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I.A: Entre a alma e o cobre

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“O progresso é impossível sem mudança” – George Bernard Shaw

Explodiu uma revolta no início do século XIX, entre a alma e o cobre. Trabalhadores, de labor braçal, se rebelaram contra o que, por muito tempo, foi visto como esperança: o desenvolvimento tecnológico. Acreditavam que essa remodelação da estrutura produtiva, com o acréscimo das máquinas, iria prejudicá-los, ao encerrar o seu meio de sustento, gerando desemprego em massa e caos social. Fato esse, na época, tão intenso e marcante, que foi apelidado pela história como “Ludismo”.

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A inteligência artificial, por sua vez, surgiu como um tsunami em nossa realidade. Ao passo que essa se torna mais habilidosa, eficaz, e seus resultados cada vez mais orgânicos, há uma perspectiva de que o ‘conhecimento’ da máquina substitua o ‘saber’ humano.

Verificou-se, a partir do tempo, a completa inconsistência da luta contra o desenvolvimento. O fomento de práticas reacionárias, quanto à ciência, são fruto de discursos populistas, criando pavor entre as massas, com base em uma “justificada histeria resultante do capital”, ou algo do gênero.

E, hoje novamente, será necessária a luta pelo progresso.

Há um cômico conto vivenciado pelo renomado economista Milton Friedman, em uma viagem à China. Nela, o estudioso observou a construção de uma grande obra pública sendo construída pela força dos trabalhadores, enquanto as máquinas estavam paradas, guardadas e sem uso. Ele questionou o porquê de tal fato, e os chineses disseram: “Se usássemos máquinas, não criaríamos tantos empregos”.

Friedman respondeu: “Pensei que o objetivo era ter uma obra pronta. Se querem empregos, em vez de usar pás, usem colheres para cavar então”.

Essa anedota, apesar de simples, ilustra a superficialidade do discurso que visa frear a adaptação humana aos cenários instrumentais em que ele se insere. Nele, há a confusão entre causa e consequência, já que, com a melhoria dos sistemas de produção – sendo eles fabris ou de criação teórica -, o que há não é o alargamento do mercado e seus lucros, mas sim o aumento do custo do trabalhador, já que o mundo se reinventou em uma forma mais simples de produzir o objeto desejado.

Estamos vivenciando um momento em que as organizações do trabalho começam a se movimentar para recusar a utilização da tecnologia nas facilitações do cotidiano, como na indústria das artes, em que temos como exemplos a paralisação de Hollywood e, possivelmente, a dos games, que buscam impedir o uso de I.As em produção de locuções e roteiros, assim como a substituição de trabalhadores por máquinas no campo, em que a produtividade de alimentos cresceu 400% em 45 anos (IPEA), ou no uso de totens de autoatendimento em comércios e bancos, ou a acréscimo de robôs e nanotecnologia na seara médico-farmacêutica…

Enfim, são inúmeras as ocasiões em que a função humana foi completamente inutilizada por um advento de um recurso mais atual e, adivinhem, não acarretou no aumento de desempregos. Até porque, essas inovações geram mais possibilidades de atuação, criando uma migração de trabalho, e a coletividade evolui. Assim ocorre, desde que o mundo é mundo.

Resta aos homens saberem se estão dispostos a abraçar as benesses que a inovação proporciona, apesar da “alma” ser uma substância muito mais amável que o frio toque do “cobre”. Agora, se quisermos cavar o nosso futuro com as colheres que nos fazem crer serem excepcionais, talvez mereçamos o poço que surgirá logo logo.

*Por Heron Nery, da UJL.

Aviso

As opiniões contidas nos artigos nem sempre representam as posições editoriais do Boletim da Liberdade, tampouco de seus editores.

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