fbpx

O Brasil na contramão: o risco de estacionar a livre iniciativa

Compartilhe

Por Ana Brito*

Se a inovação colocou o Brasil em movimento, a má regulamentação pode ser o pedágio que nos faz parar no acostamento.

A economia digital mostrou como a liberdade de empreender abre caminhos: novos serviços de mobilidade e entrega multiplicaram opções para consumidores e criaram renda para milhões de brasileiros. Nada disso nasceu de um decreto governamental; surgiu porque havia espaço para a iniciativa privada experimentar.

Como lembrava Hayek em O Caminho da Servidão, cada passo em direção ao planejamento central é também um passo rumo à perda de liberdade econômica e individual.

O PLP 152/2025, ao tentar enquadrar plataformas em regras rígidas, ignora justamente essa lição. Não é papel do Estado decidir o formato do negócio, nem impor uma camisa de força que só gera custos e inibe a concorrência. Se há algo que a experiência brasileira ensinou, é que a diversidade de modelos não precisa de tutela para florescer. Precisa apenas de segurança jurídica mínima, não de um receituário detalhado que transforma empreendedores em réus.

A verdadeira escolha do Parlamento não é entre “regular tudo de forma igual” ou “regular cada modelo de forma diferente”. A escolha é mais simples: respeitar a livre iniciativa ou sufocá-la. Uma legislação que se propõe a ordenar esse setor só faz sentido se tiver como norte a neutralidade, a preservação da autonomia contratual e o reconhecimento de que quem cria valor no mercado são empreendedores e trabalhadores, não burocratas.

Bastiat lembrava que “a lei deve proteger a liberdade, não substituí-la”. Ao padronizar modelos, o Estado não protege a diversidade; elimina-a. O trânsito de ideias e formatos é o que mantém o setor vivo. Cada arranjo atende a um público distinto, uma preferência, uma necessidade específica. Padronizar é como pintar todas as faixas da via de uma única cor: confunde os motoristas, trava o fluxo e aumenta o risco de acidentes.

O desafio regulatório não é escolher qual veículo deve avançar, mas garantir que a pista seja larga, neutra e bem sinalizada. Uma regulação de “gaveta única” faria exatamente o oposto: engarrafaria a inovação, eliminaria rotas alternativas e abriria espaço apenas para os maiores congestionarem a via. Em última instância, seria o triunfo da burocracia sobre o empreendedorismo — um exemplo clássico daquilo que Mises chamou de “efeito destrutivo da intervenção governamental em mercados dinâmicos”.

O Parlamento tem diante de si uma escolha crucial: manter o trânsito livre para a diversidade de modelos ou estacionar a inovação em uma vaga apertada. Se queremos futuro, a lei precisa abrir caminhos, não levantar cancelas.

Ana Brito é coordenadora de Mobilidade e Logística pelo Instituto Livre Mercado.

Aviso

As opiniões contidas nos artigos nem sempre representam as posições editoriais do Boletim da Liberdade, tampouco de seus editores.

plugins premium WordPress
Are you sure want to unlock this post?
Unlock left : 0
Are you sure want to cancel subscription?