Na convenção nacional do PSL que lançou Jair Bolsonaro à presidência da República no último domingo (22), uma fala do ex-capitão chamou atenção. O presidenciável, líder nas pesquisas de intenção de voto, foi enfático ao prometer “trazer o liberalismo para o Brasil”.
A aproximação de seu discurso ao ideário liberal não é propriamente fato novo, mas o hoje deputado federal ainda está longe de ser um consenso no meio liberal. Por outro lado, com o passar do tempo, foi conseguindo conquistar a simpatia de setores do eleitorado liberal e até de lideranças que já passaram por importantes organizações do ecossistema pró-liberdade.
Um deles é Jefferson Viana, ex-coordenador do Students for Liberty Brasil – rede de estudantes que dissemina ideias e autores liberais pelas universidades do país. Para ele, muitos liberais temem o ex-militar porque o enxergam como “aquele militar dos anos 1990 que defendia pautas estatistas e corporativistas e que não tinha muito trato para lidar com situações adversas”.
“Jair Bolsonaro é hoje o candidato do espectro liberal-conservador com maiores chances de vitória nas eleições de outubro. Desde a antiga UDN nas décadas de 1950 e 1960, o espectro liberal-conservador não tinha opções de voto e ficávamos fadados a escolher entre socialistas e sociais-democratas”, constata.
Viana entende que “ninguém vai atingir em sua totalidade” as expectativas de qualquer eleitor, mas credencia que a equipe formada por Jair Bolsonaro poderá concretizar muitas aspirações dos que desejam um plano liberal para o Brasil.
“Para isso acontecer, o ceticismo que ainda impera em parcela dos movimentos liberais tem que ser superado para que nasça uma convergência, mesmo que extemporânea. Continuar acreditando em candidatos que têm chance ínfima de vitória por mera discordância pode custar o futuro do Brasil”, comenta Viana, historiador de formação.
Equipe de Bolsonaro chama atenção
Entrevistada pelo Boletim da Liberdade no início do ano, a ativista Beatriz Kicis, uma das principais influenciadoras da nova direita brasileira, também utilizou a equipe de Bolsonaro como argumento para atrair os eleitores liberais ao candidato. Neste time, destaca-se o economista Paulo Guedes – provável ministro da Fazenda de um governo Bolsonaro.
Ex-presidente da rede educacional Ibmec e fundador de diversos bancos de investimento, entre os quais o Pactual, Guedes é Ph.D em Economia pela Universidade de Chicago, referência mundial do pensamento liberal.
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Foi Guedes quem apresentou diversos autores liberais, até mesmo da Escola Austríaca, ao então funcionário Rodrigo Constantino – que se tornaria, mais tarde, um dos precursores do novo movimento liberal no país, autor de livros como Privatize Já e Liberal com Orgulho, além de presidente do conselho deliberativo do Instituto Liberal.
Em abril, o economista divulgou as reformas que considera importantes para a área. Dentre as ideias, está a implantação de um regime de capitalização para a previdência social e um programa de privatizações inédito, capaz de levantar entre R$ 500 bilhões a R$ 800 bilhões de caixa para o Governo Federal. Dinheiro que poderia servir para reduzir cerca de 25% da dívida pública federal. Medidas que, sem dúvida, têm apelo ao público liberal.
“Jair Bolsonaro sabe o momento de ser enérgico, é contra o autoritarismo do politicamente correto, não corteja a grande mídia, está aberto a aprender e receber novas idéias, e tem buscado formar uma equipe da mais alta competência”, resume Guilherme Decnop, ex-membro do Livres de Niterói, cidade da região metropolitana do Rio de Janeiro, e também apoiador de Jair Bolsonaro.
Decnop, junto com um grupo minoritário do Livres, não saiu do PSL com a chegada de Bolsonaro. O afastamento veio depois. “A vinda do Jair Bolsonaro [ao PSL] – eu já o apoiava para Presidente – apenas trouxe força para o diretório desenvolver ainda melhor o trabalho que já vinha realizando, passando a trabalhar um candidato à presidência institucionalmente”, explica.
Assim como Jefferson Viana, Decnop – hoje, vice-presidente do PSL de Niterói – também acha que Bolsonaro pode atender as aspirações e desejos do crescente movimento liberal do Brasil. “Sobretudo por ser um defensor das liberdades individuais”, afirma.
“Acertadamente, Bolsonaro não pretende abrir mercado e privatizar empresas para qualquer grupo que coloque mais dinheiro. Ele tem o cuidado de não deixar escancarar as portas para o comunismo chinês, e enriquecê-los, como tem expressado na mídia. E esse cuidado é de quem sabe o que deve ser feito, passa ao largo do dinheiro a qualquer preço. É um homem sério, honrado, com qualidades e defeitos, e que pode significar um começo de ordem e progresso para o Brasil. É quem pode abrir este caminho para a prosperidade”, opina.
Outro lado
Kaike Souza, ex-coordenador do Students for Liberty Brasil, como Jefferson, e ativista ligado ao Livres, acredita, porém, que Bolsonaro não é uma solução liberal.
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“Em 28 anos na Câmara dos Deputados, os votos do presidenciável mais se aproximaram das políticas de esquerda e do Partido dos Trabalhadores, principalmente na parte econômica. Confrontando diferentes reportagens de Bolsonaro e de seu conselheiro econômico, Paulo Guedes, é possível ver a divergência de ambos em diferentes temas. Bolsonaro apenas grita sobre os ares liberais, mas não se mostra minimamente disposto a respira-lo”, opina Kaike ao Boletim da Liberdade.
Ele também frisa que não basta idoneidade para ter competência e que o Brasil já conhece a história de um ministro da fazenda mais responsável do que o presidente.
“Até Dilma contratou um Ministro da Fazenda mais responsável economicamente e nem por isso ele tinha liberdade para adotar as medidas necessárias para não afundar o país na crise. Bolsonaro não é liberal, não é uma alternativa nova e não tem a menor condição de governar um país”, conclui.
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