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Marcelo Freixo, o novo convertido

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No Século XV, os judeus que foram obrigados a se converterem para o cristianismo na região da Península Ibérica ganharam a alcunha de cristão-novo por meio da política de conversão realizada pelo Monarca português Dom Manuel. Na política nacional, assistimos diversas vezes políticos sobretudo no campo da esquerda brasileira tentarem se vender como moderados para amealhar votos: foi assim com Lula em 2002 com a famosa “carta ao povo brasileiro” e com Fernando Haddad no segundo turno de 2018, para citarmos alguns exemplos.

No Rio de Janeiro assistimos um efeito parecido às vésperas da eleição para o Governo do estado, envolvendo o Deputado Federal Marcelo Freixo. Freixo, conhecido por posições radicais como defesas controversas da descriminalização do uso de drogas, enfoque na defesa de direitos de criminosos em detrimento às vítimas e do excesso de participação do Estado na economia – chegou a propor uma espécie de BNDES municipal na ocasião de sua candidatura à Prefeitura do Rio em 2016 – vem tomando posições desejando migrar seu nome para o centro político.

A primeira ação de Freixo foi trocar o PSOL, partido de posições extremamente radicais pelo PSB, partido que embora defenda as pautas socialistas adote práticas mais sociais-democratas e oferece uma estrutura partidária muito maior que a sua legenda poderia oferecer, como um maior tempo no horário eleitoral e recursos provenientes dos fundos Partidário e Eleitoral. A saída do Parlamentar do PSOL ainda é muito sentida, devido ao desempenho eleitoral obtido pela legenda em 2020 que não alcançaria a cláusula de barreira caso esta valesse para eleições municipais. Freixo consegue entregar uma boa votação em eleições legislativas que poderia permitir a própria existência do PSOL, que com sua saída está colocada em risco.

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Em nome de um projeto político de ocupar o Governo do estado, o Deputado carioca pode ter condenado o PSOL a ter o mesmo destino de outras legendas de esquerda como PSTU e PCO. Outra medida tomada por Marcelo Freixo para limpar-se da imagem extremista foi a contratação de Renato Pereira, publicitário responsável pelas campanhas do PMDB (atual MDB) no estado do Rio entre 2006 e 2014, atuando em campanhas como as de Sérgio Cabral e Luiz Fernando Pezão para o Palácio Guanabara e as campanhas de Eduardo Paes para a Prefeitura da capital em 2008 e 2012.

Freixo tem total consciência que a imagem de extremista de esquerda lhe garantiria vida eterna na Câmara dos Deputados, mas é o entrave para o seu crescimento político. Em 2016, em sua segunda tentativa para a Prefeitura do Rio foi desmoronado no segundo turno por Marcelo Crivella (PRB, atual Republicanos) exatamente por não abrir mão de uma postura de confronto. Já em 2020, retirou sua candidatura à Prefeitura nas prévias do PSOL e não embarcou totalmente na campanha da Deputada Estadual Renata Souza, que obteve menos votos que o Vereador mais votado do partido e da cidade, Tarcísio Motta. Além disto, declarou voto no segundo turno a Eduardo Paes (DEM, atualmente no PSD), mostrando uma postura mais maleável nos bastidores.

Ainda que Freixo continue realizando um detox político, ainda enfrentará resistências: o eleitorado evangélico, opositor histórico de Freixo tende a caminhar com o atual Governador, Cláudio Castro (PL). Desde 2002, para fins de exemplo, os evangélicos conseguem eleger um dos Senadores no estado: foi assim com Marcelo Crivella (PL, hoje no Republicanos) em 2002 e 2010, na virada inesperada de Francisco Dornelles (PP) contra Jandira Feghali (PCdoB) em 2006 e nas vitórias de Flávio Bolsonaro (PSL, hoje no Patriota) e Arolde de Oliveira (PSD, in memoriam) em 2018.

Outro ponto a ser citado é a dificuldade de entrada de Freixo no interior do estado do Rio, região tradicionalmente mais conservadora. Embora o parlamentar tenha bons índices de votação na capital, esbarra na falta de apoio em regiões como o Sul Fluminense, Região Serrana e Região Norte/Noroeste.

O interior do estado historicamente é quem decide eleições estaduais: foi assim em 1998, quando Anthony Garotinho (PDT, hoje no PSL) derrotou César Maia (PFL, atual DEM), em 2006 quando Sérgio Cabral (PMDB, atual MDB) venceu Denise Frossard (PPS, atual Cidadania), em 2014 quando Luiz Fernando Pezão (PMDB, atual MDB) superou Marcelo Crivella (PRB, atual Republicanos) e até mesmo em 2018, com o hoje Governador cassado Wilson Witzel (PSC) levando a melhor sobre Eduardo Paes (DEM, hoje no PSD).

Somente o tempo irá dizer se Marcelo Freixo migrou realmente para uma postura mais social-democrata ou se tomou uma postura mais oportunista como Fernando Haddad tomou em 2018 no segundo turno presidencial contra Jair Bolsonaro (PSL, hoje Sem Partido). Mas a migração, ainda que oportunista de políticos de esquerda para uma “direita “mostra que conservadores e liberais começam a pautar o debate público no Brasil, e neste caso, no Rio de Janeiro.

Foto: Valter Campanato/Agência Brasil

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Aviso

As opiniões contidas nos artigos nem sempre representam as posições editoriais do Boletim da Liberdade, tampouco de seus editores.

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