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Promotores da Esperança

Uruguai Rio Grande do Sul

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Por Milena Waitikoski Pedroso*

Foi no final de abril que o meu estado, Rio Grande do Sul, começou a sofrer com chuvas extremas, enfrentando a mais grave crise climática de nossa história. Dos 497 municípios, 463 foram atingidos; mais de 155 pessoas perderam a vida; há 89 desaparecidos, e os feridos são mais de 806. A maior tragédia ambiental do Rio Grande do Sul atingiu mais de 2 milhões de pessoas. Cidades inteiras foram inundadas, pontes destruídas, estradas desbarrancadas, e estima-se que 540.626 pessoas foram desalojadas. Moradores abandonaram suas propriedades às pressas, muitos com água na cintura, outros foram resgatados de seus telhados na promessa de que logo voltariam para suas casas. A maioria permanece em abrigos.

Em meio à tragédia, a mobilização da sociedade civil demonstrou profundo compromisso com a vida. Igrejas, associações, centros comunitários e empresários atuaram efetiva e incansavelmente em resgates e no acolhimento de desabrigados. Ações voluntárias emergiram e iniciaram a recuperação da região muito mais rapidamente do que o poder público. Essa rápida resposta salvou vidas, diferentemente de bombeiros que não quiseram colocar os jet skis do governo na água suja, alegando que estragaria os equipamentos.

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Não me prenderei a criticar o Estado, mas quero chamar a atenção para a importância da descentralização na ajuda humanitária. O sucesso dos resgates de famílias e a arrecadação de toneladas de alimentos se devem mais à cooperação descentralizada da sociedade civil do que à centralização dos recursos nas mãos lentas do governo. A Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT), por exemplo, chegou a dificultar a entrada de caminhoneiros que traziam doações ao Rio Grande do Sul, seja por falta de nota fiscal, seja por excesso de peso nos caminhões. Foi somente quando a comunidade gaúcha denunciou essa burocracia sem-vergonha do governo federal que os caminhões começaram a ser liberados rumo aos necessitados. Da mesma forma, a prefeitura de Canoas só parou de se apropriar de doações privadas e editou o decreto que permitia a “requisição administrativa de bens particulares”, alegando que a papelada agilizaria compras de itens como colchões e água potável, quando cidadãos criticaram esse suposto confisco de produtos. A sociedade civil e a iniciativa privada assumiram o controle da situação, não somente na busca de agilidade, força, conforto e sobrevivência, mas também para impedir os abusos de poder.

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Em meio à urgência do agir, passamos a questionar o papel do Estado. Seriam a centralização excessiva de poder e a burocracia os obstáculos ao desenvolvimento e à resposta eficaz em momentos de crise? Será que um modelo mais eficiente para a gestão pública seria o de uma sociedade civil mais autônoma, com o apoio do Estado na segurança e na infraestrutura básica? Provavelmente, sim. Ao vivermos a maior tragédia ambiental gaúcha, ficou evidente o quanto a rigidez das estruturas governamentais cria atrasos na resolução de problemas, e que a autonomia e autogestão da sociedade civil são as ferramentas efetivas para o enfrentamento de desafios e catástrofes.

Através da capacidade de organização descentralizada e da ação espontânea de moradores dentro e fora das áreas impactadas, descobrimos indivíduos habilidosos, solidários e corajosos. Cidades estão sendo reconstruídas, e o nosso estado será reerguido por civis virtuosos, promotores da esperança. Homens e mulheres voluntariamente estão limpando e reconstruindo ruas, estradas e pontes, ajudando a consertar a rede elétrica e a infraestrutura de saneamento e tratamento de águas. Na tragédia sem precedentes que estamos enfrentando, descobrimos que a força do povo pode superar qualquer desafio. A elas e a Deus, é devida a glória neste momento.

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*Associada do Instituto de Estudos Empresariais: Milena Waitikoski Pedroso

Referências:

Aviso

As opiniões contidas nos artigos nem sempre representam as posições editoriais do Boletim da Liberdade, tampouco de seus editores.

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