Já não é a primeira vez que minha família questiona a definição de alguns termos do mercado financeiro. Desde que comecei a trabalhar em uma Fintech¹, há dois anos, as mesmas perguntas e tentativas de explicação permeiam nossos almoços de domingo. Papai, por exemplo, acredita que basta fazer um depósito numa conta imaginária com o nome do ativo no qual desejo especular² para que, no dia seguinte, uma quantia incalculável possa ser sacada. Uma amiga já é um pouquinho menos sonhadora, admitindo seu desconhecimento e perguntando as mesmas coisas sobre assuntos que não compreende. Em resumo, minhas explanações sempre recebem uma resposta em suspiro “ah, isso é muito difícil. Não entendo”.
A última frase causa indignação, mas explica muito sobre quem somos como nação³: Mulheres e homens que se acostumaram com uma realidade na qual as decisões importantes são centralizadas e tomadas pelo governo, incluindo as trocas. O Estado, teoricamente, desde sempre existiu com a premissa cínico-benevolente de gerar justiça social, redistribuindo a riqueza acumulada pela população. Se há algo ou alguém disposto a fiscalizar esse mecanismo me retornando benefícios sem esforço físico, por qual motivo procurarei entender seu funcionamento?
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Essa é a ideia inconscientemente implantada nos cidadãos do nosso país. Não ensinamos as gerações anteriores – e tampouco a atual – a compreender o sistema de trocas em que estamos inseridos, redistribuindo pobreza aos contribuintes e engordando os cofres públicos dos “sábios estatistas” (por favor, percebam a forte ironia). O fato é que nossas vidas são controladas pela instituição que está monitorando o sistema de trocas. Infelizmente, há milhares de anos notou-se que a falácia do almoço grátis poderia não só manter as pessoas sob controle, mas restringir-lhes a liberdade e sustentar os responsáveis. Assim se formou a maior quadrilha institucionalizada da face da terra. Sim, estou falando do Estado de novo.
Neste primeiro momento, não pretendo defender criptomoedas, taxá-las como modinha, bolha ou qualquer outro julgamento. A proposta é trazer algumas reflexões antes de adentrarmos no universo cripto juntos. Sendo assim, você gostaria de integrar uma revolução contra o poder Estatal de determinar a forma como nos relacionamos uns com os outros? Se sim, aguardo você nos próximos artigos para que possamos descobrir como. Vale lembrar que a concepção do Bitcoin é fundamentada em pressupostos altamente libertários, mas não será necessária a construção de um tanque de guerra para atropelar o Estado.
¹ Empresa de tecnologia que busca inovar serviços do mercado financeiro.
² Crença de que uma queda ou aumento na procura de determinado ativo irá ocorrer. O especulador busca o lucro em curto prazo através de operações que acompanham esse comportamento da oferta/demanda.
³ Grupo de indivíduos que partilham costumes resultantes de fatores políticos, culturais, sociais e históricos.
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