JEFFERSON VIANA*
Friderich Hayek, um dos maiores pensadores do espectro pró-liberdade, denuncia em seu artigo “Por que não sou conservador” o risco de o termo “liberal” ser sequestrado por aqueles que não têm algum compromisso com a liberdade. Com o tempo, a profecia do autor de “O Caminho da Servidão” se cumpriu, a ala democrata-cristã do Partido Democrata se foi junto com John Kennedy e hoje pessoas como Barack Obama, Hillary Clinton, Bernie Sanders, Nancy Pelosi e Alexandria Ocasio-Cortez são chamadas de liberais, quando na verdade não defendem liberdade nenhuma.
No Brasil, aqueles que deveriam ser liberais, de fato, em muitas pautas tem caminhado do lado da extrema-esquerda. Seja na eterna birra com ações do governo Jair Bolsonaro – primeiro presidente que venceu uma eleição com um programa liberal de governo desde a Proclamação da República –, seja em pautas morais -como no recente caso da retirada do especial de natal realizado pelo grupo humorístico “Porta dos Fundos” no serviço de streaming Netflix.
No caso da eterna birra de presidenciáveis derrotados como João Amoêdo e membros do Livres – que na eleição foram “abraçados” por legendas de esquerda como a REDE e o PPS (atual Cidadania) -, os resultados de retomada econômica e da autoestima de empresários e da população vem frustrando aqueles que defendiam a tese de que Bolsonaro faria um governo estatizante e que incharia a máquina administrativa, numa espécie de “quanto pior, melhor”, para se venderem como alternativa na próxima eleição presidencial.
No que tange a pauta moral, não é a primeira vez onde ditos “liberais” ficam do lado de socialistas. Houve o episódio da exposição “Queermuseu”, promovida pelo Banco Santander no ano de 2017 em Porto Alegre. A iniciativa estimulava a pedofilia, a zoofilia e o desrespeito a símbolos religiosos. Amoêdo, naquela altura, provavelmente aconselhado por “lacradores”, ficou do lado do petista e curador da exposição Gaudêncio Fidelis, alegando que esta seria uma exposição privada, que não poderia ser paralisada pela justiça e que o direito de liberdade de expressão deveria ser garantido.
No Brasil, aqueles que deveriam ser liberais, de fato, em muitas pautas tem caminhado do lado da extrema-esquerda. Seja na eterna birra com ações do governo Jair Bolsonaro, seja em pautas morais
Ocorre que, embora tanto o Santander quanto o Netflix sejam empresas privadas, e reconhecendo que a crítica à censura tenha alguma lógica, há uma falha na defesa da liberdade irrestrita. A liberdade é um direito defendido desde os tempos imemoriais. Citando como exemplo a Bíblia Sagrada – certidão de nascimento da sociedade ocidental como a conhecemos -, observamos que, em seus versículos, os livros sempre se referem à liberdade como algo de relação de causa e efeito, no que o francês Frédéric Bastiat se referia em suas obras como “conceito de liberdade responsável”: você é livre para fazer o que quiser desde que arque com suas consequências. Além disso, existe uma linha tênue entre fazer piadas sobre questões religiosas, que podem transformar piada em ofensa.
No Brasil, é comum religiões virarem motivo de humor: seja nas imitações de pastores e padres como Edir Macedo, Valdemiro Santiago, Fábio de Melo e Padre Quevedo, seja na representação de Jesus Cristo e Nossa Senhora no filme “O Auto da Compadecida”, para exemplificar. Entretanto, não há a intenção de ofender a uma cultura e a toda uma sociedade como no caso do “Porta dos Fundos” e sim entreter de maneira lúdica o público consumidor.
No momento em que empresas privadas atacam a cultura que formou a todos nós, ela deve estar sujeita a todos os tipos de penalidades. Desde o não consumo de determinado produto oferecido por tais companhias – também conhecido como boicote – à responder na justiça por processos judiciais que peçam a retirada de tal conteúdo. A liberdade total e irrestrita serve apenas para todos que não têm compromisso algum com a liberdade. A nova geração de marxistas, a quem Ludwig von Mises já denunciava na sua “A Mentalidade Anticapitalista”, já entendeu que revolução não se faz mais no chão de fábrica, e sim por meio da cultura.
Muitos dos que têm dinheiro para investir, seja em cultura, sejam na atividade política, não tem compromisso algum com a liberdade, mas sim o compromisso de implantar um governo centralizador e totalitário, substituindo a família pelo Estado como cerne da sociedade. Libertários como o ex-senador norte-americano Ron Paul já denunciaram inúmeras vezes tal problema, onde inimigos da liberdade se travestem de liberais em busca de implementar um governo totalitário.
No momento em que “liberais” endossam os protestos de esquerda, podem estar trazendo um cavalo de Tróia para a sociedade em geral. A economia não é um fim em si mesmo, em que se a área econômica for bem, o restante virá a reboque. A economia livre e próspera é importante sim e essencial para a garantia de uma sociedade livre, mas se os valores morais construídos por nossos antepassados forem atacados em nome do lucro e do poder totalitário, nossa sociedade não poderá ser considerada livre e próspera, mas sim uma sociedade controlada por um ente centralizador que usará o Estado para atacar a todos nós.
*Jefferson Viana é secretário parlamentar da Câmara dos Deputados, acadêmico em História e colunista do site Sentinela Lacerdista