O Secretário Nacional de Finanças do NOVO, Moisés Jardim, também ex-presidente da sigla, anunciou nesta segunda-feira (7) seu pedido de saída do diretório nacional do partido. [1]
Segundo informações preliminares, o pedido de saída foi em conjunto com o vice-presidente da sigla, Ricardo Taboaço, e a secretária nacional de assuntos institucionais e legais, Patrícia Vianna. Todos eles fazem parte do grupo que seria mais ligado a João Amoêdo, principal fundador do NOVO.
Na carta aberta divulgada em seu perfil no Facebook, Jardim afirmou que “já faz algum tempo” que tem “manifestado insatisfação com os caminhos escolhidos pelo NOVO através da sua bancada federal e também pela omissão da sua liderança partidária”.
No texto, Jardim afirma que procurou, em conjunto com Taboaço e Vianna, “atuar dentro dos fóruns adequados”, mas começou a perceber “a partir do segundo semestre de 2021” o que seria a “forte influência dos mandatários sobre lideranças partidárias”, inclusive quanto a resoluções internas, que não estariam sendo adequadamente cumpridas, como aquela que determinou que o partido deveria fazer oposição a Bolsonaro.
Como já havia reiterado outras vezes, Jardim destacou em sua carta um tom crítico ao modo como o liberalismo tem sido explorado no partido.
“O argumento do liberalismo passou a ser usado em defesa de posições absolutamente antidemocráticas e que testam a toda hora a segurança institucional, enquanto as reais necessidades do cidadão brasileiro foram deixadas de lado. […] A escolha de um modelo liberal ocorreu pelo entendimento da necessidade de diminuir o peso do Estado sobre o cidadão e por observação daquilo que dava certo em outras partes do mundo, e não por um modelo pré-determinado em livro texto/cartilha que devesse ser seguido de forma dogmática, afinal não se pode esquecer a história de nosso país e toda a desigualdade de oportunidades que as conhecidas políticas públicas e as corporações de interesses criaram ao longo de séculos. O que vemos hoje no partido é uma inversão de valores, colocando o liberalismo como um fim e não como um meio para se chegar aquilo que de fato poderá mudar a vida do cidadão e transformar o Brasil”, destacou.
Segundo o ex-dirigente, que afirmou que seguirá filiado à legenda, o “uso da narrativa do debate ideológico como cortina de fumaça para esconder a incompetência do atual governo federal acaba sendo defendida por muitos dentro do Novo em função desta visão liberal como um fim em si, sem perceber que com isto estão dando suporte aqueles que trabalham com o objetivo de desestabilizar as instituições e a democracia, se valendo dos próprios instrumentos democráticos e constitucionais para atacá-los e destruí-los”.
“Temos sido três vozes dissonantes no Diretório Nacional, defendendo práticas, posicionamentos e rigidez de regras e valores e sendo constantemente ‘votos vencidos’ pelo uso do voto de desempate do presidente. Como consequência do voto de Minerva, diálogos importantes no colegiado do Diretório Nacional, deixaram de existir e qualquer divergência é ignorada, ao invés de gerar reflexões e discussões saudáveis e enriquecedoras, valiosas em qualquer agremiação política. Por discordar totalmente dos caminhos e da estratégia definidos pela liderança do Partido e para não compactuar com muitas das decisões aprovadas a despeito da nossa reprovação, decidimos formalizar, nesta data, nossa renúncia aos nossos respectivos cargos no Diretório Nacional”, concluiu.
Outro lado
Após a publicação da matéria, o NOVO divulgou uma nota. A legenda agradeceu o “compromisso e dedicação” dos dirigentes que estão saindo, mas afirmou que “nunca abdicou da integridade e coerência com os princípios e valores que norteiam esta instituição”. Confira aqui a nota na íntegra.
Confira, abaixo, a carta na íntegra:
Já faz algum tempo que, junto com o Ricardo Taboaço e Patricia Vianna, tenho manifestado nossa insatisfação com os caminhos escolhidos pelo NOVO 30 através da sua bancada federal e também pela omissão da sua liderança partidária. Ao longo deste período de insatisfação, enquanto assistimos o enfraquecimento da Instituição, procuramos atuar dentro dos fóruns adequados, deixando clara nossa reprovação à distorção de alguns princípios que estão levando o partido a caminhos já conhecidos da política tradicional, justamente o que o Novo veio para mudar.
