiscalização toda… Era mais fácil. O Lula podia roubar, fazer as coisas dele lá… mas para o trabalhador era melhor, porque pra gente que é pobre, não dá pra fazer tudo certinho… a gente vai se virando… Agora com o Bolsonaro – começou, polarizando-os:

– Com o Bolsonaro fica essa coisa aí de… ah, não pode roubar… não deixa os governadores roubar… daí eles ferram com a gente, de raiva… (sic)

Tentei, no diálogo acima, ser o mais fiel possível às afirmações, literais. O cara decidiu votar no Lula, mas por quê? Em um primeiro momento, o leitor mais desatento dirá que é por Lula roubar e deixar roubar. Rouba o Presidente, roubam os governadores, rouba o “trabalhador”, em seu dia a dia. Rouba ao revender o carro, ao comprar o “aparelhinho” para ter sinal à cabo, rouba ao não devolver o troco dado errado, rouba e engana sempre que tiver a oportunidade de passar o outro para trás. Bolsonaro, para ele, “honesto”, atrapalha. O “império das leis e da ordem” seria, para o pobre, apenas uma mera burocracia.

Se ele dissesse que toda essa estrutura era do Estado burguês para oprimir o povo pobre, talvez ele fosse marxista, mas como não disse, e como acredito na honestidade do brasileiro, prefiro pensar que ele é mais um liberal, mas não sabe.

Ele não quer ficar na ilegalidade. Ele quer preço mais baixo. Ele não quer dar “jeitinho”, mas sim menos burocracia. Quantas vezes nós, liberais, já não “passamos pano” para a sonegação fiscal? – Legítima defesa, diriam alguns. Estamos falando de uma das mais altas e complexas carga tributária do mundo. Estamos em vias de entregar nossos impostos de renda para o Leão, que nos manda calcular o quanto lhe devemos. É cruel.

Lula, neste caso, terá o voto deste liberal, pois a república petista do vale-tudo fala mais consigo e com seus problemas do que nós, os liberais, incapazes de lhe explicar as soluções que propomos para as velhas dores do brasileiro. Privatizar a Petrobrás, ampliar a concorrência, desburocratizar a legislação regulatória, facilitar a vida do empreendedor… nada disso lhe faria sentido em sua urgência. Quanto mais tempo o governo federal resistirá a canetar o preço do combustível? O liberalismo está perdendo.

Foto: Reprodução/PT

Aviso

As opiniões contidas nos artigos nem sempre representam as posições editoriais do Boletim da Liberdade, tampouco de seus editores.

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