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“É fértil o terreno para a direita no Brasil”, diz senador Girão

Em entrevista exclusiva ao Boletim da Liberdade, o senador fala sobre o futuro da direita no Brasil, a oposição ao Lula e desafios do Senado
Foto: Waldemir Barreto/Agência Senado

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O senador Eduardo Girão (NOVO/CE) concedeu entrevista exclusiva ao Boletim da Liberdade, neste sábado (12). Na última semana, o senador cearense estampou as manchetes das editorias de política ao anunciar sua saída do PODEMOS para o NOVO. Girão havia lançado candidatura para presidência do Senado, mas de última hora decidiu apoiar Rogério Marinho (PL/RN) para unir forças na oposição. Na conversa, o senador teceu comentários sobre o governo de Jair Bolsonaro, falou sobre o futuro da direita no Brasil e reiterou sua oposição ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

Confira a íntegra da entrevista

Boletim: Senador, vamos direto ao ponto. O senhor destacou em seu discurso no plenário um agradecimento ao Podemos pelos quatro anos, mas decidiu mudar para o NOVO, qual foi essa “mudança de ciclo” tão importante que te motivou?

Girão: “Ao Podemos eu só tenho gratidão, pelo aprendizado que tive. [O partido] me acolheu durante quatro anos de mandato, metade do mandato no Senado, mas tudo na vida tem um ciclo. O NOVO, eu sempre admirava e observava o posicionamento dos deputados federais, sempre coesos, coerentes, firmes. E também o governador Zema, seguramente um dos maiores governadores do país hoje, entre os mais bem avaliados, coerente, simples e assertivo na gestão. 

Eu vi, com a mudança para o governo Lula, o meu perfil se identificar como oposição responsável. Durante o governo anterior, eu tive uma postura independente, que vinha pelo alinhamento em algumas pautas, defesa da vida, contra drogas, existia um alinhamento maior com o governo anterior. Embora eu tenha questionado bastante com a independência do mandato, por exemplo o Coaf, ter tido aquela iniciativa da Medida Provisória, de mandar para um lado, mandar para o outro. A própria lava-jato que foi destruída no último governo. Fiz muitos questionamentos que achei que deveria fazer com relação ao governo anterior. 

Mas não tem comparação com o governo Lula, principalmente questão de ética. Nós precisamos de uma oposição forte. Então eu saí de um momento de independência e vou para a oposição, que eu sinto que nós precisamos ter nesse momento uma oposição firme, e o NOVO me passa essa segurança. Sem falar tudo o que sempre fiz no meu mandato, que são os anti privilégios, que o NOVO defende e eu corto na carne também. Já venho fazendo isso há muito tempo, cortando regalias, mordomias e também defendendo uma máquina pública mais enxuta, eficiente, anti desperdício e anti corrupção, a prisão em segunda instância, o fim do foro privilegiado.”

Boletim: Em muitas manchetes de jornais e nas redes sociais, o senhor é chamado de bolsonarista, mas nas Eleições 2022 declarou voto em Felipe d’Avila para presidência. Como você descreve o seu posicionamento político e econômico?

Girão: “Declarei voto no Felipe d’Avila publicamente, estive com ele durante a campanha e acho que o Brasil naquele momento precisava disso. Precisava sair de uma polarização que faz mal, ninguém aguenta mais briga política. A gente tem que sair disso, está fazendo mal, tem famílias que estão fragilizadas por conta disso, pai que não fala com filho, mãe que não fala com irmão, e a gente precisa desse norte. 

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O Felipe reunia essas características, com a bandeira do NOVO. Sereno, focado em desenvolvimento, focado em Estado com eficácia na gestão. Tudo isso era importante naquele momento, e infelizmente não fluiu. Não sou bolsonarista, a gente tem que acabar com essa coisa de rótulo, ‘bolsonarista, lulista’. 

