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Descongelar hoje, endividar amanhã

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Henrique Torrescasana Trevisan*

O Brasil vive uma encruzilhada fiscal delicada. A crescente tentação de aliviar as contas públicas por meio do descongelamento de despesas pode parecer uma solução prática para aliviar o curto prazo. No entanto, a falta de uma base fiscal sólida coloca o país em uma trajetória perigosa

Nos últimos anos, o país tem adotado estratégias fiscais que dependem de receitas temporárias, como royalties de petróleo ou tributos sobre o mercado financeiro. Embora essas fontes de receita ajudem a aliviar momentaneamente as contas, sua natureza volúvel o deixa vulnerável a choques econômicos, como uma queda nos preços do petróleo ou uma desaceleração global. A lição que vem de nações que enfrentaram crises fiscais, como a Grécia e a Argentina, é clara: depender de fontes de receita instáveis pode ser um caminho perigoso. Quando a receita seca, os cortes e o aumento da dívida tornam-se inevitáveis.

Além disso, as despesas obrigatórias, como os programas sociais e o pagamento de precatórios, seguem em expansão. No cenário atual, esses gastos representam um peso crescente no orçamento, limitando a capacidade do governo de alocar recursos de forma flexível para áreas críticas, como saúde, educação e infraestrutura. Sem uma reforma administrativa que atue sobre a rigidez do gasto público, o Brasil continuará a enfrentar esse dilema fiscal.

A falta de controle fiscal traz consequências econômicas graves e de longo prazo. O aumento da dívida pública, combinado com a necessidade de ajuste fiscal, provavelmente resultará em uma elevação nos impostos. Além disso, o governo pode ser forçado a cortar gastos essenciais, como investimentos em infraestrutura, saúde e educação, áreas que já enfrentam desafios de financiamento. A combinação desses fatores contribui para um cenário de inflação crescente e juros mais elevados, criando um ambiente de instabilidade econômica.

Para as famílias brasileiras, isso significa uma perda real de poder de compra. O aumento dos impostos e o corte de serviços essenciais atingem diretamente o cotidiano das pessoas, dificultando o acesso a bens e serviços fundamentais. Com o crescimento da inflação, o custo de vida sobe, enquanto o salário da maioria não acompanha esse ritmo. A alta dos juros torna o crédito mais caro e inacessível, limitando as opções de financiamento, seja para a compra de um carro, de uma casa, ou até mesmo para cobrir emergências. 

Em um cenário de crescente incerteza econômica, o que está em jogo é o bem-estar diário das famílias, que terão de enfrentar um ambiente econômico instável e desafiador. A perda do controle fiscal, portanto, não é apenas um problema macroeconômico, mas uma ameaça real ao bem-estar de todos os brasileiros.

*Henrique Torrescasana Trevisan é economista, sócio da Bateleur e associado do Instituto de Estudos Empresariais (IEE)

Aviso

As opiniões contidas nos artigos nem sempre representam as posições editoriais do Boletim da Liberdade, tampouco de seus editores.

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