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Vídeo: Mises Brasil, LVM Editora e Instituto Millenium na Bienal do Rio

Uma perspectiva liberal, libertária e conservadora ocupa espaço com força em um dos eventos mais tradicionais da literatura nacional
Foto: Reprodução / Facebook

Bienal do Livro do Rio de Janeiro, 2017. Naquele que é um dos maiores eventos do mundo dos livros no Brasil, com salões movimentados – em boa medida, é verdade, pelos adolescentes alucinados pelas celebridades do Youtube -, uma editora em um modesto estande, repleto de lançamentos cujas capas ostentam imagens de pensadores das distantes terras austríacas, até então um tanto desconhecidos, atrai a atenção de um rapaz no auge de seus 14, 15 anos. “Eu queria comprar um livro de vocês”, ele diz, “Mas eu sofreria bullying na escola”, desanima em seguida.

Apesar do triste desfecho, o simples interesse do rapaz já é um acontecimento que não se tinha o costume de ver nas edições anteriores. O estande pertencia à LVM Editora, empreendimento idealizado por uma equipe que inclui membros do Instituto Mises Brasil, como o próprio presidente Hélio Beltrão, e que é a grande novidade editorial da Bienal para o público liberal e conservador. Além das edições de luxo da Revista Mises e várias obras do célebre economista austríaco, a editora também está “tecnológica”: oferece a chance de experimentar os seus novíssimos audiobooks, um deles, inclusive, na voz do dublador do Batman de Christian Bale, Ettore Zuim. A editora mantém ainda uma programação especial de convidados e transmissões ao vivo pelo Facebook, direto do local.

Embora a LVM seja a grande debutante entre as editoras que oferecem material para o público do ecossistema pró-liberdade, a Bienal oferece ainda um cardápio mais vasto. Logo em frente, há o estande da Biblioteca do Exército, com obras de Hayek, Margaret Thatcher, documentos relacionados à História brasileira e o relançamento feito este ano da obra do professor e pensador liberal brasileiro Ricardo Vélez Rodríguez, Patrimonialismo e realidade latino-americana.

Para os monarquistas, a Livraria do Senado também oferece livros de grandes estadistas e pensadores brasileiros do século XIX. Há ainda, é claro, a gigante Record, uma espécie de pioneira nessa enxurrada que começou com a própria erupção do que alguns chamaram de “nova direita”, trazendo, além do seu catálogo que vai de Olavo de Carvalho a Rodrigo Constantino, o lançamento de Flávio Gordon, A Corrupção da Inteligência: Intelectuais e Poder no Brasil. Um verdadeiro “sinal dos tempos”: nem a Bienal escapou. Parece evidente que a repaginação das ideias sociais e políticas no Brasil veio para ficar.

Foto: Reprodução / Facebook Instituto Millenium

Cenário econômico e político: crise e reformas

Mais do que a mera presença das editoras, dois dos mais importantes think tanks ligados às ideias da liberdade, o Instituto Millenium e o próprio Instituto Mises Brasil, também marcaram a Bienal, no último dia 1º, com um evento no Auditório Lapa, do Pavilhão Verde, que reuniu público significativo para participar de uma discussão sobre os dilemas contemporâneos do país. O Boletim esteve lá e acompanhou tudo.

Com o título “Cenário econômico e político: crise e reformas”, o evento foi mediado pelo editor da LVM, Alex Catharino. Ele abriu o diálogo apresentando o projeto da editora e logo passou a palavra ao representante do Imil, o economista Vitor Wilher, especializado em modelos macroeconométricos e análise de conjuntura macroeconômica. Vitor deu início à sua explanação recordando a linha-mestra da industrialização estabelecida desde ao menos a década de 30 no Brasil: a famigerada “substituição de importações”, eventualmente designada como “nacional-desenvolvimentismo”, caracterizada pela fortíssima presença e intervenção do Estado. Nesse modelo, ele destaca,”os ‘vencedores’ do jogo já são conhecidos previamente”.

A experiência, para Wilher, demonstra que essa aposta estrutural “não deu certo”, forçando os brasileiros a conviver com “inflação crônica e grande desigualdade social”. Ele destaca que as circunstâncias forçaram alguns governos brasileiros, notadamente Sarney, Collor, Itamar e FHC, a levar adiante algumas agendas reformistas, que chegaram a ser razoavelmente preservadas ao longo do primeiro mandato de Lula.

