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Acreditar em Deus é racional e a igreja construiu a civilização ocidental

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Por Maria Clara Martins Rodrigues*

No primeiro semestre fiz um seminário sobre Santo Agostinho. A professora deu vários autores para escolhermos e ninguém queria ele. Os alunos faziam piadinhas desdenhando do autor cristão. No decorrer do trabalho, depois apareceram alguns interessados na questão do tempo, que Agostinho aborda maravilhosamente nas Confissões.

Em algum momento do seminário, alguém alegou que achou a leitura de confissões chata porque “a cada 10 palavras, 9 são louvores”. “Como pode um homem tão inteligente como Agostinho ser tão idólatra?” A verdade é que estudamos os antigos e eles eram filósofos brilhantes e idólatras também. Aliás tinham crenças e devoções a vários deuses, mas isso não parece ter despertado decepção dos alunos.

O pensamento ateu contemporâneo tem uma especial aversão à fé cristã, pois as outras religiões parecem ter um aspecto cool.
É bonito hoje em dia acreditar em “energia”, natureza como deusa, buda… mas Cristo tratam como ideia refutada. Quantas vezes nesses semestres vi alunos fascinados com a grandeza de alguns pensadores, e quando surge a informação de que eram cristãos, eles alegam que “todo mundo tem seus defeitos né?”.

Diante da incalculável inteligência desses pensadores, eles não pensam: e se sobre Deus eles estiverem certos também?

A Geração Z afirma com toda certeza que Deus não existe, mas não consegue refutar os grandes pensadores que provaram que a ideia de Deus existir é muito mais racional que o contrário. Como o argumento cosmológico de Leibnez, por exemplo.

A própria existência da moral implica que Deus é necessário. Se está impresso dentro de nós o que é certo e o que é errado, e esse padrão muda de pessoa para pessoa, então se cada um agir com base no próprio padrão moral, o mundo será um inferno!
Uma moral que está acima do que eu penso e do que você pensa, colocaria ordem nas coisas. Essa moral deveria ser melhor do que eu e você, portanto, elaborada por um ser divino a quem prestaremos contas.

Não há ateu ou agnóstico que consiga viver de forma coerente com essa visão de que não existe absolutos morais. Sartre dizia isso, mas condenou o antissemitismo, afirmando que uma doutrina que leva o extermínio em massa de pessoas não é meramente uma questão de opinião ou gosto pessoal como qualquer outra.

A verdade é que nenhum ateu consegue viver constantemente segundo o seu próprio sistema de crenças. Nenhum consegue lidar com sua crença de que a vida não tem propósito último, sentido último e objetivo último. Todos eles, para conseguirem tolerar sua própria existência, concedem a ela uma dessas coisas deliberadamente, para que assim faça algum sentido acordar todas as manhãs.

Além da impossibilidade prática do ateísmo, sua teoria é facilmente abalada por perguntas muito simples.
“Do nada, pelo nada, e para o nada” é a síntese dessa fé. O que poderia ser mais irracional do que isso? É necessário mais fé para crer assim do que para crer em Deus, dado que tudo no universo tem sentido, e o ateísmo diz que a vida não tem.

Se tudo começa por uma causa, e é consentimento da ciência que o Universo teve um início, por que ele não teria uma causa?

Algum ateu ou agnóstico poderia perguntar agora: Se tudo tem uma causa, qual a causa de Deus? Deus é eterno. O que é eterno nunca começou, portanto não precisa de causa.

Mais tarde, quando chegou a hora de termos aulas de filosofia medieval, os alunos comentaram como seria chato ficar ouvindo sobre Deus e a igreja católica, como se isso não tivesse envolvimento com a filosofia e a ciência.

É comum que os universitários pensem na igreja, especialmente a católica, como sinônimo de opressão e ignorância. Eles não sabem como a igreja construiu a civilização ocidental, e como a ciência só pôde germinar sobre o solo da mentalidade cristã.

