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O risco dos gastos públicos

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VITOR NUNES*

As consequências da pandemia foram muito além da questão sanitária. Estamos começando a sentir os efeitos econômicos que os lockdowns tiveram em nossas cadeias de suprimentos, isso sem falar em empregos perdidos e empresas que faliram. Governos ao redor do mundo usaram da tradicional receita keynesiana para combate de crises: política monetária expansionista aliada a aumentos dos gastos públicos. No Brasil as ações não foram diferentes, resultando em queda na taxa de juros para 2% ao ano e um crescimento da dívida pública para quase 90% do PIB.

Mesmo que a maioria fique satisfeita com a taxa de juros mais baixa, até que ponto isso é sustentável para um país com déficits no setor público tão elevados e sem formação de poupança como o Brasil? O aumento da dívida no curto prazo gera desconfiança com relação à capacidade do país de honrar seus compromissos no futuro, pressionando as taxas de longo prazo. Isso por si só já torna mais caro fazer a rolagem da dívida, formando um efeito bola de neve de aumento de gastos e pressão de aumento de juros.

Governos ao redor do mundo usaram da tradicional receita keynesiana para combate de crises: política monetária expansionista aliada a aumentos dos gastos públicos

Se desejamos conviver de forma prolongada com taxas de juros mais “civilizadas”, o país precisa mostrar capacidade de mobilização para evoluir nas reformas estruturais. Boa parte dos pacotes de socorro ficou concentrada na esfera federal, dando um alívio para estados e municípios, mas deteriorando numa escala maior as contas da União. Em última estância, todos sabemos que esse dinheiro sairá do bolso do cidadão.

Com uma carga tributária de 33% sobre o PIB, não existe espaço de manobra para aumento de impostos. O saneamento da situação fiscal precisa acontecer via reformas do setor público. Não é razoável esperar que um povo que convive com anos de crise econômica, assolado também por uma pandemia que custou vidas, destruiu empregos e empresas, tenha que pagar a conta, enquanto temos um funcionalismo público dos mais privilegiados do mundo, estatais ineficientes e um orçamento público descontrolado.

Se as contas não forem colocadas em dia, nossa experiência com taxas de juros amigáveis será bastante breve e voltaremos antes do que gostaríamos a retomar os laços com velhos conhecidos, como a inflação, taxas de juros elevadas e aumento de impostos. Mais do que nunca, o brasileiro tem o dever de cobrar para que os congressistas cortem na carne e deixem o povo livre para prosperar.

*Diretor de formação do Instituto de Estudos Empresariais


Foto: Vitor Nunes (Divulgação) e fila para saque do auxílio-emergencial da Caixa Econômica Federal (Marcelo Camargo/Agência Brasil)

Aviso

As opiniões contidas nos artigos nem sempre representam as posições editoriais do Boletim da Liberdade, tampouco de seus editores.

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