Por Aléxis Melo Nepomuceno*
O mundo de hoje está cada vez mais envolto em conflitos. Desde a queda do Muro de Berlim e o fim da União Soviética, surgiu uma onda de prosperidade e liberdade pelo mundo, previa-se que os povos teriam finalmente alcançado seu apogeu. Porém, mesmo com o avanço da internet, a interconexão entre nações e o fortalecimento do livre mercado, resultou em um mundo assolado pelo terrorismo guerras econômicas em decorrência do protecionismo do governo Trump, e guerras armadas na Europa e Oriente Médio.., como também, sobretudo, pela polarização política que permeia as sociedades ocidentais.
Dessa forma, inevitavelmente, surge o dilema, de como os seres humanos entram em conflito? Por que tendemos a enxergar outro grupo como inimigo? Ainda assim, por que continuamos a nos considerar um animal social? A resposta principal reside no sentimento primitivo de reconhecimento e inserção em um grupo — uma nação, um país. Entretanto, embora o convívio social pela necessidade inata de conviver em sociedade, seja um sonho, , cada indivíduo possui singularidades que o distinguem de todos os demais, sendo impossível agradar a todos.
O processo de socialização leva o indivíduo a desejar ser reconhecido e pertencer a um grupo . Infelizmente, nessa busca pelo coletivo, surgiram movimentos extremistas como fascismo, nazismo, socialismo soviético, fanatismo religioso e outras formas que consistem simplesmente , na supressão do indivíduo em nome do bem comum. Esse sentimento de pertencimento leva os indivíduos a enxergar como inimigos aqueles que pensam diferente, taxando-os de hereges, deturpadores e criminosos intelectuais.
Assim, o instinto de buscar reconhecimento , escraviza e priva a individualidade do ser, já que o coletivo define o que deve ou não ser seguido. Mas isso não se restringe a regimes ditatoriais: também se manifesta nas redes sociais e na cultura “woke” no geral . Se não são seguidas as regras impostas, não é considerado digno de pertencer ao grupo. Torna-se, então, um produto das decisões do coletivo, moldado pelos seus traumas e pelo ambiente em que vive.Entretanto, na maioria das situações, o ser humano age e pensa conforme o caminho pré-estabelecido pelo coletivo porque é mais cômodo do que traçar a própria jornada; acomodando-se nas verdades prontas em vez de buscá-las. De fato, a liberdade individual exige esforço — e custa caro — pois requer descobrir um modo de viver autêntico. Por isso, é mais fácil deixar-se guiar pelos outros do que caminhar sob as próprias pernas, evitando erros, falhas e sofrimentos decorrentes de decisões impulsivas.
Quando percebe-se que não se pode controlar a opinião alheia e que compete somente ao indivíduo determinar sua existência, assume-se o verdadeiro risco de viver. Buscar realizar o que se deseja não é sinal de niilismo, hedonismo ou materialismo, mas o reconhecimento de que a chave da felicidade está em si próprio. Compreender sua individualidade e responsabilidade inerente a raiva, tristeza e miséria, a opinião alheia se torna irrelevante.
Porém, o que isso tem a ver com grupos extremistas e coletivistas? Ao entender que não se pode culpar os outros pelos próprios erros, nem tentar satisfazer as vontades de todos — pois não se tem o controle sobre a mente alheia —, compreende-se a necessidade de viver de forma racional.. Essa ideia está presente no discurso de Milton Friedman sobre a produção de um lápis, em que, para a sua produção, se utiliza uma árvore dos Estados Unidos, para derrubar esta árvores, precisa de uma motosserra, que para construir precisa de uma siderúrgica de aço, que precisa de minério de carvão e assim por diante.
Dessa forma, segue-se uma linha de interconexão e disseminação do conhecimento para a produção de um único lápis.Isso fica, ainda, mais claro nas experiências dos Tigres Asiáticos, que adotaram a abertura de mercado, atraem investidores e empresas estrangeiras e trocam informações e mercadorias livremente, alcançando altos índices de riqueza e redução drástica da pobreza. Em contrapartida, países que se isolam , como Cuba, Venezuela e Coreia do Norte, enfrentam crises humanitárias, fome e escassez de recursos, pois a livre circulação de informações e mercadorias praticamente inexiste, bem como está sob controle das altas cúpulas governamentais.
Portanto, o poder que move o mundo está disperso e o isolamento em movimentos coletivistas apenas retardam a evolução da humanidade. Cada indivíduo é o único responsável por suas escolhas, pois não pode controlar as ações dos outros e, ao mesmo tempo, precisa das habilidades alheias para evoluir e construir um futuro melhor do que o de ontem — definindo, assim, a Ação Humana que Mises tanto defendia.
*Aléxis Melo Nepomuceno é Coordenador do Instituto Atlantos e Students for Liberty Brasil