Por Natália Ribeiro*
Em “O que se vê e o que não se vê” (1850), Frédéric Bastiat formula uma crítica atemporal ao pensamento econômico superficial. Seu ponto de partida é simples: cada ação ou política tem efeitos imediatos e aparentes e efeitos indiretos, frequentemente ignorados.
Um dos exemplos é o da vidraça quebrada: acredita-se que a destruição gera movimento econômico, mas aquilo que não se vê é a perda de uma oportunidade melhor de uso do dinheiro.
Bastiat, porém, não se limita a essa parábola. Ele aponta também a falácia dos gastos públicos como motor de riqueza. Quando o Estado lança uma obra grandiosa, o que se vê são empregos, máquinas funcionando e inaugurações solenes. Mas o que não se vê são os impostos recolhidos que retiram recursos silenciosamente da sociedade. Se esse mesmo dinheiro permanecesse nas mãos de cidadãos e empreendedores, poderia alimentar outros usos, talvez mais produtivos.
Outro exemplo é o do soldado desmobilizado. Para alguns, dispensar militares seria uma tragédia social, pois reduziria empregos. Mas Bastiat inverte o raciocínio: aquilo que não se vê é que, ao voltar à vida civil, esse homem poderia se tornar agricultor, comerciante, trabalhador, ou seja, alguém que cria valor e enriquece a comunidade, em vez de apenas consumir recursos públicos.
Ele fala ainda das subvenções a setores específicos. Quando o governo protege uma indústria em dificuldade, o que se vê é a sobrevivência temporária de empresas e empregos. O que não se vê é a distorção: outras atividades, talvez mais inovadoras ou úteis, deixam de florescer porque parte da riqueza coletiva foi drenada para sustentar o que, em condições naturais, teria desaparecido.
Nos dias de hoje, podemos pensar em setores que lutam para sobreviver sem apoio. Ou nas grandes obras de infraestrutura que se tornam símbolos de poder político, mas que custam bilhões que poderiam fortalecer a saúde, a ciência ou a inovação.
No fundo, Bastiat não está apenas falando de economia. Somos criaturas fascinadas pelo imediato, pelo que brilha diante dos olhos. Mas a verdadeira maturidade exige enxergar além da aparência, considerar não apenas o ganho presente, mas também o custo invisível do que deixamos de fazer.
Estamos dispostos a pensar não apenas no que se vê, mas sobretudo no que permanece oculto, no que se sacrifica silenciosamente em nome da ilusão do agora?
*Natália Ribeiro é jornalista e membro do IFL Brasília