O economista reconhece, inclusive, que o primeiro governo petista realizou algumas reformas microeconômicas virtuosas. Com o advento de Mantega ao Ministério da Fazenda, tudo teria (re)começado a desandar, com o retorno à agenda varguista dos anos 30 e o ambiente de negócios “invertido pelas intervenções”. Politicamente, a inflexão provocou uma disputa, em 2010, entre dois profundos intervencionistas para a Presidência, José Serra (PSDB) e Dilma Rousseff (PT). O desafio agora, ele conclui, é mirar em 2018: “Precisamos de um ‘pai’ em 2018 para abraçar as reformas”.

“A causa dos nossos problemas é o estatismo”, diz Hélio Beltrão

O interlocutor de Wilher, representando o IMB, era o próprio Hélio Beltrão, que também foi fundador e membro do conselho consultivo do Imil. Ele começou com um comentário bem-humorado, celebrando “um ano sem Dilma” (referência ao fato de que completou-se um ano do impeachment da presidente). Hélio comentou que o PIB voltou a crescer, mas que parece haver um exagero no figurino efusivo das celebrações.

“Saímos do fundo do poço e estamos comemorando “migalhas”. É como se estivéssemos olhando para cima, vendo tudo que ainda falta escalar e já festejando”, foi a analogia que fez do que considera um hábito triste de celebrar o medíocre. “Pelo menos paramos de piorar, mas muito graças à agropecuária”. Aqui, Hélio Beltrão dialogou com a explanação de Vitor e fez um comentário que lembra as antigas críticas do economista Eugênio Gudin, que travou esse debate nos anos 30: o desprezo brasileiro à sua vocação agropecuária, preferindo “forçar” uma industrialização estatizante, é um antigo erro que o varguismo deixa de herança.

Beltrão também concordou com Wilher em que o PT bagunçou o tripé macroeconômico, enfatizando que o governo Dilma manipulou a Lei de Responsabilidade Fiscal para estimular a economia – o que desembocou em um desastre, evidenciado pela escalada dramática da dívida pública bruta. Segundo ele, essa dívida ficava razoavelmente estável até então, compensada pelo crescimento econômico, mas a partir do momento em que Dilma se pôs a gastar mais do que arrecadava, a situação chegou a um ponto trágico. “Sou um pouquinho mais pessimista que o Vitor nisso”, ele lamenta, especulando que podemos esperar pelo menos oito anos para podermos voltar ao superávit primário.

Defendendo ainda o modelo de contas individuais para a Previdência, um dos grandes desafios que Beltrão enxerga no futuro próximo e imediato, a conclusão fundamental foi: “Basta de não analisar a causa dos nossos problemas: o estatismo. Enquanto houver essa crença, a gente vai dar com os burros n`água”.

Foto: Boletim da Liberdade

Uma esperança que nasce 

O evento encerrou com o sorteio de um exemplar de As Seis Lições, clássico de Mises, no relançamento da LVM, e uma rodada longa de perguntas da plateia. As questões envolveram dúvidas sobre a Previdência e a medida provisória que estabelece mudanças nas taxas do BNDES. O destaque bem-humorado ficou para um momento em que Hélio disse que suscitaria uma divergência para a “coisa ficar mais divertida”, e Wilher sussurrou: “Mas a gente diverge; eu não sou austríaco, estou velho demais para isso”. Ao que Alex Catharino comentou: “Ainda”.

Catharino também fez várias intervenções, questionando como acabar com o ciclo de intervencionismo. Wilher reforçou a mensagem: “Qualquer economista, tirando os esquisitos, sabe a solução do Brasil. O problema é encontrar o componente político que abrace isso”, em referência a um eventual presidenciável de 2018.

O último destaque foi um professor que se levantou, dizendo que seu filho o havia chamado a atenção para o evento, e se disse preocupado com a força das “esquerdas” nos colégios e universidades e o produto da chamada “infiltração gramsciana”. Como resolver isso? Como voltar a equilibrar a balança? Todos reconheceram que a batalha será árdua, mas Beltrão sentenciou: “o movimento liberal vem hoje de baixo para cima. Temos mais animação e gás do que eles”.

A força das editoras com lançamentos e catálogos próprios ao novo público que questiona as ideias hegemônicas e o tamanho respeitável do público naquele auditório parecem dar razão a Beltrão: um grande vento de esperança pode estar nascendo no país.

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