Uma das grandes diferenças do Novo em relação aos demais partidos é que o seu Estatuto prevê a segregação da atuação política dos mandatários da gestão partidária, exatamente para que a instituição não se contamine com interesses pessoais e eleitorais dos que são eleitos, e mantenha firme o propósito de trabalhar para o pagador de impostos. Porém, a partir do segundo semestre de 2021, passamos a perceber uma forte influência de mandatários sobre lideranças partidárias, numa séria inversão de valores, fazendo inclusive com que a Diretriz Partidária 03, documento que formaliza o posicionamento de oposição ao governo federal, passasse a ser publicamente relativizada pelo presidente do Partido e mais recentemente ignorada por pré-candidatos do partido a cargos majoritários. Sob o argumento da “pacificação interna” a liderança partidária passou a se omitir ainda mais e a buscar o caminho de um pretenso consenso, o que rapidamente impôs mudanças significativas em decisões importantes envolvendo definição de candidaturas e a estratégia de atuação.
O partido que foi criado para atuar em prol do cidadão e de suas reais necessidades, buscando a construção de um país justo, seguro e admirado se deixou tomar por questões ideológicas eleitorais. O argumento do liberalismo passou a ser usado em defesa de posições absolutamente antidemocráticas e que testam a toda hora a segurança institucional, enquanto as reais necessidades do cidadão brasileiro foram deixadas de lado.
O principal objetivo que motivou a formação do Novo, em 2011, era melhorar a vida das pessoas, começando por influenciar novas políticas públicas voltadas ao cidadão e suas necessidades e acabando com privilégios para poucos. A escolha de um modelo liberal ocorreu pelo entendimento da necessidade de diminuir o peso do Estado sobre o cidadão e por observação daquilo que dava certo em outras partes do mundo, e não por um modelo pré-determinado em livro texto/cartilha que devesse ser seguido de forma dogmática, afinal não se pode esquecer a história de nosso país e toda a desigualdade de oportunidades que as conhecidas políticas públicas e as corporações de interesses criaram ao longo de séculos.
O que vemos hoje no partido é uma inversão de valores, colocando o liberalismo como um fim e não como um meio para se chegar aquilo que de fato poderá mudar a vida do cidadão e transformar o Brasil. Este debate ideológico pode ser muito interessante em redes sociais, debates acadêmicos, mas sem impacto direto na vida das pessoas, que continuam sem educação, sem segurança, sem emprego, com pouca renda e cada vez com menos esperança na política e na democracia como forma de reverter esta situação.
O uso da narrativa do debate ideológico como cortina de fumaça para esconder a incompetência do atual governo federal acaba sendo defendida por muitos dentro do Novo em função desta visão liberal como um fim em si, sem perceber que com isto estão dando suporte aqueles que trabalham com o objetivo de desestabilizar as instituições e a democracia, se valendo dos próprios instrumentos democráticos e constitucionais para atacá-los e destruí-los.
Esta degradação de princípios se agrava com e desmanche da governança interna do partido, com assuntos relevantes deixando de ser discutidos pelo Diretório Nacional, com o presidente do diretório nacional atuando de forma isolada, invertendo prioridades, definindo estratégias, contratando e assumindo despesas sem o devido debate do diretório eleito.
Temos sido três vozes dissonantes no Diretório Nacional, defendendo práticas, posicionamentos e rigidez de regras e valores e sendo constantemente “votos vencidos” pelo uso do voto de desempate do presidente. Como consequência do voto de Minerva, diálogos importantes no colegiado do Diretório Nacional, deixaram de existir e qualquer divergência é ignorada, ao invés de gerar reflexões e discussões saudáveis e enriquecedoras, valiosas em qualquer agremiação política.
Por discordar totalmente dos caminhos e da estratégia definidos pela liderança do Partido e para não compactuar com muitas das decisões aprovadas a despeito da nossa reprovação, decidimos formalizar, nesta data, nossa renúncia aos nossos respectivos cargos no Diretório Nacional.
Continuamos filiados e trabalhando nesta condição para recolocar o partido no seu caminho original, cientes de que o Novo é um projeto de longo prazo e mantendo a coerência que vivenciamos nas gestões anteriores do Diretório Nacional, quando participamos do momento de maior desafio e crescimento do partido e buscamos os objetivos sem optar por atalhos ou facilidades. Reverter a mentalidade de resultados fáceis e rápidos da atual gestão será nosso maior desafio enquanto filiados, na esperança de retomar o caminho correto que originou a criação do Novo e resgatando os quase 40mil filiados que se afastaram do partido.