Ter orgulho do passado e preservar sua cultura é um dos hábitos mais conservadores do ser humano. Guardar tradições para lembrar-se das marcas que carregamos diz muito sobre a organização da nossa sociedade. Em alguns caso queremos ser respeitados, mas sentimos aversão ao diferente, tendendo a marginaliza-lo. Mesmo após séculos, sufrágio universal, avanços tecnológicos e outros acontecimentos que provam a evolução da nossa espécie, alguns seguem utilizando um padrão irracional para qualificar se a cultura do nosso semelhante “presta” ou não: a cor da pele.
Não sei como é ter a pele escura. Sendo bem sincera, nem gostaria de saber. Deve ser horrível crescer tendo seu destino e condutas pré-determinadas por algo que representa apenas a quantidade de melanina na epiderme humana. Meus ancestrais não foram escravizados e as subsequentes gerações jogadas a falta de oportunidades e criminalidade. Nunca recebi olhares desconfiados ao descer de um ônibus ou adentrar um recinto no meu próprio bairro. Estudei em escolinha particular desde os 2 anos e, quando não tinha a mãe em casa – que trabalhava demais para nos sustentar – minha tia estava presente.
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Acho válido dizer que há pouco tempo perdi a vergonha de ser descendente de espanhóis. Sempre escondi o sangue catalão que corre em minhas veias e o fato de haver bairros, ruas e vilarejos contendo o nome Ferraz. Ouvi desde pequena histórias de brasileiros que foram para a Espanha e sofreram preconceito por não terem nascido lá. Ciganos, romenos, judeus, mouros e chineses. Todos igualmente evitados por uma parte do povo com uma história de colonização sanguinária no México e alguns países da América do Sul. Demorou para eu compreender que o governo não reflete os pensamentos de uma população, mesmo que eleito por ela. Internamente, fiz as pazes com as minhas raízes – apesar do pesares – e pretendo aprofundar meu conhecimento sobre a genealogia Ferraz e a história que trago.
No entanto, é absurdo o número de liberais tentando negar o racismo ainda existente em nossa sociedade.
As ideias que defendo dizem que nossos corpos e mentes são livres para viver, amar, trabalhar e adorar ao Deus que quisermos sem interferência estatal. No entanto, é absurdo o número de liberais tentando negar o racismo ainda existente em nossa sociedade. Uma prova disso é o advogado e comentarista político americano Ben Shapiro, a quem admiro e acompanho regularmente. A preocupação de Shapiro em tentar desvincular a motivação racista do assassinato de George Floyd me assustou demais, pois reclamamos que a esquerda tomou conta das pautas feministas, LGBTs e do movimento negro, mas negamos fatos que estão na nossa frente.
Até quando liberais vão achar que mulheres não são mortas pelo simples descontrole dos parceiros? Até quando irão justificar a escravidão com a prerrogativa de que os próprios negros negociavam etnias rivais? Isso deveria eximir o fato de que brancos compravam os negros, estupravam suas mulheres e matavam os idosos?
O preconceito, a segregação e a escravidão acometeram outros povos, mas diminuir o poder de coerção e exercício da força monopolizada pelo Estado deveria ser nossa preocupação, e não o passar pano sobre fatos indiscutíveis. Não sei o que levou George Floyd a passar uma nota falsa de 20 dólares. Ele poderia ser um falsário mau caráter, assim como ter sido tudo um mero engano. Desafio o leitor a encontrar uma cena semelhante com uma vítima branca e, para finalizar, nada mais elucidativo que um policial (representação do Estado) asfixiando um cidadão pagador de impostos. O Estado MATA.
Desculpe-nos, George Floyd.
Foto: Leonhard Lenz/Wikimedia Commons
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