A igreja não é inimiga do progresso da ciência, pelo contrário, foi a responsável por ele. Ela presenteou o mundo com a beleza, através da arquitetura e das artes plásticas, como meios de ilustrar a beleza e grandeza divina; desenvolveu os conceitos básicos da economia moderna, que trouxe para o ocidente riquezas sem precedentes; criou praticamente todas as instituições de assistência que conhecemos, dos hospitais à previdência; é a base do direito como apreciamos, humanizado, que garante liberdade e justiça para todos; acabou com guerras ao converter os bárbaros; foram os monges que criaram o primeiro relógio, o primeiro relógio astronômico, copiaram e conservaram manuscritos sagrados e pagãos; preservaram, estudaram e ensinaram as obras dos antigos, que de outro modo teriam se perdido; foram pioneiros na produção do vinho, e foi um monge que descobriu o champanhe.

Os monges também construíram sistemas hidráulicos de demasiada sofisticação tecnológica para a época, e tinham um grau de sofisticação tecnológica nos mosteiros que apontava para as grandes máquinas da revolução industrial.

Eles não apenas fundaram escolas e foram professores, mas também lançaram as bases das universidades.

A maioria das pessoas acredita que os anos anteriores a Renascença foram um período de ignorância e repressão intelectual, em que não havia debate de ideias. Mas foi a exaltação da razão humana e das suas capacidades, o compromisso com o debate racional, e o incentivo da pesquisa intelectual e do intercâmbio entre os estudantes das universidades patrocinadas pela igreja que forneceu as bases para a revolução científica.

Nenhum cristão sério pretende sustentar que a igreja acertou em todas as decisões que tomou. Como protestante afirmo que a Reforma foi necessária e que os reformistas participaram ativamente do desenvolvimento da revolução científica. Isso sem deixar de reconhecer a importância fundamental da igreja católica.

Muitos dos inovadores científicos foram sacerdotes, como Nicolau Steno, que é considerado o pai da geologia, ou Athanasius Kircher, pai da egiptologia, ou ainda Rogério Boscovich, considerado frequentemente o pai da teoria atômica moderna.
A primeira pessoa a medir a taxa de aceleração de um corpo em queda livre foi ainda outro sacerdote, o pe. Gianbattista Riccioli. E os Jesuítas dominaram a tal ponto os estudos dos terremotos que a sismologia ficou conhecida como a ciência jesuítica.

Foi Francisco de Vitória, um sacerdote e teólogo católico, e professor universitário, quem mereceu o título de pai do direito internacional. Em face dos maus-tratos que os indígenas sofreram no Novo Mundo, Vitória e outros teólogos começaram a especular acerca dos Direitos Humanos fundamentais e de como deveriam ser as relações entre as nações. E foram esses pensadores que deram origem a ideia do direito internacional que conhecemos.

Aliás, todo direito ocidental é uma grande dádiva da igreja. A própria ideia de que o ser humano tem direitos bem definidos se deve à teologia cristã, que dignifica todo ser humano como um ser à imagem de Deus. A igreja não só trabalhou para contra aspectos moralmente repugnantes do mundo antigo, como infanticídios, como também restaurou e promoveu a civilização depois da queda de Roma.

O pe. Stanley Jaki é um Historiador da ciência, com doutorados em teologia e em física, e prêmios internacionais, que através de seus conhecimentos e livros, demonstrou que, longe de obstruírem o progresso da ciência, as ideias cristãs tornaram ele possível.

Jaki dá grande importância ao fato de que a tradição cristã concebe a criação como uma realidade ordenada. Ao longo de toda a Bíblia, a regularidade dos fenômenos naturais é descrita como reflexo da bondade, da beleza e da racionalidade de Deus. O mundo como obra de uma pessoa racional, está adotado de ordem e propósito. Por isso existem leis da física, um padrão na química, a matemática, a geometria, o estudo da astronomia, da biologia…

Uma das teses centrais dele é a de que não foi uma coincidência que o nascimento da ciência tivesse ocorrido em um meio católico. As ideias cristãs foram indispensáveis para o surgimento do pensamento científico.

A questão que fica é que o defeito de grandes personalidades como as que citei não é sua fé cristã. O resultado dessas pessoas e essas contribuições da igreja para a humanidade não são apesar de sua fé em Cristo, mas justamente por causa dela.

*Maria Clara Martins Rodrigues tem 19 anos, estuda filosofia na Universidade de Brasília, é cristã, antifeminismo, conservadora e liberal

Aviso

As opiniões contidas nos artigos nem sempre representam as posições editoriais do Boletim da Liberdade, tampouco de seus editores.

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