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Um Conto sobre a inflação: Biden e o desastre esperado

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*Layan Landgraf

Joe Biden completou recentemente seus primeiros 100 dias na presidência dos Estados Unidos. Nos próximos 100, tentará aprovar o plano econômico mais audacioso e arriscado já proposto nos 245 anos de história da nação: pacotes totalizando cerca de US$ 4 trilhões. Colocando em perspectiva, o PIB brasileiro em 2020 ficou em torno de US$1.5 trilhão.

Um pouco de luz sobre a proposta:

  • O pacote de infraestrutura representaria US$2.3 trilhões aos cofres públicos;
  • Esse será seguido por um pacote adicional de US$1.5 trilhão para o “Plano de Famílias Americanas”.

E nem estamos considerando nesta conta os US$ 1.9 trilhão do pacote de estímulo em função do COVID.

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Para termos uma ideia, mesmo se esses pacotes não forem aprovados, o Congressional Budget Office (CBO) estima um déficit federal orçamentário de US$2.3 trilhões ao final de 2021. Quase US$ 900 bilhões maior que o registrado em 2020.

E, para piorar, o CBO projeta que a proporção da dívida pública em relação ao PIB do país chegará a 107% até 2031, atingindo a marca mais alta da história do país. E, ao contrário das políticas anteriores, não parece haver muita disposição dos dois lados do corredor do Senado para diminuir esse número.

Claro que, segundo as contas do presidente, “aumentar tanto a alíquota de impostos sobre empresas de 21% para 28% quanto os impostos sobre os lucros das empresas no exterior” resolverá a questão. Mesmo que os números estejam corretos, ainda existem dois macroproblemas:

  1.   1) Os investimentos seriam realizados ao longo de oito anos, porém o aumento de impostos demoraria 15 anos para reembolsarem os US$ 2,3 trilhões aos cofres públicos4. Como a diferença temporal seria financiada?
  2.   2) O plano de infraestrutura em questão é adequado para o país? Sabemos que, quando o governo se apresenta como comprador no mercado, ele substitui empresas, investidores e cidadãos: estes passam a comprar e investir menos (Y = C + I + G + X – M). E quanto ao “Plano de Famílias Americanas” de US$1.9 trilhão? Aqui vale ainda destacar a falácia do welfare state que Milton Friedman criticou em seu livro Free to Choose.

Começamos pelo ponto um. O governo resolverá a questão temporal imprimindo moeda. Afinal, a tributação é impopular, enquanto a inflação é incompreensível, por agir como um imposto oculto. Inclusive já começam a argumentar que o risco inflacionário não deveria preocupar, já que a inflação tem sido muito baixa por muito tempo. A verdade é que, como sempre, a inflação será sim um problema e afetará os mais carentes primeiro:

  • Os preços não se alteram na mesma medida e velocidade. Alguns preços caem ou sobem mais rapidamente que outros. E há uma razão para isso;
  • Quando o governo imprime dinheiro, alguns setores obtêm esse dinheiro antes. Assim, quem o recebe primeiro (neste caso, o setor de infraestrutura) irá competir com aqueles que eram compradores anteriormente;
  • Como o volume de mercadorias não aumentou, há uma demanda adicional frente a uma quantidade inalterada – os preços irão aumentar. E isso não pode ser evitado, seja qual for o uso do dinheiro emitido;
  • Age como uma onda que avança, mas que beneficiará os salários de determinados grupos por último, somente depois que o aumento de preços já chegou a todos os produtos.

Quanto ao segundo ponto, como vimos acima, o aumento dos gastos do governo (G) será financiado parte com impostos e parte com inflação, ou seja, reduzindo o consumo da população (C) e os investimentos privados (I). Além disso, a decisão da alocação de recursos virá do setor público, tanto em infraestrutura, quanto welfare, e a matriz abaixo indica o motivo da preocupação:

Você é o responsável pelos gastos

Com quem o dinheiro é gasto                                               Com quem o dinheiro é gasto

                                                                                                                                             Você                        Em outra Pessoa

                             Seu                                                                                                          I                               II

                            De outra pessoa                                                                                    III                             IV

Todos os gastos de welfare recaem nas categorias III e IV, que são decisões de gastos com dinheiro de outra pessoa. Na visão de Friedman, essas características dos gastos com bem-estar são a principal fonte de seus defeitos, causando não somente o aumento da inflação como a má alocação de recursos.

Keynesianos defenderão os investimentos e dirão: “No longo prazo, estaremos todos mortos”. Mas a pergunta aqui é: Quanto pode durar o curto prazo? Por quanto tempo um banco central pode prolongar um processo inflacionário?

No momento em que a população desacreditar da capacidade do governo, de sua credibilidade, a inflação fugirá totalmente de controle. As pessoas perceberão que os preços amanhã serão maiores que hoje. Anteciparão a demanda, comprarão a qualquer preço, competindo por mercadoria. A inflação se retroalimentará e atingirá tal nível a ponto de colapsar o sistema monetário.

Como diria Mises, “um dos privilégios do homem rico é poder dar-se ao luxo de ser insensato por muito mais tempo que o pobre.”

*Layan Landgraf é graduado em Engenheira de Produção, pós-graduado em Economia e Finanças Corporativa e com MBA pela University of Virginia Darden School of Business. É associado ao IFL-SP.

Foto: Reprodução/Arquivo pessoal

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Aviso

As opiniões contidas nos artigos nem sempre representam as posições editoriais do Boletim da Liberdade, tampouco de seus editores.

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