Quando Sydney Sweeney estampa os outdoors da American Eagle em poses intensamente nostálgicas, e uma frase que brinca com “genes” e “jeans”, está sendo justamente isso: um ícone da virada cultural que testemunhamos florescer em 2025. A campanha “Sydney Sweeney Has Great Jeans” detonou alarmes à esquerda por supostamente glorificar ideais racialmente problemáticos. Mas, na verdade, sinaliza o recalibrar da cultura popular, longe da hipersensibilidade woke, em direção ao apelo instintivo e universal da beleza sem vertentes.
Desde sua estreia, a campanha dividiu o debate. Uma sondagem da Generation Lab junto a estudantes universitários mostra que 64% dos democratas consideraram o anúncio “desconectado”, contra apenas 39% dos republicanos. Outro levantamento, conduzido pelo Economist/YouGov de 9 a 11 de agosto de 2025, revela que apenas 12% dos americanos se sentiram ofendidos, enquanto 39% acharam a campanha inteligente e 40% permaneceram neutros.
A narrativa da cultura de cancelamento rapidamente pegou fogo: figuras como Trump e JD Vance foram ao front conservador para vangloriarem o anúncio como resistência à tirania cultural woke. No mesmo instante, as ações da American Eagle dispararam, com valorização de mais de 20%, embora visitas às lojas tenham caído cerca de 9% na semana de 3 a 9 de agosto.
Opiniões críticas permanecem, algumas acusam a campanha de reforçar estereótipos estéticos eurocêntricos e idealizações genéticas. Mas vozes como a de Dr. Phil questionam essa interpretação: ele considerou as acusações um exagero e declarou que iria comprar jeans da marca para todas as mulheres da sua família, em sinal de apoio. Para outros, o choque cultural é fruto de uma hipersensibilidade que amplifica debates focados em cancelamentos triviais em vez de pautas realmente urgentes.
Outros exemplos da guinada
Esse não é um caso isolado. Assistimos a uma série de recuos públicos de plataformas e estúdios em relação a pautas DEI.
A Disney, por exemplo, alterou seus mecanismos de avaliação de executivos: a métrica de “diversidade e inclusão” foi substituída por “estratégias de talento” no cálculo de bônus corporativos. O relatório anual deixou de lado o programa “Reimagine Tomorrow”, um bastião da agenda woke dos últimos anos. Além disso, o comissário da FCC, nomeado por Trump, iniciou investigação contra a Disney e a ABC, alegando práticas de discriminação via políticas DEI.
São indícios claros de que, ao passo que certos setores reavaliam, e em parte abandonam, suas políticas progressistas, a cultura de massa reage.
Séries e filmes que sofreram sob o peso do woke
Na Netflix, produções como Ma Rainey’s Black Bottom e Strange World foram criticadas por novidades que pareceriam forçadas, seja pela diversidade marginalizada, seja por inclusão de personagens LGBTQ+ apenas como “marca woke”. No universo Disney, o remake de Branca de Neve foi marcado por críticas ao casting diverso que, por muitos, foi visto como “revisionismo woke”, e acabou sendo um fracasso de bilheteria, com perdas estimadas em US$ 115 milhões.
Além disso, franquias como Ant-Man and the Wasp: Quantumania, Indiana Jones and the Dial of Destiny e The Marvels registraram baixas expressivas nas bilheterias, atribuídas por alguns comentaristas conservadores às apostas em narrativas “sociais”, apesar de outras explicações existirem.
O retorno do ar livre
Ao final, o que temos é mais que um anúncio de jeans: é um marco de erosão da cultura woke. A resposta pública, dividida, mas menos ensurdecedora do que certos setores fazem parecer, os ajustes corporativos e os recuos midiáticos indicam um reequilíbrio em curso. A “maré mudou radicalmente”, como diria Trump: ser woke virou sinônimo de ser derrotado; ser republicano, pelo menos culturalmente, representaria o pulsar do realismo, do desejo coletivo por narrativas que falem ao bom senso e à estética descomplicada.