Swing State à moda mineira - Coluna

Swing State à moda mineira

22.09.2021 10:22

Na política norte-americana, o termo Swing State é utilizado para estados que costumam variar as suas opções de voto em eleições, decidindo o pleito no Colégio Eleitoral; diferentemente de estados tradicionalmente democratas, como Califórnia, Nova York e Massachusetts; ou estados tradicionalmente Republicanos como Texas, Kansas e Indiana; estados como Florida, Colorado, Ohio, Pennsylvania, Nevada e Iowa costumam decidir eleições nos Estados Unidos por não terem um perfil eleitoral definido ou mesmo terem diferenças entre a mentalidade cosmopolita das cidades e a mentalidade bucólica do interior.

Embora o Brasil não aplique o método norte-americano para definir o seu Presidente da República, o nosso país também tem características parecidas; enquanto o eleitor da Região Sul e do Centro-Oeste tem um perfil mais conservador em suas escolhas, legendas de esquerda vem obtendo vitórias na Região Nordeste. E, neste cenário, um estado brasileiro acaba sendo uma espécie de “swing state” à moda brasileira: Minas Gerais.

Diversos mineiros já ocuparam a Presidência da República como Afonso Pena, Artur Bernardes, Juscelino Kubitschek, Itamar Franco e Dilma Rousseff, além de personagens de destaque na política nacional como Tancredo Neves, Hélio Garcia, Milton Campos, Magalhães Pinto e Aureliano Chaves. A importância mineira na história política brasileira é inegável, podendo citar movimentos surgidos em solo mineiro como a Inconfidência de 1792 e o Manifesto dos Mineiros de 1945, além do protagonismo mineiro no processo de redemocratização nos anos 1980.

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A importância de Minas Gerais no jogo político se dá por alguns fatores, como o fato do estado ser o segundo maior do Brasil em população – atrás apenas de São Paulo -, ser um dos corações industriais e agropecuários do Brasil e principalmente por suas características socioeconômicas que transformam o estado em uma espécie de “resumo do Brasil”: enquanto o sul de Minas Gerais tem características mais próximas de São Paulo em seu desenvolvimento econômico, o nordeste de Minas Gerais – conhecido também como Vale do Jequitinhonha – é geograficamente mais próximo da Bahia e tem os piores indicadores do estado, sendo considerada uma das regiões mais pobres do país. A vinculação do nordeste mineiro com o Nordeste brasileiro. aliás, é tão grande que a região, desde 1998, é participante da Superintendência de Desenvolvimento do Nordeste (SUDENE).

Ao mesmo tempo, Minas Gerais consegue ter em seu estado um eleitor mais conservador e mais adepto às ideias de esquerda, o que se reflete nas eleições presidenciais. Mesmo com os tucanos Aécio Neves (2002 e 2006) e Antônio Anastasia – hoje no PSD – (2010) vencendo eleições estaduais com boas margens, Lula e Dilma Rousseff venceram no estado. Em 2014, o Partido dos Trabalhadores jogou todas as fichas para garantir a reeleição de Dilma em Minas Gerais a ponto de denúncias envolvendo o uso político dos Correios em prol da candidatura presidencial e da candidatura de Fernando Pimentel para o Governo do estado.

Em 2018, a estratégia petista não foi diferente: mesmo com péssimos índices de popularidade e uma crise fiscal sem fim, o PT apostou suas fichas na reeleição de Fernando Pimentel e na candidatura de Dilma Rousseff ao Senado, apostando no “retorno triunfal” da presidente cassada em 2016. O resultado não foi o esperado, com Fernando Pimentel sequer chegando ao segundo turno, ficando atrás de Antônio Anastasia (PSDB, hoje no PSD) e da então surpresa Romeu Zema (NOVO), que saiu vitorioso com uma vitória acachapante na segunda etapa do processo eleitoral. Além disso, houve a derrota sofrida por Dilma Rousseff, então líder nas pesquisas, que ficou apenas na quarta colocação na eleição para o Senado, atrás de Dinis Pinheiro (Solidariedade) e dos eleitos Rodrigo Pacheco (DEM) e Carlos Viana (PHS, hoje no PSD).

Em 2014, Aécio Neves, mesmo tendo sido governador por dois mandatos e senador eleito por Minas Gerais, acabou sendo derrotado por Dilma Rousseff por 52,41% contra 47,59% no segundo turno. A vitória em Minas ajudou Dilma a subir suas margens de voto e garantir sua reeleição, com o nordeste mineiro sendo o fiel da balança para o PT; entretanto, em 2018, a região metropolitana de Belo Horizonte e a Região Sul de Minas Gerais foram cruciais para a vitória de Jair Bolsonaro (PSL, hoje sem partido) contra Fernando Haddad (PT) por 58,49% contra 41,81% dos votos na segunda volta eleitoral, fazendo com que a legenda petista amargasse sua primeira derrota no estado desde 2002.

Atualmente, o presidente Jair Bolsonaro vive um cenário de aumento de sua popularidade na Região Nordeste, antes reduto tradicional das esquerdas, mas assiste quedas na sua popularidade no eixo urbano Rio-São Paulo enquanto mantém-se forte nas Regiões Norte, Centro-Oeste e Sul. Por outro lado, o PT – que utiliza Luiz Inácio Lula da Silva como balão de ensaio – enfrenta forte resistência eleitoral até mesmo em históricos redutos petistas, como visto nas eleições municipais de 2020, além de assistir Ciro Gomes (PDT) dividir os votos da esquerda principalmente no Nordeste e no Sudeste.

Por outro ponto, a chamada “Terceira Via” não consegue achar um nome de consenso: João Dória, Eduardo Leite, Tasso Jereissati e Arthur Neto irão para as prévias do PSDB com o partido rachado e com altos índices de impopularidade em seus nomes, com ameaças de João Dória migrar para legendas como MDB e Podemos em caso de derrota; João Amoêdo, por sua vez, enfrenta resistência dentro do NOVO mesmo promovendo a expulsão de desafetos políticos; Henrique Mandetta (DEM) e Sérgio Moro, ex-ministros de Bolsonaro que migraram para a oposição enfrentam um ocaso político que vem beirando ao ostracismo; e Rodrigo Pacheco, em vias de migrar para o PSD, pode ter seu projeto político frustrado com a aproximação de caciques da legenda como Gilberto Kassab, Otto Alencar, Omar Aziz e Eduardo Paes ao PT e a uma possível candidatura de Lula.

Hoje, os conservadores têm em representantes como o ex-ministro do Turismo e deputado federal Marcelo Álvaro Antônio (PSL-MG), o deputado federal Júnio Amaral (PSL-MG), no deputado estadual Bruno Engler (PRTB) – que vem de bom desempenho nas eleições para a Prefeitura de Belo Horizonte em 2020 – além da revelação política representada no vereador de Belo Horizonte Nikolas Ferreira (PRTB), além da relação republicana entre Bolsonaro e o governador Romeu Zema, trunfos para a disputa presidencial em 2022.

Independentemente de quem seja o presidenciável vencedor, o caminho para o Planalto passa por Minas Gerais. E no xadrez que vem se desenhando para 2022, o swing state brasileiro acaba tendo sabor de café fresco, boa conversa, frango com quiabo e pão de queijo quente.

Foto: Izabel Chumbinho/IEPHA/Governo de MG

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