fbpx

Déjà-vu?

Compartilhe

*Rodrigo Führ de Oliveira

Conta de luz, congelamento de preços e o futuro que não chega.

Um alerta vermelho foi acionado no fim de abril: em meio a pautas-bomba, o Congresso pode sustar revisões em tarifas de energia aprovadas pela ANEEL. No dia 19, após amplos estudos e discussões técnicas transparentes, a agência reguladora homologou a revisão dos preços praticados por concessionárias de distribuição de energia da região Nordeste. No dia seguinte, o deputado Domingos Neto (PSD/CE) apresentou projeto de decreto legislativo pretendendo sustar essa revisão (PDL 94/2022). O argumento é de que a população já está muito afetada pela inflação e não suporta mais aumentos. Diversos deputados correram para pedir coautoria.

A proposta consegue ser pior do que um simples congelamento de preços. É uma medida ilegal que, embrulhada em tons populistas, cria uma enorme dívida para a população, em vez de protegê-la.

Tentativas de frear a inflação a canetadas – às vésperas de pleitos eleitorais – não são novidade no Brasil. O fracasso dessas tentativas também não. Vemos, de tempos em tempos, medidas que lembram o Plano Cruzado. Proibir os preços de subirem por decreto pode até dar um pequeno alívio temporário, mas a conta chega logo ali na frente com desabastecimento, inflação e descontrole. Foi assim com Sarney em 1986, uma semana após as eleições. O mesmo ocorreu em 2015, quando as medidas de Dilma para reduzir a conta de luz se tornaram insustentáveis e as tarifas sofreram aumento médio de mais de 50%. Já não há exemplos suficientes?

Sustar a revisão das tarifas é medida que consegue a proeza de ser ainda pior, porque significa violar os contratos de concessão da distribuição de energia. Até os juristas mais estatistas e avessos à ideia de contrato administrativo reconhecem que o equilíbrio econômico-financeiro é a garantia mais fundamental das concessionárias e deve ser respeitada. Como a revisão periódica das tarifas é a principal ferramenta de equilíbrio, impedir sua aplicação por razões políticas dará, com toda a certeza, causa a indenizações futuras. E assim a conta volta com juros, multa e correção monetária para o bolso do cidadão.

Os deputados têm razão: a população está muito afetada pela inflação e não suporta mais aumentos. Mas suporta menos ainda medidas populistas que, em vez de resolver, só aprofundam os problemas. De estelionato eleitoral em estelionato eleitoral, o Brasil foi sendo hipotecado em graus crescentes. Essa visão de curtíssimo prazo põe a perder o futuro do país, que já arrisca nunca chegar.

É preciso uma mudança de rumos que traga seriedade, segurança e confiabilidade às instituições, sem invencionismos econômicos nem discursos vazios. Ainda temos seis meses até outubro. Ainda há esperança de sairmos desse déjà-vu.

*Rodrigo Führ de Oliveira é advogado e associado ao IEE.

Aviso

As opiniões contidas nos artigos nem sempre representam as posições editoriais do Boletim da Liberdade, tampouco de seus editores.

plugins premium WordPress
Are you sure want to unlock this post?
Unlock left : 0
Are you sure want to cancel subscription?