Eu sou Brasil, o que vier inclusive desse governo Lula que for bom para o Brasil, bom para os brasileiros, eu vou votar a favor, mesmo sendo oposição. Mas por que oposição? Porque as ideologias, as ideias, o histórico do PT, não tem como eu ser independente. Tem que ser oposição, critica responsável. Essa palavra responsável é justamente isso, se for bom para o Brasil e para os brasileiros é claro que a gente tem que aprovar. Não ser oposição por ser oposição, porque aí é oposição contra o Brasil.”

Boletim: Quem é Jair Bolsonaro sob sua ótica? 

Girão: “Quem é o Bolsonaro? Foi eleito por um milagre, em 2018. Aquela facada foi decisiva naquele momento, foi algo transcendental, e tinha que acontecer aquilo, o Brasil precisava de uma mudança radical nos rumos. Infelizmente, ele abandonou pautas que o levaram a ser presidente, à eleição deste honroso cargo. Ele abandonou a Lava-Jato, e a aproximação com o Centrão como se deu foi muito ruim, o deixou refém. Ficou aquela coisa do poder pelo poder. 

Mas eu acredito que foram mais pontos positivos, ainda assim, do que se fosse com o PT. Precisava dessa quebra de paradigmas, da ruptura desse sistema político carcomido, corrupto. Ele [Bolsonaro] pegou uma pandemia, uma guerra e mesmo assim os índices econômicos do Brasil ficaram positivos. 

Até tem um legado importante dele de um levante de conservadores. Antes você via uma matéria de um tema de costumes em algum veículo progressista e a gente via que 95% dos comentários era em concordância com a linha editorial do jornal, ou seja, liberação de aborto, de maconha. Hoje com o fenômeno Bolsonaro houve um avanço disso, os conservadores saíram do armário e foram para o fronte, se posicionando e discutindo sobre os temas. Isso foi importante para equilibrar um pouco a balança, mas eu acho, com todo o respeito, que já deu o que tinha que dar.”

NOVO no Congresso

Boletim: O Partido NOVO encolheu dentro do Congresso Nacional em comparação com a última legislatura. Em contrapartida, o partido tem agora o seu primeiro senador da história. O que isso representa?

Girão: “Eu fico muito honrado, numa repaginação do NOVO, que está se reinventando. Eu acho muito bonita essa capacidade de refletir, eu vejo isso nos seus líderes internamente. Eu vejo isso bastante no Eduardo Ribeiro, um líder servidor, uma pessoa de valores, princípios bem definidos, o Marcel van Hattem, que já é meu parceiro desde o início do mandato, trocando ideias sobre matérias legislativas, posicionamentos. A Adriana Ventura, tantos outros parlamentares que contribuem para a história do NOVO. 

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Eu vejo todos refletindo sobre esse novo momento. Vejo que o NOVO, para muitos políticos que veem superficialmente a coisa do poder pelo poder, é coisa do passado, que isso acabou. Eu vejo o contrário, eu vejo um ressurgimento das cinzas como uma fênix. É um partido que tem uma essência muito boa, e que é exatamente o que o brasileiro quer. Eu me sinto muito feliz em ser o primeiro mandatário do Norte/Nordeste do NOVO, primeiro senador da história. 

É uma honra e uma responsabilidade grande, não sei se estou à altura, mas vou dar o meu melhor, mesmo sabendo das minhas limitações e imperfeições, junto com o grupo. Gosto de estar num grupo que a gente percebe que não é como os outros partidos que têm donos. O NOVO tem diálogo. Eu acho muito importante essa construção, e  vamos colaborar com ideias, sempre com base no respeito, no diálogo, porque o respeito é a regra da boa convivência. Estou muito feliz com esse desafio, já tenho muito do NOVO dentro de mim como parlamentar, pela liberdade de expressão, liberdade econômica.”

Boletim: O NOVO na Câmara criou uma identidade. O que pode-se esperar do NOVO no Senado? 

