
A 11ª edição da coluna Panorama destacou a opinião do deputado estadual Chicão Bulhões, do Partido Novo do Rio de Janeiro, sobre a importância da descriminalização das drogas no debate sobre segurança pública. O parlamentar também conversou sobre a polêmica política de segurança pública do governador do Rio de Janeiro, Wilson Witzel.
Abaixo, segue a íntegra da entrevista:
Boletim da Liberdade: Como você avalia a gestão do governador Wilson Witzel na segurança pública? Há, de fato, uma política de segurança pública no estado?
Chicão Bulhões: Não concordo com a política do “tiro na cabecinha” e o helicóptero atirando de cima. Entendo a revolta da população com tanta violência e corrupção, mas não concordo com essa política porque ela está aí há anos e nunca deu resultado, não tem nada de inovadora e coloca em risco as vidas dos policiais e da população. Polícia não é exército. O papel delas não é de combate, mas de dia a dia, manter a ordem e de auxiliar os órgãos de justiça.
Isso não quer dizer que não devem se defender e defender a população, mas é injusto colocarmos todo peso e responsabilidade nas polícias para resolverem a questão da segurança. É um problema infinitamente mais complexo, que envolve a necessidade de investimentos em inteligência, busca por integração com outros entes federativos, planejamento, fatores econômicos, sociais e até mesmo regularização fundiária. Isso sem falar em uma nova política para a questão dos presídios e reintegração dos presos na sociedade, que são verdadeiras escolas do crime. As pessoas entram no sistema prisional e voltam para a sociedade piores. Há muito a se fazer e ainda espero ver desse Governo um plano amplo nesse sentido.
Boletim da Liberdade: Desde o início do ano, segundo dados oficiais, mais de 1.000 pessoas foram mortas por ação policial. Combinado a isso, há a retórica do governador valorizando o enfrentamento e o fim do incentivo aos policiais pela redução da letalidade. Como você enxerga esse cenário?
Chicão Bulhões: Temos que buscar menos mortes e não mais mortes. Para um liberal, nada importa mais do que a vida. Bandidos não se importam com vidas alheias, mas o Estado tem o dever de se importar, senão qual será a diferença? Nesse sentido, reitero minha visão de que não adianta partir para o confronto. Já dizia o general e filósofo Sun Tzu: a suprema arte da guerra é derrotar o inimigo sem lutar.
Para um liberal, nada importa mais do que a vida. Bandidos não se importam com vidas alheias, mas o Estado tem o dever de se importar, senão qual será a diferença?
Boletim da Liberdade: Alguns associados do Livres defenderam a importância de debater a legalização das drogas, a começar pela maconha, como uma forma de reduzir o poderio do tráfico. Por outro lado, há grupos de conservadores que defendem uma política contrária: a de também endurecer as penas. Gostaria de saber a sua opinião sobre o tema e se um debate sobre a legalização das drogas é pertinente quando se fala em reduzir a violência no Rio.
Chicão Bulhões: O debate sobre descriminalizar as drogas é extremamente pertinente e necessário. Drogas fazem mal a saúde e são um problema social, mas a guerra às drogas nos moldes atuais foi um fracasso global, custando milhões de dólares e milhões de vidas. Ao criminalizar e proibir sem critérios, conferimos ao narcotráfico o monopólio de produtos que as pessoas consomem por diversas razões. Vejam os EUA nos tempos de proibição do álcool e como sua descriminalização melhorou o cenário institucional e social. Álcool é uma das drogas que mais mata no mundo, e é legal. O cigarro também. Isso sem falar nas drogas que tomamos para depressão, performance, concentração, emagrecimento… são substâncias controladas e reguladas, com efeitos diversos sobre o corpo.
O indivíduo adulto tem que ter liberdade com responsabilidade, e o Estado precisa desenvolver uma abordagem de prevenção, saúde e educação, regulamentando o comércio e produção de drogas, buscando diminuir e desincentivar o consumo. Mas fazer disso uma guerra é um erro histórico, como mostram diversos estudos. Portanto, deve sim ser um dos pilares no plano para redução de violência em todo país, inclusive no Rio.
Obrigado por ter lido até aqui.
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