fbpx

A democracia nas votações online

Compartilhe

*Carolina Venuto

Nossa Constituição é extremamente clara em seu parágrafo único do art. 1º quando diz que “todo poder emana do povo” e é por isso que luto tanto pela regulamentação da atividade de lobby, formalmente categorizada como Relações Institucionais e Governamentais pelo então Ministério do Trabalho e Emprego, no ano de 2017.

Em uma sociedade democrática, como a nossa, os tomadores de decisão podem e devem ser interpelados e subsidiados por uma complexa rede que representa e defende interesses, de forma legítima, com conteúdo técnico e experiências empíricas.

Não devemos permitir que haja distinção entre grandes e organizados grupos de pressão e pequenos movimentos sociais quando o assunto é o respeito à Constituição.

[wp_ad_camp_1]

Esse desafio foi potencializado exponencialmente em tempos de pandemia, pois o acesso às Casas Legislativas, em todas as esferas (Federal, Estadual e Municipal), ganhou maiores restrições com o isolamento físico, apesar de manterem suas atividades (e deveriam manter mesmo). Desta forma, o amplo direito de participar do processo de tomada de decisão política ficou ainda mais difícil.

Mesmo havendo um sistema consolidado de deliberações remotas na Câmara dos Deputados e no Senado Federal, percebe-se que as convergências conquistadas por ambos os colegiados foram mobilizadas pela urgência e relevância das matérias centradas em um único tema – pandemia. Em assuntos diversos, no entanto, percebe-se que o distanciamento dos parlamentares e a ausência dos profissionais de RIG inviabilizam a criação de convergência e a oportunidade de um contraditório dinâmico, plural e representativo.

Pude coletar algumas percepções de Deputados e Senadores que manifestaram sua insatisfação quanto às sessões virtuais. Há quem defenda que o trabalho no Congresso Nacional, asseguradas as medidas de segurança, seja considerado “Atividade Essencial”. As principais insatisfações dizem respeito à redução de atuação e mesmo de tempo de fala disponível para quem não é líder.

O retorno das atividades nas comissões, fundamental para enriquecer o processo democrático e espaço importante de atuação dos diversos parlamentares, ainda está indefinido.

O retorno das atividades nas comissões, fundamental para enriquecer o processo democrático e espaço importante de atuação dos diversos parlamentares, ainda está indefinido. Um dos maiores empecilhos é a ausência de um sistema que garanta o sigilo do voto do parlamentar, em especial para a eleição dos presidentes destes colegiados.

Em um recente levantamento, no entanto, identificamos mais de 10 projetos de resolução* que sugerem dar caráter permanente às deliberações remotas após o término do estado de calamidade pública decretado no Brasil. Esse movimento é apartidário e demonstra, também no Poder Legislativo, as consequências do “novo normal”.

A inovação e a tecnologia vieram pra ficar na política nacional. É inegável, porém, que devemos nos atentar para que não haja desequilíbrio no processo democrático. Devemos garantir a participação de minorias que não desfrutam destas tecnologias nem possuem as mesmas oportunidades de diálogo com os tomadores de decisão.

*Os projetos de resolução são destinados a regular as matérias da competência privativa das Casas Legislativas e de caráter político, processual, legislativo ou administrativo. A resolução aprovada e promulgada tem eficácia de lei ordinária.

*Carolina Venuto é Presidente da ABRIG (Associação Brasileira de Relações Institucionais e Governamentais).

Foto: Boletim da Liberdade.

[wp_ad_camp_1]

Aviso

As opiniões contidas nos artigos nem sempre representam as posições editoriais do Boletim da Liberdade, tampouco de seus editores.

plugins premium WordPress
Are you sure want to unlock this post?
Unlock left : 0
Are you sure want to cancel subscription?