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Porque eu saí do MBL

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Em 2015 o movimento pelo impeachment da então presidente Dilma crescia em todo o Brasil. Eu era um jovem de 24 anos, recém-saído da faculdade, à procura de realização profissional. Trabalhei em agências de comunicação, TV e assessoria de imprensa, mas não era aquilo que eu buscava. Quando criança meu pai me levava em reuniões e comícios políticos, eu cresci interessado neste mundo, mas na juventude me tornei cada vez mais distante e revoltado com o meio, ao vê-lo pelo noticiário lotado de escândalos de corrupção e de ideias absurdas.

As jornadas de 2013 me despertaram, mas eram lideradas por grupos de esquerda, os quais nunca me identifiquei. Após a eleição de 2014, com o início do movimento pelo impeachment, é que descobri uma esperança: um movimento de rua e popular, liberal e de direita, propondo mais do que a deposição da presidente petista, mas também uma pauta para substituí-la. Era o MBL, ascendendo através das redes sociais.

Mandei uma mensagem em uma de suas páginas e, quando me dei conta, era o seu coordenador municipal em São José dos Campos-SP. Em novembro de 2015, deixei tudo para trás para acampar em frente ao Congresso Nacional, exigindo a abertura do processo de impeachment. Lá conheci pessoalmente todas aquelas lideranças que via nas redes: Renan, Kim, Holiday, etc. Em 2016 o meu trabalho na coordenação municipal se intensificou, dei ao movimento protagonismo regional numa série de episódios de intensa fiscalização e embate com o status quo, com o petismo e a velha política. O trabalho foi tão bem feito que teve o seu reconhecimento: após às eleições municipais daquele ano, em que Fernando Holiday foi eleito vereador em SP, fui convidado para compor sua equipe de gabinete, como assessor de imprensa.

Tivemos muito trabalho, como vocês podem imaginar, mas o título do artigo é “porque saí”, e não como entrei. Pois vamos aos fatos, portanto.

Em 2019 me tornei assessor do deputado Kim Kataguiri. Me tornei, ainda, pré-candidato a vereador, um movimento natural devido o meu ativismo local. Filiei-me, também para este fim, no Partido Novo, em maio daquele ano. Em seguida fui selecionado para a segunda turma do RenovaBR, escola de formação política suprapartidária e com diversas matizes ideológicas entre seus estudantes.

Estas escolhas me fizeram deixar a bolha de sectarismo conduzida pelo Renan Santos. Eu, que sempre fui um entusiasta do NOVO e defendia a filiação de membros do MBL ao partido, muito rapidamente me tornei um incômodo ao líder do movimento, que se queixava da divulgação que eu fazia do partido, deixando gradualmente de lado o ativismo mblista. Era uma evolução natural de quem passava a conviver com pluralidade e institucionalidade, coisas que jamais puderam existir no MBL. Renan sempre liderou o movimento com mão de ferro, enxergando qualquer divergência às suas ideias como ameaça ao controle que exerce em todas as decisões estratégicas do grupo. Questioná-lo e se opor às suas convicções eram motivo de enorme constrangimento e reprimendas, agilmente endossadas por aqueles que temiam perder o seu prestígio no entourage do líder.

Os meses se passaram e se tornava cada vez mais claro, para mim, que eu já não fazia mais parte daquilo. Por mais que eu admirasse o Kim e o Holiday, eu já não era capaz de respeitar a liderança do Renan. Suas decisões eram tomadas por rompantes e visível desequilíbrio emocional. O que os outros julgavam por genialidade, eu identificava como enorme fragilidade do movimento. Não havia, ali, qualquer tipo de estabilidade, política, institucional ou mesmo emocional. Era tudo construído a partir de um castelo de cartas, ou de areia. A insegurança e imprevisibilidade eram enormes. Tentei alertá-lo, conversar com ele e com outros sobre isso, mas qualquer levante em prol do movimento que apontasse falhas na liderança do Renan era visto como uma espécie de golpismo interno. Desisti.

Eleito vereador pelo NOVO, a expectativa do movimento era que eu brigasse com o partido para apoiar o Arthur para governador e fosse candidato em sua nominata. Eu conhecia o Arthur de perto, eu conhecia o movimento de dentro. Eu acreditava no projeto do NOVO. Enfim. Eu não podia fazer isso.

Quando Fernando Holiday decidiu deixar o movimento, não precisei pensar muito para acompanhá-lo neste movimento. Holiday me contou que queria estar no NOVO, o que me deixou ainda mais feliz. A partir de então passei a ser chamado de “traidor” por membros do MBL, o que é comum que façam com todos que escolhem deixar o movimento.

Eu, no entanto, jamais traí o MBL. E também não o traio nestas linhas acima. Fui correto e leal com o movimento enquanto acreditei no que defendiam e em sua liderança, e deixei-o quando não acreditava mais naquilo. Como recompensa pelos anos de serviços prestados, por ter construído um dos núcleos mais ativos e prósperos do movimento em São José, Renan veio até a minha cidade, reuniu sua militância local, e discursou para mais de 50 pessoas, dizendo: “Nunca mais vou permitir que vagabundo, filho da puta, use a nossa militância para se eleger, saia, e vá fazer campanha para outro grupo de filhos da puta”. Ao fundo uma pessoa por quem tive um enorme apreço e por quem já pensei mudar todos os meus planos, vibrava e ria.

Era isso. Sabia, ali, que tinha feito as escolhas certas. Entreguei cinco anos da minha vida ao movimento para, depois, ser tratado como um aproveitador barato. Não mais. O recente episódio com o Arthur eram “favas contadas”, cedo ou tarde aconteceria. Lamento, repudio e rechaço o político, mas não condeno o homem, pois todos estamos aprendendo. Um dia já fui igual a ele.

O importante é que aprendamos e, na vida pública e na pessoal, busquemos a maturidade, a estabilidade, a seriedade e a confiança que os próprios eleitores esperam de seus políticos, algo impossível de se alcançar estando no furação que é o MBL. 

Aviso

As opiniões contidas nos artigos nem sempre representam as posições editoriais do Boletim da Liberdade, tampouco de seus editores.

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