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Quem são os inimigos da democracia?

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*Carmelo Neto

No cenário político atual, experimente questionar alguém de esquerda sobre a importância da democracia. A pessoa seguramente responderá que defende a democracia como o “modelo político ideal”. Pergunte também se essa pessoa preza pela segurança das eleições. A resposta deverá ser novamente favorável, em tom republicano e garantista. Agora, em uma pergunta que possivelmente será mal recebida pelo seu interlocutor, questione se ele também tem posição favorável ao voto impresso auditável. É quase certo que, além da resposta negativa, ainda sejam perceptíveis sinais de desprezo diante da ideia alegadamente “retrógrada” de emitir um comprovante impresso do voto eletrônico.

A menção de “retrocesso” talvez seja a última carta na manga daqueles que se opõem irracionalmente ao sistema de voto auditável. Digo irracionalmente porque, ainda que a ideia de “regresso ao passado” seja frequentemente argumentada nas discussões sobre a mudança no sistema de votação, esse estigma criado pela esquerda para contestar o voto impresso não encontra fundamentos na lógica racional.

Arguir que a implementação do voto impresso auditável representa um retrocesso diante da evolução tecnológica é o mesmo que dizer que um jornal impresso em papel não pode ser utilizado porque “é velho demais” perante as tecnologias modernas. Esse argumento é tão falso quanto incorreto. Primeiro que os jornais impressos não perdem sua credibilidade porque existem canais tecnológicos para acessá-lo. Segundo que os jornais impressos estão menos suscetíveis (ou não estão suscetíveis) a ataques cibernéticos que corrompam sua integridade que os digitais, que, justamente por serem digitais, podem se tornar alvos fáceis de invasões virtuais.

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A lógica no dilema do voto impresso é a mesma. O papel, chamado pela esquerda de retrocesso, quando vinculado à urna eletrônica, se torna o reduto da integridade do sufrágio. Ao ser verificado visualmente no momento da votação, passa a ser a única prova de que o voto do eleitor não foi fraudado ciberneticamente. É a garantia documental incorruptível da vontade popular, e a única opção para uma eleição garantidamente justa.

Como explicar, portanto, a oposição ferrenha que vários setores da esquerda têm perante o voto impresso? Questiono ainda mais: se a auditabilidade através do voto impresso é o único processo capaz de garantir a integridade total das eleições, qual o interesse escuso dos que são contra a medida? Por que se opor a algo cujo único impacto real é garantir a segurança e a fiabilidade do voto?

Eu tenho meus palpites. O primeiro é certeiro: pelo fato do presidente Jair Bolsonaro defender o voto impresso, seus opositores automaticamente fecham os olhos para o que é óbvio e assumem de imediato o lado antagonista. A contradição, porém, é iminente. Defender a democracia e ser contra a auditabilidade do voto não combina. A corrupção do processo eleitoral desmonta a ideia de vontade popular e qualquer outro princípio republicano. Permitir uma fraude nas eleições é desvirtuar o alicerce da democracia.

O segundo palpite é controverso, mas também não foge da obviedade. Quem é contra o voto impresso só pode ter interesse na possibilidade de fraude nas urnas. Nesse caso, não me refiro aos brasileiros que apenas repetem o discurso dos seus líderes políticos, mas sim de quem cria os discursos. É o caso, por exemplo, do ex-presidente Lula.

Na narrativa de Lula contra o voto impresso, não há elementos razoáveis que justifiquem a oposição ao mecanismo de conferência. O que persiste é o velho discurso de “retrocesso”. Lula utiliza expressões como “voltar ao tempo dos dinossauros” para qualificar a proposta do voto auditável, como se uma fraude fosse aceitável, mas utilizar papel não.

Curiosamente, enquanto era presidente, Lula pouco fez pela digitalização dos serviços e documentos públicos do governo federal. Os avanços observados nesse quesito são méritos da atual administração, que já transformou mais de 1.000 serviços antes presenciais e em papel, agora em digitais.

Está claro que Lula não se importa com “voltar ao tempo dos dinossauros”, ou com a modernização de processos não-digitais. O discurso é, na verdade, uma cortina de fumaça para os interesses obscuros do petista. A propósito, o discurso de Lula parece muito bem alinhado com o do ministro Luís Roberto Barroso, presidente do TSE, que também embasa sua oposição ao voto impresso na defesa da “moderna” tecnologia da urna eletrônica.

Para quem estuda o assunto, está claro que a necessidade do voto impresso está justamente no fato da urna ser eletrônica e da sua contagem ser sistematizada. Assim como na comparação entre o jornal em papel e o jornal digital, só está sujeito ao risco de manipulação virtual o que está, de fato, em meios virtuais. Nesse cenário, o voto impresso se torna o álibi documental inexorável do voto eletrônico, sendo o refúgio resolutivo em caso de qualquer suspeita de fraude virtual e cibernética.

Quanto mais falo sobre o voto impresso, mais percebo que a ideia é uma medida extremamente necessária e agradável à democracia. Além disso, noto cada vez mais que quem se opõe à auditabilidade das eleições, quando não o faz por interesses sombrios, resiste à ideia usufruindo de uma desonestidade intelectual sem tamanho. Ignorar fatos tão evidentes em nome de uma ideologia política é, no mínimo, ser inimigo da democracia.

*Carmelo Neto é Vereador em Fortaleza/Ceará pelo Republicanos.

Foto: Acervo Pessoal

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Aviso

As opiniões contidas nos artigos nem sempre representam as posições editoriais do Boletim da Liberdade, tampouco de seus editores.

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