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O custo da falta de segurança jurídica no Brasil

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Inicialmente gostaria de agradecer ao Boletim da Liberdade, e seus editores, pelo convite para escrever a coluna e abordar alguns aspectos importantes sobre o Direito e a Liberdade. Minha missão é utilizar este espaço para dissertar sobre temas jurídicos que impactam o dia a dia dos brasileiros, da forma mais acessível possível.

O primeiro tema que gostaria de explorar em nossa coluna de estreia é o custo da ausência de segurança jurídica no Brasil e o quanto isto impacta a nossa economia. Na qualidade de advogado que representa diversas empresas internacionais que pretendem se instalar no Brasil tenho a oportunidade de ver, na prática, a perplexidade de muitos investidores com as leis brasileiras, em especial as legislações trabalhista e tributária e, de igual modo, com a burocracia estatal e a dificuldade para conseguir efetuar a abertura da empresa no país.

Para os liberais, o Estado deverá ter sua estrutura reduzida, pois entendem que a burocracia estatal tende a crescer indefinidamente e se retroalimentar. O que acaba por abusar dos poderes que lhe foram confiados, especialmente em relação à proteção dos direitos individuais dos cidadãos e, impreterivelmente, investe mal os recursos da sociedade.

Ocorre que para entender verdadeiramente o Estado brasileiro é necessário compreender que a ordem jurídica aqui é subordinada à Constituição Federal, que, por sua vez, possui princípios que vão muito além da concepção “liberal” do Estado, conforme podemos observar pelo art. 3º do texto constitucional:

Art. 3º Constituem objetivos fundamentais da República Federativa do Brasil:
I – construir uma sociedade livre, justa e solidária;
II – garantir o desenvolvimento nacional;
III – erradicar a pobreza e a marginalização e reduzir as desigualdades sociais e regionais;
IV – promover o bem de todos, sem preconceitos de origem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer outras formas de discriminação.

Para que se tenha uma noção, a Constituição Federal possui 250 artigos e, ao longo de 33 anos, teve 115 emendas ao seu texto. Vale citar que diversos desses artigos possuem disposições amplas o que permitem uma gama de interpretações pelo Poder Judiciário.

Esse é um dos principais pontos que afetam a segurança jurídica no Brasil. Graças ao denominado “ativismo judicial”, em diversos momentos o Poder Judiciário acaba por invadir a esfera de competência do Poder Legislativo e do Poder Executivo, o que, em muitos casos, interfere na previsibilidade das operações firmadas entre os particulares e dos particulares com o Poder Público. Outro grande problema é a intensa demora para analisar os processos judiciais e a interpretação distinta dada pela própria Justiça para casos idênticos.

É possível observar o mesmo fenômeno no Poder Legislativo, que em diversas situações deixam de editar “leis neutras” e acabam por publicar leis que buscam beneficiar um determinado grupo de interesse, obtendo assim, uma vantagem através do Estado, o que gera mais desequilíbrio nas relações.

Com base no cenário acima mencionado, fica claro que o próprio ordenamento jurídico brasileiro “estimula” indiretamente a insegurança jurídica, em decorrência do excesso de legislação no país e, de igual modo, pela possibilidade ilimitada de interpretação pelo Poder Judiciário com base em princípios abstratos, o que gera um alto custo econômico ao país em decorrência da ausência de segurança jurídica.

A única saída possível para amenizar esse cenário é lutar pela simplificação da legislação e de uma redução do ativismo judicial, além de exigir dos cidadãos e das empresas um acompanhamento jurídico permanente para garantir um mínimo de previsibilidade nas relações, visando reduzir este prejuízo.

Aviso

As opiniões contidas nos artigos nem sempre representam as posições editoriais do Boletim da Liberdade, tampouco de seus editores.

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