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A escrita é elitista?

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Em aula, estávamos discutindo Platão, que escreveu sempre em diálogos, e mesmo sendo um filósofo escritor, dedicou críticas à escrita. Também discutíamos sobre Sócrates, que falava de uma forma que o povo entendia, como se hoje em dia falasse o português popular que usamos no cotidiano ou na “quebrada”.

O objetivo de Sócrates era mostrar uma filosofia acessível ao povo. Ele inclusive falava propositalmente umas palavras erradas, tipo “mermo”, em vez de “mesmo”. Tudo isso para se fazer compreendido pelos leigos.

Então, um colega comentou que achava a filosofia e a escrita elitistas, visto que o que lemos na faculdade é uma linguagem muito técnica, acadêmica e formal, e isso não conversa com as pessoas que não estão nesse meio.

A verdade é que podemos e devemos tornar a filosofia acessível aos leigos, compreensível a todos. Principalmente porque a filosofia está presente em qualquer meio onde há seres humanos. A filosofia não está restrita à academia, contudo, o ambiente acadêmico não pode se abster da linguagem refinada, como cogita. Isso não deveria fazer parte daqueles que zelam pelo conhecimento.

Nosso empenho deveria ser o de fazer a escrita rebuscada e a linguagem correta serem acessíveis aos leigos para que estes deixem de ser leigos. E não falarmos errado, nem deixar de lado a escrita refinada. Ou seja: não abaixar o nível da filosofia, mas aumentar o nível filosófico das pessoas.

Não é a linguagem errada que aproximará as pessoas da filosofia, nem a abolição da escrita. O próprio Platão não deixou de escrever. O erro e o medíocre não podem virar a norma. Falar certo e ser entendido por quem fala errado é nosso objetivo, não falar errado e perpetuar o erro. Quando escrevo estou conversando com quem? Se meu leitor é leigo, então devo escrever como ele vai entender; não errado, mas fácil.

Quando se fala em “falar errado”, militantes ficam histéricos. Não existe isso depois que Paulo Freire e seus seguidores colocaram no senso acadêmico que não existe certo e errado, e que a linguagem está sempre certa, pois o que importa é ser entendido, e que a norma é uma lei burguesa que serve para inibir a cultura do proletariado.

Esse fetiche de criticar o que é “elitista” e “burguês”, tem como objetivo tornar a coisa acessível ou aboli-la? Viajar é elitista, visto que os ricos tem mais acesso a isso. Nesse caso, viajar deve ser desprezado? Ou deve se tornar mais acessível aos pobres?

A questão é que não surgem ideias para tornar a filosofia mais acessível e compreensível ao povo, mas apenas uma incessante inquietação para mudar a linguagem. Não pensam em melhorar a educação para todos entenderem a linguagem formal, pois acreditam que a linguagem formal é produto da burguesia opressora, e por isso a rebelião é o caminho.

Diante dessa birra com tudo que é da burguesia, se o conhecimento e a linguagem correta são mais acessíveis aos ricos, então devemos rejeitá-los.

A linguagem correta, formal e rebuscada, se perde em nossos tempos inclusive onde mais deveria ser cultivada: dentro das universidades.

A reforma que querem fazer com nossa língua é assustadora. A influenciadora Cintia Chagas, professora de português, sofre cancelamentos, denunciada de ser arrogante, por ensinar o português correto, enfatizar como é elegante falar corretamente, e como faz diferença ter um vocabulário refinado.

Falar certo e escrever bem é direito de todos! E a esquerda luta contra isso porque quem fala e escreve bem é mais difícil de manipular. E quanto mais vocabulário alguém tiver.. menos limites terá para pensar e compreender.

O retrato dessa birra com a linguagem correta, é que hoje se alguém escrever no Instagram: “no nordeste tem muita gente analfabeta”, logo você verá centenas de militantes dizendo: “SÓ NO NORDESTE? NÃO FALA MAL DO MEU NORDESTE! NO NORDESTE NEM TODO MUNDO É ANALFABETO!”. Se soubessem ler, entenderiam que a frase não afirmou que só no nordeste existem analfabetos, nem que todo nordestino é analfabeto, e nem falou mal, apenas fez uma constatação.

Veja como é importante para os militantes que as pessoas não saibam interpretar bem a linguagem: precisam lutar contra coisas que sequer são um problema.

A reforma da linguagem serve aos interesses totalitários, quem leu 1984, de George Orwell, entende isso muito bem. O idioma implantado pelo governo totalitário do livro, chamava “novilíngua”, e foi planejado para travar o pensamento das pessoas, através da diminuição do vocabulário e da ressignificação das palavras, alterando seus significados. Para criar um estado de confusão, a semântica foi distorcida, a capacidade de interpretação das pessoas foi limitada, para que ninguém pensasse fora dos moldes do Partido, a fim de que o governo jamais fosse criticado e ameaçado. Ler 1984 e não perceber as semelhanças com os nossos dias no Brasil, é mais um sintoma de que a “Novilíngua” no nosso país já está sendo implantada há alguns anos pelo progressismo.

Aviso

As opiniões contidas nos artigos nem sempre representam as posições editoriais do Boletim da Liberdade, tampouco de seus editores.

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