Por Felipe Masotti*
Aposso-me, inadvertidamente, desta expressão. O faço, pois é verdade: liberais não gostam de política.
Como assim?
A definição de Política, segundo a Oxford, é a arte ou ciência da organização, direção e administração de nações ou Estados; ciência política. Ou seja, Política é os comos e os porquês aqueles pleiteiam e comandam o Estado para o bem ou para o mal.
A última pesquisa “A Cara da Democracia”, em 2022, com resultados divulgados aqui, demonstrou que mais de 70% da população confia pouco ou nada nos políticos. Isso é um índice de descrença, de desconfiança muito representativo, que garantiria uma eleição em primeiro turno no executivo e uma maioria absoluta na Câmara e no Senado.
O que isso significa? Que a maior parte das pessoas não está de acordo com os comos e os porquês daqueles que comandam o Estado ou o pleiteiam. O maior problema, no entanto, está no “quem” ou em suas motivações.
Por origem, os políticos se vendem como a fonte das virtudes e das boas intenções: são eleitos com esta cartilha. Mas, na prática, a maioria absoluta dos políticos está defendendo e trabalhando pelos seus próprios interesses: seja a ascensão e perpetuação no poder, autopromoção, privilégios para o seu grupo de interesse, as benesses estatais, proteção jurídica (pois é), entre outros.
Este descredito político está relacionado ao corporativismo que foi criado por eles mesmos, isolando-os em um panteão de superioridade virtuosa e moral. Na prática, as pessoas mais do que não gostam de política, elas não entendem.
Ninguém entende de verdade a política até compreender que os políticos não estão tentando resolver os nossos problemas. Eles estão tentando resolver seus próprios problemas. – Thomas Sowell
As motivações reais dos políticos são, por princípio, parciais, intervencionistas e/ou coletivistas, e as consequências implicam diariamente em toda sociedade através de políticas públicas e regulamentações no mínimo equivocadas.
Os valores liberais, por outro lado, são claros: isonomia, imparcialidade, justiça, liberdade, individualidade e responsabilidade.
Esta é a questão: os valores liberais são diametralmente opostos às motivações (e práticas) da maior parte dos políticos. Então como gostar ou se interessar pela política onde a hegemonia do poder está contaminada por interesses e práticas tão afastadas dos seus princípios?
A maior parte da população não confia e, além disso, não se interessa por política justamente porque não compactua com quem a exerce. Esta maioria tem, por associação, valores liberais adormecidos pela frustração.
A maior parte da população não gosta de política porque perdeu a esperança. Porque não se vê representado. Porque se sente usado e, cansado disso, eventualmente acaba compactuando com aqueles que promovem o populismo e o jogo de interesses para evitarem ser prejudicados. Na essência, porém, o que a população de bem quer é isonomia, imparcialidade, justiça e, principalmente, liberdade.
Com o virtual monopólio da educação ignorando os autores liberais e a mídia protegendo seus benefícios e interesses apoiados no poder, narrativas opostas ao liberalismo exercem uma hegemonia inescrupulosa, fazendo com que as pessoas não despertem da contaminação retórica muito bem estabelecida durante décadas.
Por não só não gostar de política, mas acima de tudo ignorá-la, acabam governados por aqueles que não necessariamente gostam, mas compreendem o poder que a política tem e usam-na para benefício próprio.
Os liberais não precisam ser encontrados, os valores liberais não precisam ser ensinados. O liberalismo precisa de coragem, precisa de representatividade, de oportunidade para ser a base moral daqueles dispostos a encarar um contexto antagônico com ética e dignidade.
Felipe Masotti é do IFL-Gramado, Engenheiro Civil (UFSC/NYU) mestre em Gestão de Negócios Internacionais (UPM/MIP/TUM) e desenvolvedor imobiliário em Gramado/RS.