Girão: O desafio do NOVO no Senado é buscar o amadurecimento do partido, nessa nova jornada em que o partido está corrigindo rumos, reparando situações que fazem parte, o partido não tem nem dez anos ainda. Ele [o partido] vai aprendendo, e vejo que o NOVO está aberto a isso. Na Câmara foi uma atuação exemplar e dentro do Senado hoje sou só eu, mas com as características e respeitando a identidade de cada um vou procurar seguir essa linha, interagindo com os colegas da Câmara dos Deputados, quem sabe podem vir outros senadores. Mas o importante é a gente florescer essas ideias, sempre com muito equilíbrio e tranquilidade, mas firmeza nos propósitos.”

Futuro da Direita no Brasil

Como o senhor enxerga o futuro da direita, com a eleição de Lula e de seus “apoiados” como presidentes da Câmara e do Senado?

Girão: “Eu acredito que a direita precisa se unir, ela não está ligada à personalismo nenhum, de ninguém. São ideias importantes, e como eu falei, houve esse levante nos últimos anos, de conservadores, de pessoas liberais na economia. Eu vejo que com base no diálogo, no entendimento, na compreensão mútua, nós podemos ter um sentimento mais forte de união para fazer a direita prosperar no Brasil. É muito fértil o terreno para a direita no Brasil, e a gente precisa semear isso. Se a gente vai colher dentro de pouco ou muito tempo, a gente não sabe, mas o importante é semear. Talvez esse seja o nosso trabalho, semear para que as futuras gerações colham. 

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Estou muito motivado com isso, acredito que esse momento da direita vai ser muito promissor, e o Brasil vai ter a oportunidade novamente de ter a direita. Uma direita sem personalismo, que possa desenvolver o trabalho que esse país merece e que os brasileiros precisam para colocar o Brasil no protagonismo mundial. Nós temos tudo para dar certo, um povo trabalhador, empreendedores criativos, determinados. Temos a maior nação católica do mundo, maior nação espírita do mundo, a segunda nação evangélica, todo mundo se relaciona bem. O Brasil é querido no mundo. A possibilidade do agronegócio nem se fala, pujante que pode crescer muito mais, água que não falta, energia renovável, potencial fantástico, turismo, meu deus do céu. A gente tem muito que trabalhar e eu acho que vai dar tudo certo.”

Boletim: Como fica a oposição? 

Girão: “O trabalho da oposição vai ser muito importante. O Lula, a gente sabe que o governo dele, o histórico do PT, é craque em cooptação. Só para você ter uma ideia, no meu estado, Ceará, eles gastaram na gestão do agora ministro da Educação, ex-governador Camillo Santana (PT), eles gastaram R$ 1,1 bilhão com propaganda e publicidade com o dinheiro do suor do povo do nosso estado. Se você comparar isso proporcionalmente, é o estado que mais gasta com propaganda. 

Enquanto é desastrosa a segurança pública, por exemplo, as pessoas estão sendo expulsas de casa, os comerciantes têm que pagar taxas para o crime organizado. É um negócio absurdo, você tem que pedir autorização para entrar em certos lugares da capital e do interior, ou seja, as facções criminosas estão dominando porque o estado é covarde, fraco, mas gasta com propaganda para ter uma blindagem na sua imagem. 

Eu acho que tudo o que é falso cairá, tudo o que está oculto será revelado, e isso mostra qual é a pegada do PT, não precisa nem a gente falar de petrolão, mensalão com relação à ética. Nós vamos ter dificuldade, porque eles são hábeis em cooptar, é uma prática deles, os fins justificam os meios. Ainda bem que vai ter uma oposição ali, onde um bloco já foi formado para ocupar posições estratégicas em comissões com o NOVO, PL, Republicanos e o PP. Só ali já são 23 senadores, mas acho que tem outros independentes em outras posições que vão estar conosco em algumas causas. Sou vice-líder da oposição, o líder é o Rogério Marinho, e estaremos ali fazendo um enfrentamento com a graça de Deus.”

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