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Países percebem que Brasil foi exportador de corrupção, analisa professor

Suicídio do ex-presidente peruano Alan García após mandado de prisão decorrente da Lava Jato deixou claro as consequências da corrupção iniciada no Brasil em países vizinhos, analisa professor Paulo Velasco
Sede da Odebrecht em São Paulo: empresa seria um símbolo do 'capitalismo brasileiro' exportador de corrupção (Foto: Divulgação)
Alan García, ex-presidente do Peru que governou entre 1985 e 1990 e entre 2006 e 2011 (Foto: Reprodução/Facebook)

O ex-presidente peruano Alan García virou manchete no Brasil ao desferir um tiro contra a própria cabeça na manhã desta quarta-feira (17) em Lima, no Peru. A medida, drástica e extrema, contudo, não é boa para o Brasil – na verdade, implica mais o país no processo de desestabilização política que o Peru está passando.

É que García decidiu se suicidar após policiais chegarem em sua casa para cumprir um mandado de prisão preventiva. A medida é decorrente de investigações do braço peruano da Operação Lava Jato. García fora delatado por um ex-executivo da Odebrecht como receptor de propina da empreiteira brasileira.

Para entender mais esse caso e saber se existe alguma razão pela qual foi um político peruano que se matou diante do temor da prisão e não um brasileiro, o Boletim da Liberdade conversou com Paulo Velasco, professor universitário, doutor em ciência política e mestre em Relações Internacionais.

Segundo Velasco, o Brasil carrega agora um passivo ainda maior de ser um motivador de instabilidade e um “exportador de corrupção”. Confira:

Boletim da Liberdade: Há alguma razão, seja cultural ou até conjuntural, para essas diferenças de reações entre as classes políticas e econômicas do Brasil e do Peru? Ou esse foi um caso isolado?

Paulo Velasco: Não vejo questão cultural no ato extremo do Alan García. O Peru não é propriamente uma sociedade, ou uma cultura, que possamos considerar tão avessa assim às humilhações públicas como outros países. Se fosse, por exemplo, no Japão, poderíamos entender que é uma questão cultural e não raramente vemos atos desse tipo [suicídio] praticados por políticos japoneses quando são pegos em atos de corrupção ou desvio de dinheiro. Lá, representa um ato de humilhação muito grande para a sociedade, para a família.

Quanto ao Peru, porém, vejo como um caso isolado. Vários outros presidentes peruanos passaram pelo constrangimento de serem identificados nas investigações como receptores de suborno da Odebrecht, como o Ollanta Humala, o proprio Pedro Kuczynski que teve que renunciar por conta disso. Não vejo, portanto, um componente cultural no suicídio.

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Boletim da Liberdade: Olhando a conjuntura política e também o contexto histórico, é possível perceber similaridades ou afinidades entre os grupos políticos atingidos pela Lava Jato em ambos os países?

Paulo Velasco: O que a Odebrecht fazia no resto da região, no entorno regional, nos vizinhos sul-americanos, era muito parecido com o que fazia no Brasil. Havia interesses econômicos muito fortes e eles buscavam financiar políticos de campanha de todo o tipo de coloração partidária, da esquerda à direita, passando pelos partidos mais de centro.

Assim como no Brasil, onde Operação Lava Jato alcançou todos os partidos praticamente, sem se concentrar em uma linha ideológica específica, no Peru foi a mesma coisa. Temos desde o Ollanta Humala, de esquerda, progressista, ao Pedro Kuczynski, de direita, conservador, além do Alan García, que é o típico populista sul-americano. Essa corrupção que o Brasil exportou para a região não privilegiava nenhuma coloração partidária específica.

Sede da Odebrecht em São Paulo: empresa seria um símbolo do ‘capitalismo brasileiro’ exportador de corrupção (Foto: Divulgação)

Boletim da Liberdade: Como os desdobramentos da Operação Lava Jato estão sendo recebidos nos demais países latinoamericanos? 

Paulo Velasco: De um lado, há o sentimento de que é importante o combate à corrupção. Esse foi um dos pontos destacados na Cúpula das Américas de Lima, da qual o Trump não participou. O sentimento recebido ali era positivo, que finalmente algo estava sendo feito de forma comprometida para enfrentar o tema da corrupção – que não é uma exclusividade brasileira, mas algo endêmico da região.

Mas há também o outro lado, ou seja, a percepção que o Brasil é um problema. Em outras palavras, que o Brasil se tornou um exportador de corrupção para a região, que as empresas que capitaneavam o “capitalismo brasileiro”, isto é, nossa internacionalização e investimentos mundo afora, estavam absolutamente envolvidas com a corrupção, como a Odebrecht e a Petrobras.

Isso afetou o capitalismo brasileiro, afetou os interesses diplomáticos do Brasil na região e hoje é um passivo que o Brasil carrega junto aos vizinhos: ser visto como um elemento de instabilidade, que desestabilizou países vizinhos, colocou presidentes peruanos na cadeia, de alguma maneira contribuiu indiretamente com o suicídio de um ex-presidente peruano.

Por enquanto, a situação está muito circunscrita no Peru, mas as investigações avançam em outros países, especialmente Colômbia e Equador. Veremos desdobramentos muito severos porque pensar em Odebrecht significa pensar nos investimentos do Brasil em vários lugares, também na África e no Oriente Médio.

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