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A moralidade do Egoísmo

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Bruno Wallace*

Adam Smith, ao abordar a passagem do padeiro, açougueiro e cervejeiro, em A Riqueza das Nações, implica: “Dirigimo-nos, não à sua humanidade, mas ao seu auto-interesse, e nunca lhes falamos sobre nossas necessidades, mas sobre suas vantagens.” Explora, assim, a composição das necessidades individuais e como o bem-estar pode ser estabelecido. Há, portanto, uma inflexão na qualidade dos valores que geram as trocas na sociedade, assim, sociedades que reconhecem o egoísmo têm menos assimetria de informação e aumentam a eficiência em suas trocas.

É de se espantar que o auto-interesse, ou egoísmo, um sentimento amplamente tido como ruim, ao entrar em contato com o egoísmo de outrem, se transforme em um bem-estar mútuo, com resultados positivos para os dois lados da troca. Traz à memória a “regra dos sinais”, em que o produto de dois números negativos se transforma em um resultado positivo. Dessa forma, tal sentimento coloca todos os indivíduos em igual posição: seres humanos egoístas, que utilizam o egoísmo do próximo para satisfazer suas necessidades, também egoístas. 

O egoísmo, porém, não é ruim, mas sim uma característica inerente ao ser humano que, em nenhum aspecto anula, sua contraposição, o altruísmo, portanto, os indivíduos podem ser altruístas e egoístas ao mesmo tempo, satisfazendo um princípio auto-contido, seja cultural ou religioso, uma vez que o desejo e necessidade de satisfazer esses princípios jaz no próprio egoísmo.

A valorização dos interesses individuais em uma sociedade constitui, inevitavelmente, as instituições que delimitam o funcionamento dela. Assim, uma sociedade mais auto-interessada tende a ter instituições que incentivam a competitividade nas trocas e uma divisão eficiente do trabalho, a fim de maximizar a sinergia em cada transação realizada e trazer ganhos materiais para ambas as partes envolvidas. Portanto, as trocas atingem um resultado de prosperidade financeira e crescimento econômico, uma vez que os agentes acumulam os resultados positivos de suas interações. 

Ayn Rand diz em um discurso que “Em uma relação saudável não deve haver vítimas” e que ser altruísta é uma atitude tola, desse modo ela explicita que a falsa carapuça altruísta é pior para a sociedade que o egoísmo puro e simples, uma vez que os reais incentivos do indivíduo não são mostrados com transparência, trazendo uma assimetria de informação e dificultando as trocas.

Entretanto, o egoísmo não é o único componente de uma ordem social, precisa-se de instituições sólidas e princípios morais que constituem sentimento de fellowship em uma sociedade. Logicamente uma interpretação cega de princípios objetivistas, sem composição e zelo por institucionalismo e contratos pode corroer uma ordem social. Os indivíduos egoístas devem zelar também por instituições operantes e transparentes, rechaçar a corrupção e o corporativismo, pois esses deturpam as trocas e aumentam os custos de transação dos indivíduos.

Desse modo, a interpretação estreita do egoísmo de Smith não é ruim para a ordem de uma sociedade e de um mercado, mas sim a falta da interpretação de outras literaturas, como John Stuart Mill e Douglas North, que trazem o institucionalismo, e adiciona-se aqui os clássicos e literaturas religiosas que trazem componentes morais do que seria uma cultura ocidental, com essa constituição ampla de egoísmo, instituições e moral conseguimos construir uma sociedade e mercados ordenados.

*Bruno Wallace, 21 anos, estudante de economia no INSPER e membro da UJL.

Aviso

As opiniões contidas nos artigos nem sempre representam as posições editoriais do Boletim da Liberdade, tampouco de seus editores.

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